Mostrar mensagens com a etiqueta Manifestação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Manifestação. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Vá, façam vocês em novembro!

Gosto de estar à beira mar sentado a observar, uma a uma, as pessoas a passar, de lhes medir os corpos, de lhes julgar o andar, de lhes estudar expressões e de especular acerca de quem são e de onde são.

Nada que não se possa fazer numa paragem de descanso de desfile de manifestação aos Restauradores. E estava eu ali sozinho nesse entretém quando uma senhora de 80 anos upa lá, de mala de senhora pela curva do braço, de vestuário bem encaixado na idade, muito mais baixa que eu, que não sou alto por aí além, encostou a sua isolação à minha e estendeu-me unicamente estas palavras, assim sem mais nem menos, sem boa tarde, sem adeus, ou quem és tu: 

- Eu nunca vi tanta gente em toda a minha vida! Ui Jesus, o povo que para aí vai! Venho lá de cima do Marquês e vem gente de todas as ruas, a Avenida é uma enchente, aqui é o que se vê! Credo Santo nome de Deus! Em toda a minha vida nunca vi tanta gente! 

E dito isto seguiu, de passos pequenos mas frequentes, para o Rossio. Não faço ideia de onde vinha, para onde ia ou porque estava ali. Nem sequer interessa se era manifestante, transeunte, se ia para sua casa que era logo ali, se dava a sua volta habitual ou se ia apanhar a camioneta para o Samouco. O que fiquei foi muito contente de ter visto aquela senhora entre tanta gente e de entre tanta gente ela me ter visto a mim e de ambos termos visto tanta gente como uma senhora nunca viu em 80 anos.

 




quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A Grande Manifestação Nacional do Dia 15 é feita de nós


Do outro lado da rua onde moro também há casas com janelas e, como é natural, há uma janela que encaixa mais no ângulo da minha janela. Como é natural,  estando-me nas tintas para que seja observado daquela janela, observo diariamente que atrás  daquela janela vive uma mulher que anda em casa de um lado para o outro, que às vezes fica imóvel e, que às vezes, vem à janela. Como faço esta observação há alguns anos, sei que aquela mulher, tal como eu, vive sozinha, tal como eu tem uma certa idade, que se está nas tintas para que eu espreite a sua intimidade e que também lhe é indiferente a minha. Sei também, do que tenho observado, que aquela mulher não tem gato nem tem cão.

No fim de contas, tal como eu, aquela mulher é uma das mulheres da rua, uma das mulheres da cidade, uma das mulheres do país, salvaguardando que eu sou tudo isso menos mulher. 

Não tem gato nem cão mas tem um bácoro. Sim, um bácoro! Vive lá para trás da casa mas, de vez em quando, escapule-se do quintal pela porta das traseiras, atravessa a casa e sai pela porta principal. Depois é esperar pela solidariedade da rua para que, cercado, se veja obrigado a fugir pela  única saída, que é  afinal a entrada do número sete. Eu, que vivo no oito, nunca dei um passo para a recolha e limito-me a observar a tourada da minha janela, desconfio que o leitão não é de estimação nem é sempre o mesmo. Se fosse o mesmo já seria um porco! Estou convencido que a mulher o cria para depois o comer.

Aparentemente esta história, esta janela, esta mulher poderiam ser indiferentes a esta rua, a esta cidade, a este país. Acontece que hoje mesmo, véspera do Bolinho, a mulher agitou, da janela dela para a minha, um chouriço enquanto me inquiria se eu queria um. Se fosse eu o ofertante poderia ser mal interpretado! Mas uma mulher é uma mulher e, em resposta ao meu aceno positivo, não tardou à minha porta com a oferta, não sem que trouxesse acompanhada uma pergunta:

- O senhor vai à Manifestação Nacional do dia 15?
- Ó minha senhora, nem o Bolinho a 1, nem o São Martinho a 11, o meu próximo grande dia é o dia da Grande Manifestação Nacional do dia 15!

Eu sabia que teria de ter alguma coisa em comum com esta mulher, alguma coisa que muitas outras mulheres e homens têm em comum! Homens e mulheres únicos na sua rua, na sua cidade, no seu país, na sua luta e  que, com outras mulheres e homens únicos, fazem uma rua, fazem uma cidade, fazem um país, fazem uma Grande  Manifestação.

- Só por isso, por ambos irmos, o senhor devia convidar-me para lhe ajudar a comer o chouriço!
- Vamos, temos de acertar o amor com que dia 15 vamos tratar da nossa vida e da Grande Porca!

