(Se não leu o Quarto 1, o Quarto 2, o Quarto 3, o Quarto 4, o Quarto 5, o Quarto 6, o Quarto7, o Quarto 8, o Quarto 9, o Quarto 10, o Quarto 11, o Quarto 12, o Quarto 13, o Quarto 14, o Quarto 15, o Quarto 16, este quarto não faz sentido)
Dorinha era já nossa há seis meses. Adalberta contou que fora para Braga fazer rua mas que não aguentava as saudades da filha e vinha buscá-la. Dona Graça não aceitava: “Dona Graça era a mãe, o João era o pai e as filhas eram as irmãs! O que a menina precisava era duma família!”
Adalberta não tinha desenvoltura para grandes argumentos e deixou transparecer pela conversa que, em troca de determinadas condições, permitiria a adopção. Prometeu que manteria contacto, que de vez em quando até podia enviar algumas lembranças e valores e rematou pedindo pernoita para uma noite.
Dona Graça desculpou-se que só tinha a cama do meu quarto, onde muitas vezes dormia também a Dorinha e que, portanto, esse assunto de dormir a noite dependeria do meu consentimento. Havia o divã da sala mas, naquela noite, estava reservado para o Carlitos que ainda não adquirira o estatuto para partilhar a cama com Tânia.
Senti-me encurralado. Que motivo que não soubesse a desculpa poderia eu apresentar para recusar o tecto a uma mulher só, pobre e desamparada? Afinal de contas eu, antes de ser homem, teria de ser humano!
Era meia tarde quando aconteceu esta conversa. Deixei a sala e fui estudar para o quarto. A pequena mesa em que estudava estava virada para a parede de modo que era contra a parede que eu estudava. Adalberta bateu à porta e pediu-me ordem para deixar ali as suas coisas. Continuei na malvada Estatística, enquanto Adalberta, na cama atrás de mim, mexia os seus parcos haveres. Pressenti que se despia, por respeito não me virei para trás, pensei – está a mudar de roupa!
- João, eu tenho de lhe pagar aquilo que tem feito pela minha filha!
- Ora essa Adalberta! Cada um faz o que pode e o que deve! -respondi sem retirar a atenção dos meus papéis. Adalberta dirigiu-se para um dos lados da mesa. Estava completamente nua. Não tinha corpo de se mirar, estava cheio pelo desmazelo, marcado pelo uso, desfeito pela ilusão. Fingi ignorá-lo. Percebi a oferta de Adalberta.
- Adalberta! Gosto da Dorinha e também ela tem feito muito por mim! A Dorinha tem a felicidade de ter uma mãe e a infelicidade de não poder viver com ela. Há coisas que não se pagam e há coisas com que não se paga.
A expressão e a pose da mulher que estava ali, de pé, a meu lado, transmitiam um caldo de emoções: não me teria feito entender completamente mas teria feito entender rejeição e ingratidão. Tinha tão pouco para me dar e, nem isso, eu aceitava.
“Estaria eu assim tão servido de mulheres? O tempo que viveu em casa nunca viu sinais de nada! Seria paneleiro? Seria fino demais para ela?” – imaginei-lhe estes pensamentos/sentimentos e continuei simulando o estudo. Sentia-me cruel por fingir ignorá-la e sentir-me-ia cruel se fosse aceitá-la.
Adalberta não tinha vida para meias medidas, gorda como era, não sei como se conseguiu enrolar por debaixo da mesa. Eu continuei a simular que estava a estudar.
Adalberta não tinha desenvoltura para grandes argumentos e deixou transparecer pela conversa que, em troca de determinadas condições, permitiria a adopção. Prometeu que manteria contacto, que de vez em quando até podia enviar algumas lembranças e valores e rematou pedindo pernoita para uma noite.
Dona Graça desculpou-se que só tinha a cama do meu quarto, onde muitas vezes dormia também a Dorinha e que, portanto, esse assunto de dormir a noite dependeria do meu consentimento. Havia o divã da sala mas, naquela noite, estava reservado para o Carlitos que ainda não adquirira o estatuto para partilhar a cama com Tânia.
Senti-me encurralado. Que motivo que não soubesse a desculpa poderia eu apresentar para recusar o tecto a uma mulher só, pobre e desamparada? Afinal de contas eu, antes de ser homem, teria de ser humano!
