quarta-feira, 6 de agosto de 2025

A invenção do cervejão

Para o enchimento duma placa convocavam-se todos os braços disponíveis porque a obra tinha de ser feita num só dia, de modo a evitar descontinuidades no betão armado, provocados por diferentes tempos de secagem.

Assim, o dono da obra, quase sempre emigrante que já juntara dinheiro para a casa nova, contava, para além dos mestres e serventes que levantavam a construção desde a raiz, com parentes próximos e afastados, com vizinhos e amigos voluntários, e ainda recorria aos jovens estudantes de férias que precisassem de ganhar para umas calças Lois.

Foi nestas funções que recebi os meus primeiros salários.

Aos mais velhos cabia normalmente a função de fazer a massa. Quanto mais pás e enxadas houvesse, mais rápido se fazia a mistura da areia, da brita e do cimento para, depois do monte feito, se abrir a cratera que se enchia de água para, em seguida, novamente as pás e enchadas misturarem tudo até o betão ficar bem amassado.

Os baldes com a massa eram levados pelos mais jovens até ao andaime onde os mais fortes os elevavam até ao patamar da obra, de onde outros jovens os levariam até junto dos pedreiros mestres.

Normalmente era verão, era normal que fizesse calor, quase sempre o suor escorria, muito se bebia mas só era tolerado que se estivesse bêbado lá para o fim do dia. A bebida oficial para tanta virilidade não poderia ser água ou laranjada mas, a bem do bom trabalho, também nem podia ser vinho que embebedava, nem cerveja porque não havia frigoríficos, pelo que inventaram uma bebida com um pouco de tudo isso e mais alguma coisa: o cervejão!


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