sábado, 5 de julho de 2008

Menino pechisbeque

Não é meu lugar tratar coisas que toda a nossa blogosfera torce e comenta - pelo menos em cima do acontecimento! Gosto de digerir e averiguar se há alguma coisa a acrescentar!

Nesta linha, o caso do "Menino de Oiro" nem caberia aqui. Acontece que o PALAVROSSAVRVREX excede qualquer tratamento e o Joshua é um rico proprietário de palavras - este latifúndio que aqui deixo, de palavras, é dele. Ele, que muitas outras tem até nem se ver o fim! (baralhei-me com as vírgulas??)



As biografias de jogadores de futebol normalmente são medíocres em tudo.
Mesmo as dos treinadores de futebol o são claramente
(a de Mourinho estava gralhística e terrivelmente mal escrita)
assim como a de certos presidentes de clubes, que têm um péssimo estilo,
por muito que vendam. «O Menino de Ouro do PS» é um título claramente futebolístico!

A biografia autorizada de José Sócrates, o mais célebre optimista da nossa praça, não foge à regra. O quê? O biografado não é nem jogador, nem treinador, nem ex-amante de um dirigente desportivo?
Pois não, mas a lógica que subjaz ao livro é a mesma:
passar a existir, poder vender a existência,
forçá-la a todos, a essa existência, mitificar o saco de batatas.
E também exemplificar esses princípios batidos de auto-ajuda: Eu consigo!
Eu era obscuro mas tornei-me no primeiro Primeiro-Ministro profissional do Mundo.
Os outros são pessimistas e negativos. Mas eu sou optimista e positivo.
Ou outros não tentam e por isso não conseguem.
Eu consigo porque acredito, tento e luto.

O resultado? O resultado é a venda intensiva de livros
como aconteceu com Vitor Baía, Nuno Gomes, Carolina Salgado ou Figo,
as quais, biografias, como se sabe,
todas elas são rápida e extraordinariamente bem vendidas
e logo a seguir, por serem esquecíveis,
bem esquecidas em Portugal a não ser por cineastas e procuradores-gerais-adjuntos.
O resultado é atirar mais achas-porreiro-pá para a fogueira das vaidades espectaculares
em causa e produzir contraste com o que vai maioritariamente de oposto
nas bastas psiques de desempregados, desiludidos e falidos em Portugal.

KiWitorino e Dias Loureiro foram, histriónicos, ao show patético de lançamento
de este best seller anunciado, o primeiro perorando, dentro do seu habitual número de circo,
sobre o profissionalismo político do biografado, um precursor na matéria.
O segundo a atropelar-se nas palavras e a arranjar ideias para levitar
da maledicência e da malquerência públicas essa figura benfazeja para todos, o PM:
sofregamente o dizia tão hiperbólico que doia,
lembrando muito o muito inócuo e inexistente Alberto Martins,
líder parlamentar! E Dias Loureiro testemunha ter-se emocionado!
O homem relatou que se emocionou com o inesperado lado dos afectos do biografado!
«Papá, papá, já sou Ministro...» A emotividade e Dias Loureiro seriam outra Biografia!
Passar a existir, emergindo das cinzas da irrelevância, emociona qualquer um.
Aliás, demos de repente pela sua existência, pela de Dias Loureiro,
precisamente pelo que de magnífico e encomiástico teve a dizer do PM e da biografia,
ali na solidão pungente daquela sala às moscas.
Não consta que nos apercebamos dele em lado algum a fazer alguma coisa.
Pronto, há o Conselho de Estado. Mas agora sabemos que o zénite do fervor socratinesco
não está em Alegre e quejandos, não!, está todo em Dias Loureiro.
Cheira-me ao milagre das chantagens contagotísticas do QREN,
tendo em conta os bons comportamentos opinativos sobre o PM
como critério, na dúvida, para dele, do QREN, se beneficiar!

Mas afinal, o que é que se biografa aqui? O desrespeito pelas regras?,
pela clareza de processos?, biografa-se a política-espectáculo?,
a técnica da dilação?, do encapotamento?, das meias-tintas?,
da mentira e outros artifícios processuais?, uma certa pressãozinha?,
um certo controlozinho bem apertado?, uma certa deriva personalista e imagística?,
um certo não olhar a meios?,
um certo afrontamento estratégico de uma classe profissional de cada vez?,
uma certa forma de preservar os privilégios da nomenklatura sustentacular do Poder
alegremente dependurada anonimamente na Grande Teta Estatal?, como?,
onerando impiedosamente toda a gente!,
uma certa forma de “retórica” do Estado de Direito e do Social, mas só retórica?,
um certo optimismo e positividade exclusivamente fotogénicos?,
uma certa solidão providencial salazarística?, sim,
essa virgindade salazarística absoluta com que se afeiçoou ao Poder
e o contempla embevecido, compenetradíssimo, messianíssimo,
porque claramente sente ter desposado Portugal e que Portugal é todo Cio por ele,
é isto que se biografa aqui? Só pode ser isto que se biografa aqui!
A Eduarda Maio que me desculpe, mas o sucesso que auguro ao seu livro
é o sucesso da biografia do Emplastro, se lha fizessem,
a qual do ponto de vista da utilidade e do interesse gerais,
neste tempo de angústias e angustiado cerco geral a toda a gente,
seria tudo o que se encontra por aí ao preço da uva mijona.

16 comentários:

José Lopes disse...

