quarta-feira, 19 de março de 2025

Um negócio sério

- Gostava que viesses comigo!

Eu tinha vindo a casa passar as férias de Natal de 75, sou de 62, tínhamos acabado de jantar, vesti a gabardine e fui com ele a pé, lugar abaixo, à casa de fulano tal que servia de intermediário de sicrano. 

Abriu-se a porta, sentar, beber alguma coisa, alguma conversa trivial e deu-se início ao ato de negociar. 

Não era um negócio qualquer como vender dois quarteirões de pinheiros, trabalhar à troca ou comprar uns leitões, íamos adquirir o primeiro automóvel da família. Já conhecíamos aquele Hillman de vista, as mãos do dono e a sua seriedade, sabíamos que era carro com condições para ir à Nazaré, à Batalha, a Fátima e à missa de domingo, o montante é que era o delas! 

Quando se chegou aos 13 contos o meu pai olhou para mim  e eu, primeiro pensei que ele tinha achado graça à coincidência de ser a minha idade mas não, ele estava a indagar silenciosamente pela minha concordância.

Fechado o negócio, voltámos para casa a pé, mas com carro comprado, e todos sentimos que havia mais um homem na família.  

Anos mais tarde, já o Hillman IMP tinha dado lugar a outro e não tinha direito a garagem nem a grande futuro, aprendi a conduzi-lo. Desafiei o meu pai para ir dar uma volta comigo nele:

- Conduzes bem! Acho que devias começar a pensar em  tirar a carta de condução!

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