Eu andava a fazer não sei o quê na Cidade dos Estudantes, mas lá andava, às vezes bem acompanhado e outras vezes só. A Praça, a da República, era o centro. Os degraus da entrada do teatro Gil Vicente eram bancada onde, às vezes, se fazia tempo ou se assistia ao espetáculo das pessoas a passar e reparei um duas, dois vultos tão familiares, assim, do nada, de idade suficientemente avançada para lhes amolecer o passo e para não lhes ficar mal as fraldas da camisa de avessas com as barrigas. Dois homens da terra, da minha terra, vestidos com a roupa da minha terra. Tinha fumado tabaco simples. Estava a acontecer um encontro inesperado de 1º grau.
Um triângulo de alegrias soltou-se dos nossos olhos, rimos os três do encontro improvável.
- Tu foste Deus que nos apareceu! Queres ver que esse carago existe mesmo?
- O Manel Pedro está para aí internado! Caiu-lhe uma barreira em cima quando andava a aproveitar saibro porque sempre teve a mania de aproveitar tudo! Está com uma perna amassada e a tomatada toda abrasada!
- Diz que é numa clínica assim e assado, que fica depois duns arcos e ao fundo dum jardim, como quem vai daqui não sei pra onde!
- Saímos da estação e viemos vindo, perguntando a este e àquela em cada rua, subimos esta avenida e se ela cansa! E pronto, estamos nas tuas mãos senhor doutor!
- Sim, já percebi, eu levo-os lá, bela surpresa tê-los aqui, mundo pequeno, coitado do ti Pedro! Não vai ser desta! Ele é Pedro, rijo como a pedra!
Um olhar interrogativo apontou um dedo polegar em vai e vem frente aos lábios, revelando sede. Nunca a Clépsidra havia aviado uma trempe de clientes assim!
Molhada a goela, seguimos caminho e lá fomos animar o sinistrado, eu, o Manel Bravo e o Aires Barreiro.
(O Aires Barreiro, popular muito popular da minha aldeia, aparece neste vídeo ao segundo 16', sentado no palco a cantar, com a banda do Manel do Barrocal, nas festas da terça feira da Páscoa - anos 70)
2 comentários:
Anos 70
ora bolas
um dia destes
provoc0 um encontro
Rogério, provoca-o, espero é que a lucidez não faça o desencontro. Um abraço pá! E obrigado pela regular atenção! Eu, já não me tenho, não tomo conta do recado! Um abraço pá, já pode ser tanto.
Enviar um comentário