quinta-feira, 11 de julho de 2024

Tudo está consumado

Não voltaremos às praias quentes do sul nem voltaremos a dançar valsas no salão da associação.
Nunca mais chegaremos a casa de madrugada procurando em todas as gavetas um cigarro vivo.
Não voltaremos a descer a avenida grande, ditando palavras de ordem, nem nos colocaremos mais à frente do piquete de greve.
Os nossos corpos não tinham o direito de nos trair mas não traímos os nossos filhos como os nossos irmãos traíram os nossos pais. Olha ó que nós chegámos Emanuela, se falarmos de paz à mesa de Natal, sentiremos o poder de fogo daqueles que cresceram na mesma lareira do que nós! Por incrível que pareça esta é a maior tragédia das nossas vidas, maior que o ar de dor dos hospitais, maior que a cruel consciência de que o fim está atrás daquela nuvem em que nos fazemos transportar em cada dia. Afinal nunca fomos deles, nem eles dos nossos.
Valha-nos o termos lido o suficiente para aprender a tirar prazer da claridade, do silêncio das noites que não dormimos, dos nossos filhos que ainda nos pedem embalo ao berço. Mas o maior prazer que aprendemos juntos, foi a gostar dos dias chuvosos: 
- Que bom! Hoje não está nada bom para sair de casa!...
Há uma parte em que sempre encontrámos o equilíbrio, nunca foste tão desbocada como eu:
- Eu quero que eles se fodam! 
E se os vires a chorar quando eu morrer, a tecer elogios de crocodilo, manda foder a educação, manda-os foder!

3 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Fique triste com esta bacorada...
e voltei a ler
e voltei a não entender

Afinal... o que está consumado?

Hugo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Janita disse...

Então, Monarca? Esmoreceu-lhe a vontade de escrevinhar?
Não sei o que se consumou, nem o que o consome, mas seja lá o que for se ficar ensimesmado, macambúzio e zangado com a vida, também não é vida. Por isso, vamos lá a arrebitar, para dar algum ânimo aos bacorinhos.
Força! :)