A malta
estava naquela idade do "não é nem deixa de ser", em que o maior
divertimento da festa deixara de ser apanhar as canas dos foguetes e em que já
se podia desempenhar a tarefa de andar a colar os cartazes do programa da Festa
da Nossa Senhora lá da terra.
A nossa energia e habilidade deve ter sido reconhecida por um
filho de gente bem parecida lá da terra, estudante em Lisboa, que nos deu uns
trocos para que colássemos, pelas paredes lá da terra, uns cartazes dum movimento
revolucionário do proletariado cujo símbolo tinha uma foice e, se não me falha
a memória, um martelo.
E nós, já
noite feita como nos tinha sido recomendado, cumprimos a missão com o mesmo
entusiasmo e com a mesma inocência com que tínhamos colado os cartazes da Festa
da Nossa Senhora, apenas com a pequeníssima diferença de que agora não era Deus
que nos pagava mas um rapaz filho de gente bem parecida.
Durante o caminho de regresso do trabalho ficámos surpreendidos
porque todos os cartazes tinham voado - vento não estava e era boa a cola, de
modo que ali teria havido mão do diabo.
Na noite
seguinte, o gadelhudo mal parecido filho de gente bem parecida, veio ter
connosco, espetou-nos uma carga de porrada e espetou-nos na mão mais uma carga
de cartazes para que desta lhe fizéssemos a encomenda e que se não a
fizéssemos levávamos mais.
E quando íamos a meio da penitência, surge-nos um outro filho de gente bem
parecida lá da terra, reconhecido militante dum partido, cujo símbolo tinha, se
não me falha a memória, umas setas e espeta-nos uma carga de porrada.
Vi há pouco o cartaz dum bando de candidatos, cujo símbolo agora
também não interessa nada, e distingui entre os figurões, ombro a ombro e em
versão envelhecida, a cara de ambos os agressores desta história.
A conclusão do Zé será a de dizer que são todos iguais. Felizmente a minha não é essa. O episódio da minha adolescência, aqui narrado, levou-me a tomar opções que me permitem afirmar alto e claro: não sou igual aos outros nem aos que dizem que são todos iguais e depois...
2 comentários:
A vida ensina-nos muitas lições!
Tenho uma versão mais abrangente
sim, somos todos iguais
ou melhor,
devíamos ser mesmo todos iguais
(a porra toda é que não somos
é que
há muitos mais iguais que outros)
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