quinta-feira, 11 de outubro de 2018

O Chouriço do Custódio



Albertina casou tarde e enviuvou cedo sem que lhe tenha vingado prole. Deixou-lhe o falecido, gado e fazenda suficientes para não morrer de fome e trabalho para não ter tempo para encantar outro de companhia.
Eram os dias em que teria de levar a porca ao porco e o porco mais falado daquele ano, era o do Custódio, casado e sem filhos, o qual levava por emprenhamento um chouriço por cria.

Levou, ciosa, o cio da porca aos currais do cobridor, com um baraço, uma verdasca e uma saca de milho para lhe acertar o caminho. Custódio abriu a porta, ajudou a empurrar a porca para dentro e fechou o ferrolho. Ambos ficaram de braços na cerca, de olho no entusiasmo do macho e no jeito da fêmea mas nada acontecia.

- Ó homem vai lá tu! - queria dizer ela encaminhar o porco ou ajeitar o rabo à porca...
 E, quando acabou de insistir pela terceira vez, riu-se de embaraço por ter reparado na asneira que repetira. Reparou também que Custódio desapertara o cinto e rogou-lhe por Deus:
- Ó homem não castigues o animal!
Quando o viu baixar as calças pensou para consigo:
- Ai este raio que me vai dar cabo da porca! Eu nem quero pensar o que ela pode parir!

Albertina resistiu por instinto mas acabou rendida pelo desejo sobre um carro de rodas onde ambos se envolveram em duas valentes...  - faltou-me agora o termo... ou rima!... mas já  agora que, como narrador, pus o bedelho no enredo, aproveito para um conselho:
- Albertina, lá por não os haver, não quer dizer que não te tenhas metido em maus lençóis!

Consumado o ato  humano, ainda em recomposição, espreitaram para o lado de dentro do curral onde, agora sim, os animais faziam a sua parte num infindável coito que ambos classificariam, em pensamento, como invejável.

As coisas aconteceram, as coisas acontecem e, ao fim de doze semanas, a porca pariu doze bácoros. Custódio não reclamou a dúzia de chouriços.
Ao fim de seis meses Albertina foi aos Doze com os leitões. Custódio, encontrou-a e disse-lhe:
- Albertina, que barriga é essa?!
Albertina, cúmplice do seu estado, fez silêncio.
Ao fim de doze meses, tinha o menino, portanto, já três meses, envergonhada por ter copulado com homem casado, Albertina continuava a recusar identificar o nome do pai, o que muito irritava os curiosos e ainda mais o padre que, como ministro da confissão, se achava no direito de tudo saber.

Mas, ao fim de trinta e um meses,  na Festa de Santa Madalena, deu-se o trinta e um:
Custódio, dirigiu-se a ela e referindo-se ao menino que  trazia ao colo:
- Então, como é que se porta o chouriço?!
Albertina, recordando o modo submisso com que se entregou sobre o carro de rodas, insubmissa, atirou de alto e em som para que toda a gente ouvisse
- Não me fodes outra vez! Um grande chouriço me saíste tu! Agarra-o que é teu filho!

Custódio ficou com o menino nos braços e chorou. A mulher dele, dando de caras com a cena, largou-lhe uma deixa de palavras coradas:
- Aí tens nas mãos o que eu, pelos vistos, não te consigo dar!

E o arraial animou-se de tal forma que ninguém foi julgado ou foi juiz, Custódio continuou a viver com a mulher, a mulher continuou amiga de Albertina, o padre renunciou ao celibato e casou com Albertina.

Hoje em dia, na aldeia, já ninguém vai com a porca ao porco, já ninguém vai estudar para padre e toleram-se com mais abertura certas paixões de ocasião. Contudo, mudados os tempos, o puto nunca se livrou de ter como alcunha "O Chouriço do Custódio".


3 comentários:

cid simoes disse...

Só tu!...

José Lopes disse...

Conheci um chouriço, por ser Isidoro de nome, mas este também está muito bem esgalhado...
Cumps

Sérgio Ribeiro disse...

O chouriço da viuva!
Bem contada estória apesar da falta da rima.

Um abraço.