sábado, 11 de outubro de 2025

Porque ninguém se preocupou com as maças!


- Filho, se tiveres fome, podes roubar fruta, mas nunca roubes uvas, porque dão muito trabalho e são para fazer vinho!

E nós andávamos por lá, ao Deus dará, saltando regatos, espreitando ninhos, descobrindo buracos e paladares dos vales. Qualidades de maçãs não tinham conto: de três ao prato, de inverno, azedas, camoesas, reinetas, bravias, marmelas, eu sei lá! Golden? Isso é nome que se dê a uma maçã? Isso são apples!

A desertificação dos meios rurais, a praga dos incêndios e a sociedade do rentável acabaram com dezenas de espécies de macieiras. O desaparecimento de numerosas qualidades de maçã, que não se enquadraram na obrigatória cultura do pomar, de curas químicas e câmaras de frio, ou nas calibragens e brilhos comerciais, condenou-nos à nostalgia dos sabores.

Mas que prazer pode ter uma criança de hoje em roubar fruta se tem uma mãe que lhe descasca e parte em quatro a maçã Golden, e há na mesa da sala uma taça com fruta de plástico?

E assim chegámos aos tempos da indiferença, em que a única coisa que não suportamos é a diferença.

Que se lixem as maçãs de antigamente e, se para vencer os mongóis for necessário o apocalipse nuclear, que venha ele e que a gente morra logo, para não ter de sofrer com ele. Seja como for, a morte é certa e, se já não pode haver maçãs com bicho, está tudo perdido.

Há meia dúzia de anos era assunto central a preservação do ambiente, a ecologia e o aquecimento global. Os governos da “Europa” rica, a reboque das opiniões públicas, anunciavam medidas, canalizavam milhões e prometiam um planeta verde sobre azul.

Num abrir e fechar de anos, as opiniões públicas, a reboque dos governos da pobre “Europa”, já se estão marimbando para o plástico, a poluição e o calor. Não faz sentido falar nisso em tempos de guerra, de fumo negro, de destroços e de enterros. Ah! E depois de 80 anos a dizer Nuclear Não, se tiver de ser, que experimentem lá essas bombas maravilhosas! Afinal de contas, Hiroshima e Nagasaki continuam a ser cidades, e os generais desse crime não perderam as  medalhas!

Que se lixem as maçãs de antigamente e, se para vencer os mongóis for necessário o apocalipse nuclear, que venha ele e que a gente morra logo, para não ter de sofrer com ele. Seja como for, a morte é certa e, se já não pode haver maçãs com bicho, está tudo perdido. (Este parágrafo foi propositadamente repetido.)

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