sexta-feira, 5 de abril de 2024

2ª feira da páscoa

 Lembro-me de, pixote, me interrogar do porquê de na minha aldeia, a Páscoa ser festejada na segunda-feira e concluir, infantilmente, que tal se devia às dificuldades de comunicação do princípio da Era que só permitiram que a notícia da Ressurreição chegasse no dia seguinte a lugar tão remoto.

Lembro-me de, pequenote, acordar todos os anos, nesse dia, com o ribombar da alvorada e levantar-me excitadíssimo com o entusiasmo de quem vai viver a data principal do almanaque do lugar.

Lembro-me de, já crescidote, tomar consciência de que a festa era diferente porque não metia padres e de ouvir a história da família excomungada porque permitiu que bailassem na sua eira.

Lembro-me de, rapazote, se ter de render favores ao mais rico para que ele cedesse a garagem para o baile.

Lembro-me de ir crescendo e vivendo com conterrâneos e contemporâneos num quotidiano em que era omnipresente o horizonte que iríamos atingir na próxima segunda-feira da Páscoa.

Lembro-me da festa começar a dar dinheiro e, como não é terra de santos nem os santos da terra vão com contas de vigários, se decidir que na terça-feira se esbanjaria em borlas de sardinha, broa, vinho, foguetes e concertinas, o líquido dos lucros da segunda.

Lembro-me de ganhar rédea a pisar povoações vizinhas e, ao dizer de onde era, se fazer conversa sobre uma festa única que qualquer amigo da folia conhecia.

 Que seja memória de todos que as Merendeiras ganharam fôlego de Festas com o 25 de abril. Com o 25 de abril nasceram coisas novas: esperança, força, união, povo, festa. Que tempos lindos esses, em que ainda mal se ouvia falar de futebol feminino e as festas da Cartaria começaram a ser animadas pelo jogo de futebol solteiras-casadas.



1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Se tens essa memória tão presente
não farás esforço algum para nos lembrares
o teu 25 de Abril

Espero sentado