A questão "és do Sporting ou do Benfica?" causa-me arrepios. Primeiro porque se esgota na dualidade, segundo porque quer obrigar a infância a ter partido, terceiro porque nunca a ouvi dirigida às meninas.
Quando tive um filho e ele começou a ficar, insistentemente, sujeito a essa pergunta, ensinei-o, assim que começou a verbalizar, a responder à altura.
Fomos contabilizando as sucessivas reações que nunca passavam da expressão facial de espanto ou embaraço. Esse ensinamento, ficou registado pró futuro num regresso de férias em que a meia noite se passou na saída da autoestrada. O portageiro dirigiu-se ao passageiro da cadeirinha amarrada ao banco de trás e procurando animar o seu ofício com os que passavam pela sua janela, questionou:
- Que menino lindo aqui vai! És do Sporting ou do Benfica?
E o menino, cansado da longa viagem, bem instalado debaixo da sua boina meia Che, meia Mao, respondeu num tom frágil e arrastado mas bem audível: - Sou comunista!!!...
O homem da portagem reagiu como os demais e passado uns tempos perdeu o emprego porque foi substituído por uma máquina.
Hoje, passados trinta anos, regressados de mais umas férias em família, uma família em que o pai é rei e em que nem a mãe é rainha, nem os filhos príncipes, em que ninguém é de ninguém, realizado o pagamento, ouvimos a máquina a desejar-nos "boa viagem" e não ficou sem resposta:
- Vai bardamerda! Queremos o portageiro de volta! Asna! Como "boa viagem"? Vimos a chegar!
A máquina falou mas não falou como o portageiro e também não ficou a pensar como ele:
- São comunistas!...
2 comentários:
Sempre há uma vantagem na substituição dos 'portageiros' pelas máquinas.
Pelo menos essas não pensam. ;)
Quando as máquinas tiverem consciência de classe...
teremos os portageiros de volta!
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