Não houve o 1 de Dezembro de 1640, Portugal, tal como a Catalunha, continuaram a pertencer à coroa espanhola. Não existiu o 5 de Outubro de 1910, Portugal continuou a estar dependente dum poder de matriz sanguínea.
No início dos anos 30, em alguns povos do reino de Espanha, sobretudo na Catalunha e em Portugal, começaram a declarar-se alguns movimentos independentistas, libertários, socialistas, republicanos.
A ação desses movimentos progressistas acaba por fazer da Espanha uma república onde se manifestam as vontades de novas repúblicas e por ter um desfecho numa sangrenta guerra civil. Os republicanos são vencidos pelas forças fascistas, lideradas em Portugal pelo general Carmona e, no resto da Espanha, pelo general Franco que impõe uma república ibérica à sua medida. Este, assumindo-se como generalíssimo, acabou por conceder um poder territorial especial ao seu parceiro de armas português. Fica, no entanto, uma mancha no mapa da sua vitória, a Catalunha resistiu ao seu poder de fogo e conseguiu constituir-se como estado independente, reconhecido por muitos estados e tolerado por Hitler, ou reservado para intervenção futura.
Nos anos 70, adivinhando a morte e o fim do seu reinado, Franco achou por seu poder, deixar a grande Espanha entregue ao rei de coroas, filho da corte a quem permitira, até então, a sobrevivência num palácio maior, da província maior, Portugal, nesses anos vigiada pelo almirante subalterno, Américo Tomás.
Embora ressuscitassem, na altura, algumas manifestações republicanas e independentistas nas quais Portugal se destacava, fantasmas da guerra, apatias ideológicas e promessas de democracia, acabaram por viabilizar a nova monarquia e o filho do rei velho regressou ao palácio, palacianamente aclamado mas, naturalmente, sem votos.
O novo reino de Espanha preparou, entretanto, a sua entrada na CEE e, travessuras da história, acabou por ter de reconhecer a república da Catalunha e assinar a adesão à comunidade no mesmo dia.
Nos anos 10 do novo século, Portugal - que nunca se sentira bem com a sua consciência nacional por depender de famílias castelhanas - onde as ideias republicanas sempre tiveram expressão popular, onde o direito dos povos à autodeterminação sempre foi um direito querido, entra num processo independentista e proclama unilateralemnte a sua independência. Fortemente condicionado pelo capitalismo, pelo poderio bélico da comunicação social, pelo poder Bruxelas-Madrid, vítima de chantagem generalizada, o país fica suspenso.
Em outubro de de 2019, mais do que a hipocrisia dos senhores da Europa, que intercederam pela formação de novos estados da ex-Jugoslávia à ex-União Soviética, o que irritava mais os portugueses que reclamam a independência são as declarações dos governantes da Catalunha e, sem atenderem que as mesmas não traduzem necessariamente os sentimentos dos cidadãos que se fazem representar, dizem chateados:
-Puta que pariu os catalães!
6 comentários:
Mais uma excelente patada, excelência!
Um exemplo como se pode escrever História usando a lucidez e a capacidade de ficcionar.
Saúdo com entusiasmo grato - e com uma pontinha de inveja de que procurarei aproveitar o estímulo que a todos nos dás - a tua excelente e pedagógica "crónica histórica". Que, com ou sem permissão, irei divulgar.
Abraço
Majestade,
vossemecê é um brilhante cronista, disfarçado com régias vestes
ainda acaba mal... isto é, republicano e defensor da Republica Federativa Ibérica.
abraço
Vossa realeza
é tanto mais repúblico
quanto é o seu presunto
a que chama patada
direi eu
boa malha!
Não sei se há quem queira ser espanhol, se há quem prefira ser português, ou se há quem quira ser catalão apenas na segurança da Bélgica, mas eu continuo na minha: o sol quando nasce é para todos, por isso saiam da sombra...
Cumps
Excelente como sempre cidadão do mundo
Abraço
A História foi o que foi (e não o que é dela contado). E é o que está a ser... escrito por nós, contemporâneos.
O teu reanimar do excelente texto é muito oportuno.
Abraço
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