sábado, 17 de outubro de 2020

Terra do Não

Lembras-te irmão, de quando eras flor...

e chamavam por ti e não respondias,

pela simples razão de que as flores não falam nem ouvem?

- Ah, agora eu compreendo:
o pai nunca mais cortou as uvas
desde que a mãe morreu!
De então para cá:
eu fui a Primavera do Sol desonrado
com a putez impotente do avô materno,
eu fui o Verão frio nas praias do mal,
o Outono assassino da tal lucidez...
e vem aí o Inverno,
e eu ainda não acredito no Natal...
- Não! Da vingança humilde aos cornos de marfim
e das rosas que deixei cair, não me arrependo!
- Quem pode acreditar que no sangue do amor navegue o ópio,
ou que na seiva das plantas o Sol se esconda para dormir a Noite?

- Eis-me chegado à Terra do Não.
Traído dei por mim no mar turbulento da civilização,
e naufraguei aqui,
Terra do Não...
- Aguardando a chegada de algas marinhas,
morrendo de mão dadas aqui,
Terra do Não...
Não!

3 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

«Quem pode acreditar que no sangue do amor navegue o ópio,
ou que na seiva das plantas o Sol se esconda para dormir a Noite?»

Fico rendido a esta bacorada!

TerraFria disse...

Náo foi, decerto, porque me apanhaste fragilizado pela morte de um Amigo,
não, não foi por procurar no que escreves que escrevas o Sim ou o amen,
não, ou talvez sim..., não porque não tenha esperado de ti uma coisa assim
não, meu amigo, este teu grito, berro, seja o que for, foi seta certeira
que sem surpresa me surpreendeu, me fez sentir teu compatriota nessa tua Terra do Não
enquanto não temos força (se alguma vez tivermos) para que seja a Terra do Sim

enfim

maceta disse...

quem melhor conhece a essência do verso é quem o desenha...