sábado, 11 de janeiro de 2025

A ternura dos sessenta


A primeira vez que me sentei na sanita sem levantar o tampo, não estranhei.
Puxar do comando televisão para telefonar a um amigo foi porque me tinha esquecido dos óculos algures não sei onde.

Dos óculos afinal estarem no nariz, pensei: o olfato perde-se com a idade!

Chegar à cama e, em vez de vestir o pijama, voltar a vestir as calças de bombazina - pareceu-me estranho.

Dormir com os pés no travesseiro, pareceu-me cansaço.

Distrair-me 40 minutos no chuveiro, achei que era a descoberta de novos prazeres.

Pôr a espuma de barbear na escova de dentes - foi por dormir pouco!

Estar a pôr a chávena no frigorífico e procurar o leite no forno do fogão - foram outros pensamentos!

Dar por um par de cuecas a espreitar num sapato e reparar que um dos sapatos era diferente do outro – sou um despistado!!!

Passar três vermelhos - distrações da manhã! 

Cumprimentar o chefe por, então pá!? – não me pareceu normal!

Esquecer-me de almoçar – foi um mau pressentimento.

Não fazer a mínima ideia de onde deixei o carro – que dia de trabalho!!!

Mas, por engano, entrar no 3º esquerdo em vez do 2º; ouvir uma voz de mulher a gritar: “fui violada!”…

E da caixa das escadas uma voz tão familiar: Puta!!!... Putão!!
Já não foi entendido como sintoma da idade!… Foi traição! Fui traste!...

Ninguém acredita que estava convencido que estava a sonhar que estava a dormir encavalitado no meu único amor!

Entrei em casa, não se trocaram palavras, apenas reparei que todas as torneiras que pingavam há meses estavam reparadas.

Caraças da idade!


1 comentário:

Janita disse...

Mas que bacorada é esta?