Aparentemente esta história não tem sentido. Que importa as histórias não terem sentido se conseguirmos dar aos dias o sentido histórico que eles exigem?

domingo, 3 de março de 2013

Ontem foi hora

A propósito do post anterior: como de costume não acertaram nas previsões.
A propósito do post de hoje: estive, tive, gritê, cantê mas ninguém tinha a minha pronúncia nem ninguém vestia a minha roupa. Muita coisa poderei pensar, escrever, discutir, cantar mas não vou fazê-lo neste espaço. Haverá muita gente a fazer leituras, a tirar lições, a babar considerações, a contar quantificações e a  a fazer-me objecto.
Para o governo as manifestações não passam dum direito, para mim são mais que um dever!

sexta-feira, 1 de março de 2013

Até amanhã camaradas


Mais de 40 cidades em Portugal vão aderir amanhã à manifestação do movimento "Que se lixe a Troika", o que, nas previsões de Vitor Gaspar, significa que 100 pessoas em Lisboa, 50 no Porto e um casal de reformados em Braga se vão manifestar contra o Governo. Vítor Gaspar tem fé absoluta nestas previsões, que são secundadas pela "troika", apesar do FMI, menos optimista, reconhecer que, em Braga, o casal de idosos poderá ser acompanhado por um dos netos. VE
in Inimigo Público

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Uma questão de prioridades

Agenda para 16 de Fevereiro

Manhã: exame ao fígado em Coimbra para ver se ele está gordo; visitar a tia solteirona no hospital da universidade para ver se ela nos assina um papel; o Jorge, que tem gabinete na cidade, faz anos e quer pagar-nos o almoço para ver se ainda somos os mesmos.

Tarde: comprometi-me com o Zé que o ajudaria na poda da vinha do vale da porca; no final iria comigo na sua tratorinha roubar varas de eucalipto para reconstruir a estufa abalada pelo temporal; 
a mãe tem marcação para o cabeleiro; a míuda tem uma audição de piano às desanove horas; o rapaz diz que não abdica da aula de danças latinas.

Noite: às vinte temos marcada reunião da associação para fazer o balanço do Carnaval e preparar a festa da Páscoa; no final haverá um jantar de homenagem ao padre da terra que vai abandonar a vida religiosa; talvez dê para a malta ir com ele a um bar; "tens de vir fresco, não te esqueças que ontem nos esquecemos de festejar o Dia dos Namorados durante a noite!".

Ordem de serviço do cabeça de casal: 
- Desmarcar todos os compromissos para sábado:
- Vai toda a família! Podes ir despenteada, ela pode levar o mp3, ele pode levar o mp4! Para o meu fígado o melhor é levar uma máquina fotográfica de sete e meio! Prometo-te que quando nos deitarmos não adormecerei logo!
- E se a velha morre???!
- Tudo se resolve, de uma forma ou de outra mas há coisas que só se resolvem na rua!


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ó classe média põe os pés no terreiro


Parece que a classe média está em apuros. Parece que está perdida! Que não encontra a sua consciência. Parece que este ano é difícil ir ao Algarve.
Chegaram a aceitar que o ensino podia não ser gratuito porque tinham dinheiro para pagar! Pensaram que a saúde publica era coisa de velhos e nunca exigiram pediatra no serviço de saúde porque tinham dinheiro para pagar! Gastaram um horror de dinheiro no dentista porque tinham dinheiro para pagar!
- Porque devo eu contribuir com os meus impostos para os transportes públicos se vou no meu carro para o emprego?!
Ressalve-se, ganharam alguma consciência ambiental, lamentaram os incêndios florestais e habituaram-se a ir levar o lixo ao ecoponto.
Também no que toca a política internacional estiveram contra Saddam e contra o Bush e acompanharam tudo do sofá.
Deixaram de votar. - São todos iguais! São todos uns corruptos! Eu vivo razoavelmente! Nada vai mudar! Isso de votar é coisa de quem pensa que isto muda! Mas para que raio isto havia de mudar!?
- Votar em quem?! PS?! PSD?! Um dos dois há-de ganhar e nenhum deles me há-de levar a casa com aquecimento, o carro cinzento, a playstation do puto nem o emprego onde sou muito bom nos objectivos!
Quando as coisas começaram a piorar, pensaram.
- Sócrates? Coelho? Isto é a crise internacional! Menos cem euros daqui, mais irs dali, eu aguento! Eles vão resolver isto! Pois se eles estão a fazer tudo o que os sábios da economia e os empresários de sucesso dizem! Isto vai passar!
Mas, entretanto, parece que isto não vai parar!
- Não é filho?! Já se nota! Parece que os direitos conquistados pelos teus pais estão a desaparecer na cartola do coelho! Parece que está a ser difícil pagares o crédito da carrinha e explicares aos teus filhos que o dinheiro não nasce na caixa multibanco! Já não tens a certeza se para o ano terás emprego, por isso tens de estimar o teu patrão! Nada de ondas!
- Talvez os sindicatos sejam importantes! ... – começas a pensar!
- Mas essa coisa de greves é coisa de maquinistas! ...
- Manifestar-me eu?! Não sou nenhum operário! E também, o que é que isso vale?! Nem sequer dá na televisão!

