Depois de enterrada a tia Anselma, aqui contada recentemente, vasculhando o seu magro espólio, encontrei esta poesia que justifica a sua opção pelo celibato:
há homens de bom agrado
há homens de bom agrado
há outros são diabo
que aparecem às mulheres
em solteiros são tão lindos
mas aqueles lábios finos
em casados são colheres
nunca são o que parece
há homem que só se conhece
zangado e das avessas
quando briga com a mulher
chama-lhe aquilo que quer
esqueceram-se as promessas
há homem que é extravagante
por vezes é um moinante
passa a vida nas tabernas
quer é beber e jogar
e a mulher ir encontrar
disposta a abrir-lhe as pernas
em novos são ciumentos
em velhos são rabugentos
triste vida negro fado
não te metas em sarilhos
que aturar marido e filhos
é porca que torce o rabo
há homem que é um fascista
por vezes é egoísta
ainda meiguinho e a rir
mostra-se um bom camarada
faz da mulher uma criada
que ali está para o servir
eu tinha uma companheira
vivia também solteira
um dia perdeu o jeito
ao fim de um mês de casada
apareceu com a cara inchada
e um braço amarrado ao peito
rapariga se és solteira
e queres morrer de velha
vê-te bem a este espelho
estás a tempo não te cases
não dês conversa a rapazes
toma se queres meu conselho
ao falar-te deste assunto
se tenho vivido muito
pois foi sempre ajuizada
cá no meu entendimento
fiz porém meu juramento
de morrer sem ser casada
seja antero ou artur
quem os tiver que os ature
sempre disse e hei-de dizer
nunca me aventurarei
e só os aturarei
se algum dia enlouquecer
quero aqui escrito deixar
mulher que pensa em casar
traz sua alegria morta
deixo-te aqui recordado
este tão velho ditado
homens nem de barro à portaA todos aqueles que duvidaram da autenticidade da história, julgo que a forma e teor da poesia atestam que não inventei nada.
2 comentários:
Tennho sorte
não ser tua tia
caso contrário
nunca me casaria
Que se abra a caixa de pandora
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