domingo, 10 de abril de 2022

Fumo sem fogo

Já lá vão seis meses que partiste

Sinto mais a tua falta do que no primeiro dia

Sinto mais a tua ausência que a de mim próprio

Nunca foste vício

Foste sempre companhia

Nunca tiveste preço

Foste sempre prazer

Condimento de copos vazios

Pausa das ideias para pousar na mesa

Contributo para a nuvem de salas cheias

Lubrificante da conversa

Paredes meias com o meu lado mortal

Foste o veneno da minha cultura

Companheiro de tantos pensamentos

Fôlego de versos paridos

Escudo de medos 

Máscara de desejos

Poluidor de beijos

Vidro entre lábios

Intruso  entre segredos

Tu entre os meus dedos

Mal maior

Mal menor

Índio Índio

Falarão da civilização que te respirava

Prenda aos ventos que te levaram

Nunca me foste moda nem efeito de cartaz

Nunca te comprei 

Deste-me a expressão

Símbolo da paz

Para sempre não

Mas se um dia me chegarem a condenar por ter confraternizado com poetas

E por réstia de humanidade me oferecerem um último desejo

Não me engasgarei na resposta:

- Quero um cigarro!



1 comentário:

maceta disse...

dizem que mata... quantas vezes foi o único amigo fiel e presente.

abraço