sexta-feira, 23 de junho de 2023

A nora do meu pai



É sempre assim, um tipo anda há dias para pôr a escrita em dia mas há sempre um empecilho, uma indisposição, uma preocupação que lhe tira a  cadeira quando se vai sentar.  É a patroa que anda com os azeites, é o dente do ciso do mais velho, é a nota de francês da mais nova, é o clio que não passa na inspeção, é o raio do autoclismo que verte, é a vida do homem que tem de pensar em tudo.

E o carvalho do mundo em alvoroço, as notícias inquinadas por forças ocultas, as forças do mal contra as forças do bem, as guerras e a força do povo a esmorecer… Portugal sempre em crise… ai pátria minha! ai madre Espanha! mãe Rússia! ox Alá! ó Damasco! Deus queira! querida Europa! tirem as mãos da Venezuela! ai o corno de África! os norte-americanos são os maiores! alma eslava! só dois impérios à escolha!?  ai telha lusa! que não vales nada! como é que eu vou mudar o telhado sem dinheiro?!...

Falaria nestas coisas, se penso nelas!  Seria meu dever seguir a minha vocação revolucionária, nem que ela apenas se expressasse na dimensão menor dumas linhas escritas à altura do pescoço, entre o coração e a cabeça, entre o sangue dos soldados e o pensamento dos decisores.

Mas não! Não falarei no meio da algazarra dos meios de comunicação, das colunas de opinião e dos cafés! Sim! É incontornável! Há uma guerra que não se entende mas em que toda a gente é entendida. Agora já não são só os adeptos do futebol que já ouviram falar de Kiev! Já não são só os marques mendes, os marcelos e os rogeiros que sabem da coisa! Toda a gente tem aprendido muito com milhazes! O Costa também nos saiu um grande artista! Não tarda nada faz como o Durão! Vivam também Cristiano e o cristianismo dos seus fiéis!

 Talvez noutra temática eu seja ouvido:

- Porque é que os alcatruzes têm um buraco no fundo?!

Descobri, por mim próprio, a resposta, quando ainda não tinha idade para dar passo à mula que rodava a nora  e, dessa descoberta, conjugada com o funcionamento das engrenagens do engenho, criei, julgo, a vontade de em grande ser engenheiro. É claro que também o cultivo da terra, a rega, os regos de água, a água, me ajudaram a criar e a fazer-me filho do campo, homem do povo, filho da história e homem de máquinas. 

E aqui estou eu a escrever como um menino que quer ser revolucionário, como homem atento ao mundo, como um funcionário de expressão limitada, a perguntar, como um lunático ingénuo, a deixar uma questão: 

- Alguém mais, além de mim, ainda se lembra da razão pela qual os alcatruzes têm um buraco no fundo?!.......

Provérbio: Os homens são como os alcatruzes da nora: para uns ficarem cheios, ficam outros vazios. 

1 comentário:

Janita disse...

O provérbio responde à pergunta e diz a solução. 😊
Gostei da duplicidade do título.

O seu pai tem duas noras/ Uma é a sua mulher / A outra a que lhe rega as amoras.

Trago-lhe uma musiquinha alusiva à data, para quebrar a rotina.


https://www.youtube.com/watch?v=eCh12YiQfp8

Bom São João Dom Pata Negra!