Situação dramática a de certos plumitivos. Nem podem dizer a verdade, nem mentir. O abrigo protector das alegorias - maneira airosa, durante longos e longos anos, de iludir o poder e também as próprias capacidades de criação e indignação - desapareceu. Tinham-se especializado em levar a água ao seu moinho através das malhas da censura. E muitas vezes o conseguiram com mestria, honra lhes seja. O pior é que, diga-se o que se disser, o hábito acaba por fazer o monge. Uma vez caído o regime inquisitorial - e anuladas as condições que isentavem a coincidência do ser e do parecer -, ficaram sem pretexto para se furtar ao exercício da sinceridade.
(Diário XII -1986 - Coimbra)
Este é o terceiro post que aqui deixo do Diário de Torga, face ao compromisso a que me propus.
5 comentários:
E falamos, pois, de quê quando falamos verdade parecendo que falamos mentira?
Uma "classe" analógicamente actual que parece em vias de prosperidade, pelo menos até que sejam anuladas as condições do ser e do parecer...
Saudações.
Ficou a semente. O que é anterior, o ovo ou o bichito? Mas a coisa não é nada linear mesmo ... assim, há que dar cabo dos parasitas censurões.
abraço J.R.
O politicamente correcto é um modo de vida que combina bem com muito contorcionista que anda por aí. Será uma arte, dizem uns, mas nunca fiando porque não sabemos qual o senhor que servem em cada situação.
Cumps
Quintarantino
Eles falam mentiras parecendo verdades, nós falamos verdades que parecem mentira. É isso?
Um verdadeiro abraço
Marreta
Os plimitivos! Confesso que tive de ir ao dicionário, vou começar a utilizar esse termo.
Um abraço de classe
Moriae
Não só dos censurões, também daqueles cuja pena os serve.
Um abraço sem censura
Guardião
Por detrás de cada plimitivo pode existir um interesse obscuro, cabe-nos discernir...
Um abraço com discernimento
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