Não interessa quem foi o cabrão. A cabra, caprino único do agregado, teve uma cria. Habituou-se o cabrito a chegar-se à casa, a dar umas voltas na cozinha, a exibir uns saltos ou umas marradas, a levar umas festas ou uma couve, qual bichano ou cachorro tolerado pelos seus bons modos domésticos. Claro, quem puxava mais pelos seus dotes era a criançada e foi por esses convívios que o animal foi ganhando estatuto no meio familiar.
Até que um dia, uma Profissão de Fé e a exigente almoçarada que um ato desses exige, determinou o fim prematuro do cabrito. Fez-se discretamente o sacrifício, evitando a exposição às suscetibilidades dos mais chegados e, com idênticos cuidados, foi ao forno e chegou à mesa da festa abrindo os apetites.
Mas as crianças senhor, ouvem sempre melhor do que se julga. Aceitam as coisas como elas são mas...
- Não quero comer! Não como!
- Eu também não!
- Como não comem, meninos?! Olha-me estes agora!
- Não como a carne de amigos meus!
Talvez tenha sido por isto que nunca mais houve cabrito assado no forno naquela mesa.
4 comentários:
Ohhhhh...se era para darem esse fim ao cabritinho, não tinham permitido que a 'criançada' se tivesse afeiçoado ao bichinho. Essas 'coisas' marcam a infância para o resto das suas vidas.
Que interessa agora que cabrito assado não vá mais à vossa mesa? O estrago já foi feito!...
Tenho cá para mim que, à minha mesa, em Domingo de Páscoa, também não haverá mais cabritinho assado. Veja só o que me foi arranjar...
Bom resto de Domingo!
Para quem vem de entre os montes (como eu) cabrito ou anho era o que havia depois do frango e coelho e marchava tudo que era uma alegria!
Este teu conto
faz-me lembrar
a porca
que meus avós
tinham lá na quintinha
que só, de vez em quando
dormia na pocilga
Todo tempo,
passava na cozinha
seguindo os passos da minha avó
Chegada a hora
por cada dentada
um lágrima
(e todos os enchidos
foram oferecidos)
Hoje que é domingo magro, calhava bem um cabritinho para o Almoço!
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