Cinco quartos, quatro quartos de banho, três salas, duas cozinhas, uma churrasqueira, varandas, muros e mais janelas – grande como os sonhos. Ao lado, uma casa de duas águas cujo alçado principal deixa adivinhar o interior. Frente a uma das duas janelas, num banco de pau marcado por estios e invernos, está sentado um homem, marcado pela idade, com a mesma vontade de falar que outros homens e mulheres da sua idade que sentam em lugares idênticos.
- Naqueles anos ele tirava mais de duzentos contos por mês nas obras. Comprou um carro novo e pensou em fazer a casa para ver se arranjava mulher. Depois a coisa virou para o torto e teve de ir, os bancos não perdoam! ...
Conheço bem ambos. Do pai, foi minha mãe que me falou em tempos, quando na idade das perguntas a interroguei sobre a alcunha do Mato Grosso. Foi para o Brasil novinho e sozinho e voltou três anos depois tísico e teso que nem um carapau. Não o quiseram para a tropa e os pais arranjaram-lhe uma alcofa que o veio a safar.
Ela tinha muitas vinhas mas também bebia muito vinho, por isso e por casar com ele ficou-lhe a matar o nome de Grossa. Foi-se cedo e deixou o viúvo atado com o cachopo que, talvez pela vida e morte da mãe, demorou a tomar corpo e a falar direito. Na escola chamávamos-lhe o Tó Espinhas.
Quando saí do carro para cumprimentar o Ti Mato Grosso ele estava a pensar no filho. Imaginava-o a marinheiro num porto de Luxemburgo; imaginava-o num país tão grande como o Brasil a julgar pela gente da terra que para lá está; imaginava-o a arranhar no francês e a arranjar mulher; via-o a regressar contente num valente carro e com a situação resolvida; via-o a regressar de mãos a abanar como ele próprio regressou do Brasil; via-o sempre e era dele que gostava sempre de falar.
- Tu é que estás bem na vida! Quando ele andava contigo na escola, eu dizia-lhe sempre “estuda como o João! junta-te com o João! olha para o João!” … não quis e agora olha! Só gostava que ele cá estivesse quando eu morrer!...
- As coisas não são bem assim Ti Mato Grosso! Sabe que também eu tive muita vontade de emigrar!
Mas fiquei sempre muito agarrado ao meu país!
- Pois é isso que eu não espero dele! Que não se agarre por lá! Que volte! Parece que agora o governo até lhes vai pagar se regressarem! Que puta de políticos os nossos, vem um e diz vão, vão que isto não dá para todos! Outro dia vem outro e diz, venham, venham que são cá precisos! Vá lá a gente entender esta gente!....
Mas fiquei sempre muito agarrado ao meu país!
- Pois é isso que eu não espero dele! Que não se agarre por lá! Que volte! Parece que agora o governo até lhes vai pagar se regressarem! Que puta de políticos os nossos, vem um e diz vão, vão que isto não dá para todos! Outro dia vem outro e diz, venham, venham que são cá precisos! Vá lá a gente entender esta gente!....
3 comentários:
Diz ao Ti Mato Grosso
que leia, em voz alto, ao filho
o que o Mário ouviu
na barrica das maças
se o puto for como eu penso que é
dai a nada
tá aí
Parece que os conheço...ou alguéns parecidos.
eles os porcos, os políticos...
abraço
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