O fotógrafo rabeava à minha volta no pequeno estúdio, dando jeitos em tripés, projetores e na minha pessoa: gola, cabelo, cabeça, ombros e o raio que o parta, nunca mais estava tudo bem. E, na hora do passarinho, nem ele, nem a minha mãe, me conseguiram arrancar a expressão da lei: uma pessoa para ficar bem na fotografia tem de arreganhar.
Foi assim e assim continuou a ser em todas, conforme testemunha um quadro que tenho na sala com cartões de identidade da juventude: de estudante, da JCP, de militar, de sócio da ARCA, passageiro da CP, condutor de velocípedes e músico de cabaré.
Sou, portanto, um fulano sisudo, carrancudo, incapaz de responder com uma gargalhada a uma boa anedota, que só mostra os dentes se tirar a prótese.
A minha primeira foto tipo passe foi para tratar da documentação
da matrícula no ensino preparatório. A minha mãe lá foi toda contente, comigo
de má cara ao lado dela, e só voltou a dar um passo pelos meus estudos quando
foi com o meu pai a Coimbra carregar o carro com as minhas gabardinas e
sebentas. Foi então que me fez a pergunta: “Filho, que curso é que tiraste que
as pessoas perguntam-me e eu não sei dizer?”.
E o meu pai virou-se para ela, apontou para mim e observou
contente:
- Mulher, afinal ele ri!
Já com o canudo, tentei candidatar-me a tudo e quando candidato à Junta da minha freguesia, ao fim de horas de sujeição à tortura fotográfica, nem um dente brilhou na objetiva, pelo que os responsáveis da lista desistiram de mim com o objetivo de não afastar os eleitores.
Na verdade eu rio-me muito por dentro, a maior parte das vezes de
mim próprio e nunca me conformei pelo facto de tanta vezes me dizerem, com
descarada simpatia, que sou um mal-encarado. Também já me aconteceu rir com
amizades novas que me revelam: enganaste-me bem, afinal és um monstro de
simpatia.
A verdade é que o atributo de ter cara de poucos amigos,
prejudicou de tal modo a minha carreira e a minha vida, a ponto de me ir
reformar na mesma classificação em que comecei, cepa torta e de, com esta
bonita idade, ainda não ter passado do primeiro casamento.
Na verdade… a verdade… mirando a foto e o espelho… eu era e sou
bonito!
7 comentários:
E que Curso é que tirou, afinal?
Nenhum?!
A Janita queria saber qual foi o curso tirado em Coimbra. Pelo que tenho lido pode ser o mesmo que eu lá tirei, «Escritor Marinheiro». Estes profissionais são aqueles que navegam na net e escrevem umas merdas engraçadas nos blogs!
É importante o nome do curso? Neste caso julgo que serve Engenharia da Suinicultura!
Não, Tintinaine, o nome do Curso é-me indiferente. Tanto se me faz que fosse de Medicina Veterinária, como de Engenharia de Suinicultura.
Perguntei porque pelo risinho do leitão que nunca ri, fiquei com a ideia que devia ter sido um Curso de Passeante de Livros pelo Choupal e etc e tal, percebe?
Obrigada por ter vindo falar por mim e em meu auxílio.
Mas, sabe? Eu tirei um Curso na Universidade de Oxford onde me especializei com distinção em lidar com toda a espécie de bichos ufanos e altaneiros.
Um abraço para si.
Ufano e altaneiro, claro! É o Rei!
Mas isso das monarquias não é coisa própria da direita?
Pensei que vós, os apologistas da esquerda comunista, fossem contra todo o tipo de imperialismo...afinal, enganei-me!
Majestade,
Há coisas que nunca mudam
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