sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A propósito do congresso do PCP

A porca pariu doze bácoros. Fez criação. O tio Abílio não vinha cá há doze anos e trouxe a prima Augusta que nunca tinha vindo a Portugau. Depois do leite, os leitões foram tratados com lavadura, melão porqueiro e farinha pouca. Ficaram todos para engorda menos um. Mereciam os emigrantes um jantar de boas vindas que reunisse a família e assim se fez. Quando se trata de comer a malta está-se nas tintas para os vírus. O forno foi aquecido com lenha miúda de oliveira, o leitão foi morto com a faca de matar porcos, temperado e assado à moda da Boavista e saiu bem tostado. À mesa éramos doze e só eu era comunista. Seríamos treze se a prima Augusta não fosse vegetariana e tivesse estômago para olhar o  corpo e a face do pequeno porco, morto, pousado sobe a mesa, pronto a ser devorado pelos familiares que acabara de conhecer.

- E o Bolsonaro? Alguém disse e todos concordaram que em família não se fala de política. 

A prima Augusta chegou à mesa quando a carne já estava toda nas barrigas e ninguém ousou questioná-la pela mesma razão de que nunca se fala a um muçulmano em porco.

Na televisão barafustava-se contra a realização do congresso do PCP. O assunto saiu do écran para a mesa e todos barafustaram em favor do que era dito e houve até quem não resistisse a manifestar o seu conhecimento sobre a pandemia na Coreia do Norte. Ouvi também que um congresso não é a mesma coisa do que uma convenção.

Creio que estavam à espera que eu falasse mas eu, velho em conversas, apenas pensei para comigo: é preciso paciência!

Se eu não gostasse tanto de leitão nunca teria participado naquele jantar! Também gostava de conhecer e ouvir a Augusta, a prima das causas toleradas. Quem sabe, ao menos com ela, eu tivesse alguma hipótese!

Tirei daí a ideia e fui sozinho para casa a pensar: se eu por acaso apresentar alguns sintomas não me irão poupar!...

-Os comunistas! Os comunistas!... e lembrei-me dessa canção do Caetano Veloso... 

5 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Boa bacorada
mas para já
não digo nada

É que sou suspeito
pois sou delegado eleito

Zambujal disse...

Pois eu digo, porque só sou eleito suplente do delegado eleito...
Digo que é uma excelente bacorada... e que tal estava o leitão?
Por outro lado, lembro o dito do operário metalúrgico Jerónimo de Sousa, numa altura em que o estavam a sacanear - e estava ele do outro lado de lá do televisor, do lado de dentro -, quando ele, não podendo mais, soltou, suspirando em catarse: (o que vale é que) paciência é revolucionária (&%$%#=?»"!)! Só se ouvi o que está fora dos parenteses, se não ainda lhe caiam os parentes na lama.
Em suma, uma sentença do nosso rei (dos leittões) cheia de sumo... de limão!

Olinda disse...

E eu,que sou eleita suplente ao tal "congresso-vai-tudo-morrer-de covid",felicito-o pelo texto,pois os familiares devem ser achegados a outras ideologias.

Mar Arável disse...

A luta continua
Abraço

Mar Arável disse...

A luta continua
Abraço