Tenho as mesmas dúvidas que tu! Entretanto, convenci-te a ir! Tenho os mesmo problemas que tu! Convenci-te a acreditar! Fomos! Vamos! A alegria de sentirmos que não estamos sós! A força de sentir a força que temos e a que podemos ter!
Lindo! Vai valer a pena! Põe os pés na terra em que nasceste! Vem cá atrás para tomarmos balanço e irmos todos juntos!

São deles os hotéis e os aviões.
São nossos as ruas e autocarros.
Saíste do sofá, vamos vencer!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Gostava de encontrar estes dois tipos na manifestação

"seria ridículo os portugueses aceitarem os sacrifícios que lhes estão a ser impostos sem se manifestarem nas ruas ou sem greves"... "neste contexto, a população não sair à rua, é dar a ideia de que somos um povo de molengas. Pareceríamos "parvos, ou mortos"!
Julgo que quem disse isto foi o presidente da CIP - Conferência Ipiscopal Portuguesa - ao abrigo do acordo ortográfico.

Julgo que quem referiu isto foi o ex-presidente da CIP - Confederação da Indústria Portuguesa - ao abrigo do acordo da troika apostólica.
 
No dia 1 de Outubro, dia da manifestação, gostava de encontrar estes dois tipos na manifestação, um a reinvidicar como um sacrificado e o outro a distribuir cigarros  aos desempregados. Sei de fonte segura que nenhum deles vai estar. Sei que um é Van Zeller e o outro Policarpo mas é provável que lhe troque os nomes, as funções e as citações. Sei que são citações como as deles que me dão mais força para me manifestar. Sei que ambos vão almoçar nesse dia mas eu ainda não sei se almoço. Poderão até almoçar juntos mas tenho a certeza que não os vou encontrar à mesa nem na rua!


sexta-feira, 28 de maio de 2010

Amanhã sou todo Ave Nida

Porque amanhã é dia 29 de Maio só voltarei lá para meados da semana
Quem sabe se com uma palavra de ordem
Quem sabe se com uma foto
Quem sabe se com uma canção
Quem sabe se com um poema
Quem sabe se com mais um amigo
Quem sabe se apaixonado
Quem sabe se enfeitado
Quem sabe se com o nariz partido
Quem sabe se mais revoltado
Quem sabe se mais confortado
Quem sabe se saciado
Quem sabe se mais gordo
Quem sabe se mais magro
Quem sabe se num caixão
De certeza que voltarei cumprindo uma frase minha:
"tudo vale a pena se a alma não é pequena"

Não tenham medo, eu vou à frente!
(este post começou a ser comentado há três anos, espero que o seja por muitos mais)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Uma mensagem amiga

Todos à pala no dia B

A ideia é porreira, o problema, não sei se foi só meu, se também será de outros, é que o texto dá ideia de que o acontecimento que já decorreu, pois a primeira parte está no pretérito perfeito.
Que tal dar a ideia de que ainda não aconteceu, que isto vai avançar, a data existe e será anunciada em breve, e que acção irá decorrer certamente faça chuva ou faça sol e é algo sem retrocesso possível?
Uma cena mais mobilizadora, que motive e entusiame mais o pessoal. O texto quanto a mim está bom, mas punha-o no futuro/imperativo em vez de no pretérito - o título está perfeito.
Do estilo: "Milhares de pessoas vão concentrar-se no dia.... Todos levarão uma pedra... muitas levarão um megafone... etc. No final, qualquer coisa do estilo: Coloca este texto no teu blog e divulga a iniciativa, JÁ!
O pessoal gosta de ser estimulado, abanado, às vezes até mandado.É só uma ideia. O conteúdo do texto está perfeito mas na minha opinião tem que ser muito objectivo e incisivo e não deixar dúvidas do que se trata.

dum amigo internauta

Obrigado e que outros respondam à chamada.

sábado, 20 de outubro de 2007

Todos à pala no Dia B

Milhares de pessoas concentraram-se no dia B no Pavilhão de Portugal no Parque das Nações.

Grande parte dos presentes é autor de blogues que, saídos do espaço virtual, ali vieram fazer uma manifestação inédita.

Quase todos levaram uma pedra que colocaram sobre uma folha A4 no pavimento da pala do edifício. Cada folha que se foi pousando ao longo do dia, continha uma palavra de ordem dirigida ao poder, assinada com o nome do blog de origem. Podiam também ser vistas algumas pessoas que, de megafone em punho, discursavam as suas ideias criando um cenário que fazia lembrar o londrino Speakers’ Corner.

Não parece existir nenhuma organização formal por detrás desta iniciativa, tudo levando a crer que se trata de um movimento espontâneo, gerado pelas sinergias intrínsecas da blogosfera portuguesa. O presente texto terá sido divulgado entre os blogues, criando um efeito pirâmide que terá culminado nesta manifestação.

A assinatura de uma petição online e a colocação de selos de adesão nas barras dos blogs terá assegurado a viabilidade e o sucesso da iniciativa.


Divulga e trabalha este texto e verás no que isto vai dar!