domingo, 16 de março de 2025

8- A história incrível do casal contemplado com o euromilhões.

 - Mas nós não temos conta no banco!

Desta vez o homem alto e bem vestido não se riu, virou-se para a colega como que perguntando com é que vamos resolver este assunto. Sim, era evidente que nos próximos dias teriam de abrir contas, preferencialmente em vários bancos. Mas como poderia a Casa adiantar algum para eles pernoitarem em Lisboa e regressarem a casa?


A mulher baixa e bem vestida riu-se, virou-se para o colega como quem diz que encontrou a única maneira.

Saíram os dois por instantes e regressaram à sala para apresentar a única solução. Eles próprios, os dois funcionários, iriam ao multibanco e levantariam algum para lhes emprestar. Era só uma questão de se determinar a quantia e de assinarem um papel confirmando o empréstimo. Francisca e Jacinto não tiveram outro remédio se não concordar, prometendo que lhe duplicariam a quantia. Não seria necessário, responderam-lhes, mas além de lhes emprestarem algum líquido, iriam com eles a um hotel 5 estrelas, ali próximo, para ali pernoitarem e ali experimentarem os luxos da sua nova vida.


Os dois funcionários prometeram e pediram sigilo absoluto nestas combinações, não fossem os regulamentos internos arranjar-lhes alguma mancha na carreira. Não tinham dúvidas que estavam a agir por bem, embora não fosse muito normal, pobres desenrascarem ricos com dinheiro.


Riram-se os quatro do bom entendimento. Os felizes contemplados foram deixados no hotel, com o disfarce possível para os empregados não estranharem ou perceberem que se tratava de felizes contemplados com o primeiro prémio do euromilhões.


Sentiram incómodo por não haver maneira de esconder a sua origem e condição, provincianos pobres entre aspas, andaram pouco à vontade por circularem por espaços e tocarem objetos que lhes eram estranhos.

Na suíte foi diferente, ninguém os via. Testaram almofadas e colchões, espreitaram por janelas, miraram espelhos - para que é isto? como é que isto funciona? olha aqui isto! -tomaram banho, tentaram fazer amor, não conseguiram - mau! mau! – disse Jacinto - é muita emoção! – disse Francisca.


Desceram para Jantar. Nem aquela comida era para eles, nem aquela mesa e aquela toalha, nem aqueles pratos e aqueles talhares, nem aqueles jovens assim vestidos e com palavras a condizer. Se a fortuna por sorte os tomou, não seria de certeza para a esbanjar a frequentar locais daqueles e muito menos a comer coisas daquelas.

  

Subiram novamente, tentaram ligar a televisão não conseguiram, tentaram ligar o ar condicionado não conseguiram, tentaram novamente fazer amor não conseguiram, tentaram falar do dia de amanhã não conseguiram, tentaram dormir, só lá para as quatro da manhã.

 

Mas tinham conseguido responder à opção de tomar o pequeno-almoço no quarto. À hora combinada estavam à porta do hotel para se encontrarem com a mulher baixa e bem vestida. Esta havia-se disponiblizado para os acompanhar a uma agência bancária para abrir uma conta e nomear um gestor de confiança. Depois disso, dirigiram-se novamente à Santa Casa para tratar de mais umas burocracias e assinaturas e clarificar como se processariam as coisas nas próximas semanas.


Decorridas 24 horas tinham despachado o assunto que os tinha atormentado nos últimos dias e tinham arranjado dois amigos, um homem alto e bem vestido e uma mulher baixa e bem vestida, que estavam dispostos a ajudá-los no que fosse preciso, que os informariam por telefone do montante do empréstimo - somados os valores líquidos às contas feitas com o hotel - que se arranjaria forma de ser feita a transferência, que seria a dobrar! - repetiu Francisca para encerrar a conversa.


Como último favor, chamaram táxi para os ir buscar ao 194 da Avenida da Liberdade, com discretas despedidas para não levantar suspeitas.

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