Gosto desta fotografia. Infelizmente não consigo identificar o autor mas identifico-me por completo na personagem: poderia ser eu, senão sou mesmo, esta criança - a idade, a estatura, o porte, a vestimenta, o olhar, o pensamento e aquela parede à minha frente.
No caso que recordo, e só isto me prova que esta criança não sou eu, a pichagem tinha escrito:
"Já não gosto das casas bem caiadas porque só falam delas. Gosto mais das paredes da propaganda
porque falam comigo quando passo por elas.
Ouçam só a algazarra que elas erguem:
- hoje há isto! – amanhã há aquilo!
- este é este! – este é aquilo!
- isto é isto! – isto é aquilo!
Só o poeta leva para casa a tinta macabra,
Só o poeta leu o que lá não estava,
E também o poeta levou uma palavra:
- VOTA EM MIM!
Uma rua é um livro,
Em cada folha, um dia diferente,
Em cada frase, um verso dizente
No caso que recordo, e só isto me prova que esta criança não sou eu, a pichagem tinha escrito:
O 1º DE MAIO É VERMELHO. O 25 de Abril tinha sido há oito dias e nós, putos do ciclo, ao fim de uma semana, já estávamos politicamente informados da razão porque não tínhamos tido aulas no dia anterior, tratava-se de um feriado que era proibido e que festejava o Dia do Trabalhador.
No Terreiro, em Leiria, havia um muro alto e branco e sobre ele pintaram com letras grandes e vermelhas a frase: O 1º DE MAIO É VERMELHO.
Eu e os meus camaradas, que regressávamos da escola, nunca tínhamos visto nada assim - escrever na parede?! Para quê?! E depois a frase parecia não ter sentido algum! Sim, ontem foi 1º de Maio, o tal feriado novo! Mas vermelho porquê?! Desde quando é que um dia tem cor?! Ainda por cima vermelho! Porque não preto, cinzento, verde, amarelo?!
É por esta história que eu sinto esta fotografia. Daí a meia dúzia de dias, as paredes pintadas deixaram de ser novidade e o país ficou colorido. Anos mais tarde, adolescente com gavetas de "escrivanças", eu assumia o gosto que os outros já reprovavam:
"Já não gosto das casas bem caiadas porque só falam delas. Gosto mais das paredes da propaganda
porque falam comigo quando passo por elas.
Ouçam só a algazarra que elas erguem:
- hoje há isto! – amanhã há aquilo!
- este é este! – este é aquilo!
- isto é isto! – isto é aquilo!
Só o poeta leva para casa a tinta macabra,
Só o poeta leu o que lá não estava,
E também o poeta levou uma palavra:
- VOTA EM MIM!
Uma rua é um livro,
Em cada folha, um dia diferente,
Em cada frase, um verso dizente
E uma parede por fora é de toda a gente!"
21 comentários:
Pata Negra
Belo post sobre o 25 de Abril
Olha eu fiz um texto arrevesado que pus nos 7 Pecados e no Moendo Café. No actual quadro "democrático" o espírito de Abril não aparece visível.
Abraço sempre
O 25 de Abril é uma data que pouco ou nada diz ao comum dos mortais. O feriado é bom, principalmente este que alarga o fim-de-semana. Os valores e ideais ficaram por se manter no mundo das ideias e deles pouco resultou em termos práticos. A plutocracia continua a reinar. E fico por aqui para não ser demasiado pessimista.
1 abraço de cravo na mão!
A Lídia tem toda a razão, quando diz que no actual quadro político, não faz sentido festejar o espírito sde Abril.
Para mim é tão iomportante este dia que apenas o festejo com a minha família. Só nós sabemos porquê...
Um abraço
Compadre Alentejano
Eu gostei do 25 de Abril durante alguns anos, infelizmente não muitos. Agora também gosto do 25 de Abril: hoje levantei-me às 9h45 e na próxima 6.ª feira terei que me levantar às 6h45. É obra...
Alberto Cardoso
Pata Negra
25 de Abril SEMPRE. "Podem arrancar todas as flores mas não podem impedir que a Primavera volte". (ditado árabe)
Abraço justo
25 de Abril Sempre.
O Povo Unido Jamais Será Vencido.
Porque a cor nada importa, a Liberdade sim é que eu comemoro. Reformado mas ainda em actividade, porque as massas estão curtas, também prefiro ser considerado trabalhador.
A propósito de "Queixa das Almas Jovens Censuradas" o José Mário Branco já está lá na caixa de música, prontinho a tocar.
Cumps
podem pretender quebrar as águas, mas o ribeiro nãp pára...
"Saímos à rua de cravo na mão sem dar conta que saímos à rua de cravo na mão a horas certas!..."
E foi assim que o 1º de Maio começou a "perder a cor"!
Mas queiram ou não, eu continuarei a vê-lo vermelho
Serei sempre trabalhador.
Viva o 25 de Abril do Povo
Viva a revolução
Abraço
Eu nasci 10 anos depois....Assim, presumo que nunca podia ter ficado na fotografia...Risssssssss
Abraço
Paulo
Boa malha!
E não é que o 1º de Maio é mesmo vermelho?!
O dos trabalhadores!... O dos colaboradores, não sei sequer se existe...
Abraço
Eu ia dizer que era trabalhador com muita honra, mas de repente lembrei-me que tinha estado 3 dias a descansar, enfiado na natureza e com a famelga ao lado. Bem, depois do trabalho também existe o descanso, não é? Amanhã volto a pegar no batente, que o dinheiro não cai do céu.
Abraço do Zé
Belo poema, belas recordações. O 25 de Abril foi feito de tantas vivências, todas em nova Liberdade. Agora as nossas cidades perderam as cores dos murais políticos e ficaram cinzentas. Como o este regime que as tornou anódinas.
Ponham de novo murais nas nossas cidades, nas nossas vidas.
Um abraço anarquista
Ausente que tenho andado por motivos de força maior, tirei hoje a tarde para visitar os meus amigos. Não me sobra hoje tempo para ler, com a atenção que preciso para comentar em conformidade.
Não sei se já sabes que estou em casa nova
--- sempre MEG recalcitrantemor.blogspot.com ---
onde espero receber os amigos sempre que o desejem.
O meu abraço amigo
Maio,maduro Maio,os que nunca te amaram,querem quebrar-te o encanto.Desenganem-se,os que assim pensam.Maio é do povo!
Viva ABRIL!
Viva MAIO!VERMELHO E VERDE!
Bonito! E o 1º de Maio é Vermelho, mesmo!
Um abraço e um cravo vermelho.
Ainda há quem lute por um Portugal melhor, e não se vergue à ditadura do dinheiro e das conveniências.
Cumps
no 25 eu estava... no quartel...
e hoje até parece que nem o alcatrão das ruas é nosso.
abraço
Uma fotografia que é uma referência para quem celebra Abril.
Abraço
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