domingo, 12 de maio de 2019

EU?



Um pouco mais de europa – e somos nada,
Um pouco mais de espanha – e mais ninguém.
Para atingir, votámos na pior cambada...
Se ao menos soubéssemos votar bem... 

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Pegar ou largar? Em vão... Tudo é uma cota
Numa grande europa virada a outros mundos; 
E o grande país perdido em fundos,
O grande país - ó mar! - quase europa... 

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o progresso, quase a porta e a panaceia, 
Quase o princípio e o fim - quase a salvação... 
Mas no meu país tudo se remedeia... 
Entanto tudo não passou duma ilusão! 

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minhalma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve marca UE ... e tudo aproveitou... 
- Ai o desejo de ser - quase, igual aos alemães...
Nós falhámos entre nós, falhámos por vinténs,
Terra que não parou mas não avançou... 

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Anos de esperança que desbaratámos... 
Cidadanias que sonhámos alcançar... 
Direitos que perdemos sem os experimentar...
Tratados que nos trataram e não votámos...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Desse continente, encontro só imagens... 
Terras do interior – vejo-as defraudadas; 
E carteiras de políticos, sujas, recheadas, 
Passou o argumento de que eram só vantagens... 

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Numa esperança imberbe acreditando em tanto, 
Tudo construímos sem pensar pra quê... 
Hoje, resta-nos o betão do desencanto 
Das coisas que de tão grandes ninguém vê... 

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Listas de candidatos avançam sobre mim a fustigar-me
em luz.
Todo confuso, quero escolher... Onde votar-me? 
Um boletim para uma cruz
Que me leve, e eu escolho ficar...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...

Não é necessário lembrarem-me que não chego aos calcanhares de Mário de Sá Carneiro!
E eu quero por força ser burro...Que a um porco nada se recusa!!

1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Que bom me lembrares
que o poeta tinha calcanhares

Para mim
acabas de dar um excelente patada

Tu, regista
Eu, guardo
e não tarda nada
irei publicá-lo