Hoje em dia, o colete
verde está para os peregrinos de Fátima como o colete encarnado está para os
campinos.
Ir a
Fátima a pé é uma nova forma de religiosidade que, na Fé do crente, redime o
absentismo pelas práticas tradicionais do ir à missa ao Domingo e à confissão, por
outras palavras, de andar à volta das saias do padre.
Fátima, à volta da Imagem da Senhora, tem-se “vaticanizado” e transformado numa
sucursal da Praça de S.Pedro onde os leigos, cada vez mais pecadores, se
ajoelham aos gestos do secular clero. Mas os padres de Fátima nunca foram bons
anfitriões do peregrino pedestre e a hotelaria local nunca lhe suportou o chulé,
embora, ambas as partes, os tolerem porque os reconheçam como um dos dentes da
chave do negócio.
Vêm estes parágrafos, aparentemente inconsequentes, à razão, pelas razões que
me atravessam a revolta quando vejo tanta gente caminhar perigosamente pelas
estradas, respeitosamente por Fé, incompreensivelmente sem a devida atenção ou
consideração pela parte das autoridades religiosas ou civis. Todo o apoio que
encontram pelo caminho, nasce da iniciativa de organizações ou movimentos que
nada têm a ver com os cofres ou com os lucros com que o negócio-milagre tão bem
se alimenta.
Reconhece-se que o peregrino de Fátima, português, caminha, antes de mais nada,
por penitência, que dispensa o conforto e tem Fé que do perigo a Sua Senhora o
livrará. Mas não seria a altura, agora que a indumentária refletora esconde o Portugal
pobre do século XX, dos chefes da Igreja e da governança terem uma pequena
consideração por esta gente?!
Sensibilização seguida de encaminhamento para caminhos e trilhos que os
desviassem do asfalto sem bermas, mapeamento de parques e albergues que lhes
permitissem dignas paragens e, se mais não fosse, apenas isto: um parque de
campismo e balneários na pequena cidade-fenómeno. Mas não, a Igreja reverteu
todas as esmolas para a maior obra de culto que se fez em Portugal desde o
Convento de Mafra: a nova Basílica. Não foi feita para o “pé de ténis chineses”
de quem chega a pé, foi feita para os japoneses, brasileiros e portugueses que
vêm com os pés limpos das alcatifas dos modernos meios de transporte e que
melhor servem os interesses do turismo religioso.
Nestes dias, entre os
automóveis viram-se muitas tendas e coberturas de plástico. Ao menos um parque
de campismo em Fátima! Nunca ninguém se lembrou!? É de bradar ao Céu!...
2 comentários:
Pois é, as caixas das esmolas são cada vez mais e maiores!
Olá Sr. Pata Negra,
Não vim aqui cumprir nenhuma penitência nem pedir a graça de nenhum milagre. Vim só pedir-lhe que me conceda a graça de ir lá ao meu pedaço para constatar a minha perplexidade e, quiçá, depois, esclarecer-me.
Agradecida.
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