À sexta não houve leitão? Estou desapontado. É certo que não faltou chafurdice de propaganda e de culto da imagem, quase ao estilo da Coreia do Sul, mas leitão que é bom, não!
Bfds
Cumps

Anónimo disse...

Caramba!
Parabéns pela clarividência desta análise ao "Menino de Oiro".
Não consigo imaginar o que a Eduarda Maio pretende conseguir com esta biografia. De qualquer forma, de todas as hipóteses que elaborei, nenhuma abona a seu favor.
Aproveito para referir um PEQENO pormenor: pessoa que me merece a maior confiança e que viu o «telejornal» da TVI de ontem, contou-me que a M. M. Guedes, que apresentava o dito, interrompeu a programada sequência de notícias para informar que a TVI havia recebido um telefonema da PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS a informar que, contrariamente ao que haviam noticiado, a biografia do “Menino de Oiro” não tinha sido AUTORIZADA. Como não acredito que o Conselho de Ministros tenha reunido de emergência para tratar deste assunto sou levado a concluir que o tal telefonema foi da exclusiva responsabilidade do Senhor PRESIDENTE DO CONSELHO (há quase 35 anos que não ouvia esta designação, que atemorizava o mais valente: Presidente do Conselho).
Para terminar, lastimar o título que a autora deu ao seu escrito.
A partir de agora, sempre que ouvir o Zeca Afonso cantar «O Meu Menino É D´oiro», ir-me-ei lembrar deste Presidente do Conselho, o que roubará grande parte do prazer que sempre tenho quando ouço o José Afonso.
Um abraço.

joshua disse...

Deixa lá, Rato. Eles não gostam de mim e ler-LER não é para todos. Bajular é que é para muitos.

O que importa é que o teu Quarto é o nosso Quartzo.

Abraço Forte

PALAVROSSAVRVS REX

Zé Povinho disse...

O ouro está pela hora da morte, por isso até têm imenso sucesso as lojas dos chineses e as peças de pechisbeque. Se merece um livro? Talvez, mas de sátira, ou de escárnio e mal dizer.
Abraço domingueiro do Zé

quink644 disse...

A propósito das notícias destacadas do DN, sugiro que passes os olhos no meu blogue em: "Polícias-espiões e muitos outros a fazer de tudo um pouco, para complementar ordenados que não chegam…"
http://porquemedizem.blogspot.com/

Para quem gosta de uma boa digestão
talvez tenha interesse...
Um abraço,

quink644 disse...

Desculpa lá, mas roubei-te a história dos direitos de autor das fotografias, se não gostares diz-me que eu tiro Ok?

Compadre Alentejano disse...

Ainda não li o livro e nem penso vir a fazê-lo, mas vejo que o título é de uma infelicidade muito grande. Cheira a foleirice.
Talvez ficasse melhor se fosse a biografia do Emplastro...
Um abraço
Compadre Alentejano

Abrenúncio disse...

Biografia por biografia sempre prefiro a do Índio, que era um gajo lá do sítio que enriqueceu (pelo menos o espírito) a vender artefactos de metal na rua Augusta depois de várias experiências por metropolitanos de toda a Europa. Mais ou menos um Jorge Palma, mas do alicate, em vez da música.
Diga-se de passagem que é uma auto-biografia, a única que , por acaso, li até hoje.
O Índio era também, por convicção, um auto-didacta em matéria de tóxicos, mas provavelmente também o mais brilhante cérebro que Portugal já conheceu depois de D. Sebastião.
A última vez que soube dele, não soube, desapareceu também como o seu brilhante antecessor.
Saudações do amarretadas.

Abrenúncio disse...

Saudações amarretadas, apenas. Sem o "do". Que fique bem claro!

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra
Também sou fã do Joshua que sabe dizer sobre as emoções humanas e o patético dum mundo caricato e decadente. Só neste contexto esse "menino de oiro" vinga.
Esperemos um novo ciclo mais construtivo com uma nova forma de avaliar.
Pata Negra, temos que ir à Pala.Gesto simbólico de que não morremos nem estamos a dormir neste circo gigantesco.
Abraço

Zorze disse...

" O menino pechisbeque ", brilhante meu caro.
Não me parece que desta os socialistas corram às livrarias para não deixar nenhum exemplar à venda. Como, por exemplo, o livro de Rui Mateus.
Este "oiro" já lhes interessa...

Abraço,
Zorze

Anónimo disse...

Coreia do Sul?! Culto da personalidade?! Não percebi.

Savonarola disse...

Uma biografia de uma impessoa? Milagre!

Um abraço anarquista

Anónimo disse...

... esse tipo de livros vendem porque ninguém se dá ao trabalho de 'scannear' e por na net para download. Hummmmm .... há histórias que não têm mesmo moral ;-)

Abraço,
M.

Anónimo disse...

Que me perdoe moriae: e a quem interessa ler este livro?
Ouvi dizer que um tal Zézé Camarinha também publicou a sua biografia. Aposto que o "garanhão" algarvio vai vender mais exemplares que o Menino d'oiro. Sabemos que o Zézé é uma besta. Mas, valha-nos isso, é um garanhão

Anónimo disse...

Alberto Cardoso,

não tem que pedir desculpa por nada :). Respondo simplesmente que: - por mim, esse livro não existe assim como o do tal algarvio que tb já deu que falar na TV. Bom ... nem é preciso ver assim tanta televisão ... deu nas vistas tal como este Zé que por acaso até é 1º qquer coisa deste triste e decadente país.

cordialmente,
M.