Era meia tarde quando aconteceu esta conversa. Deixei a sala e fui estudar para o quarto. A pequena mesa em que estudava estava virada para a parede de modo que era contra a parede que eu estudava. Adalberta bateu à porta e pediu-me ordem para deixar ali as suas coisas. Continuei na malvada Estatística, enquanto Adalberta, na cama atrás de mim, mexia os seus parcos haveres. Pressenti que se despia, por respeito não me virei para trás, pensei – está a mudar de roupa!
- João, eu tenho de lhe pagar aquilo que tem feito pela minha filha!
- Ora essa Adalberta! Cada um faz o que pode e o que deve! -respondi sem retirar a atenção dos meus papéis. Adalberta dirigiu-se para um dos lados da mesa. Estava completamente nua. Não tinha corpo de se mirar, estava cheio pelo desmazelo, marcado pelo uso, desfeito pela ilusão. Fingi ignorá-lo. Percebi a oferta de Adalberta.
- Adalberta! Gosto da Dorinha e também ela tem feito muito por mim! A Dorinha tem a felicidade de ter uma mãe e a infelicidade de não poder viver com ela. Há coisas que não se pagam e há coisas com que não se paga.
A expressão e a pose da mulher que estava ali, de pé, a meu lado, transmitiam um caldo de emoções: não me teria feito entender completamente mas teria feito entender rejeição e ingratidão. Tinha tão pouco para me dar e, nem isso, eu aceitava.
“Estaria eu assim tão servido de mulheres? O tempo que viveu em casa nunca viu sinais de nada! Seria paneleiro? Seria fino demais para ela?” – imaginei-lhe estes pensamentos/sentimentos e continuei simulando o estudo. Sentia-me cruel por fingir ignorá-la e sentir-me-ia cruel se fosse aceitá-la.
Adalberta não tinha vida para meias medidas, gorda como era, não sei como se conseguiu enrolar por debaixo da mesa. Eu continuei a simular que estava a estudar.
(Na próxima quarta há mais Quarto)
21 comentários:
Lá vem mais uma oferta que complica a situação e que até nem é especialmente apreciada. Que grande embrulho, Majestade!
Cumps
Vim ler a novela, que pena não a poder ver! Será que deu pra VªMajestade estudar alguma coisa no meio dessa confusão toda? Se eu estivesse no seu lugar tinha saído dessa casa mal fadada.Gostei de ler o modo como se portou, nem sempre o que nos oferecem deve ser aproveitado.
Um abraço elogiado
Luis
Vª Majestade assediado...
Que coisa lamentável.
No caso da Adalberta talvez a verdade sobre os seus pensamentos e atitude a dignificassem e lhe dessem uma lição de vida para o futuro.
Não aplaudo a mentira ou omissão piedosa em nenhuma circunstância. A verdade é sempre revigorante do espírito, mesmo que custe a ser enfrentada e dominada.
Um beijinho amigo
Maria
Muito rico este quarto. Gosta das elipses em que envolves o sexo...
O que é que a Adalberta foi fazer debaixo da mesa. Será que deixou cair a dentadura.
Ai, rosmaninho, rosmaninho.
Ainda gostava de conhecer o Rei ou, quem sabe, o seu caixote do lixo.
Até p'ra semana.
Eu acho que estás aí com um molho de bróculos, que vais ter que desatar de qualquer maneira...
Vou-te ar, entretranto, uma notícia que ouvi aqui por cima: a Adalberta sofre de epilepsia. Triste não é? E tu continuas a simular que estás a estudar...
Pata negra
Fogo! Com a Adalberta não! Não por ser pobre eprostituta mas por ser a Adalberta.
Abraço
muito bom e dizias tu que isto estava meio empancado, bom desenvolvimento.
Rotunda, rebolou e acoplou.
We have contact!
PALAVROSSAVRVS REX
Caramba, a Tânia estava uns degraus acima, e refiro-me tão só ao visual, pelo que a oferta actual não devia ser nada tentadora, mas que sei eu?
Abraço do Zé
Eh carapau! Tu eras era tímido, mas quando a coisa se começava a desenrolar tu não dizias que não!
Saudações do Marreta.
E, afinal, houve um encontro impróprio para cardíacos.
O folhetim está escaldante, fogo nele!...
Um abraço
Compadre Alentejano
Pata Negra
Neste ponto escaldante da história vim ver se já tinha acontecido o inevitável.
Vejo que ainda não.
Abraço expectante
Bons sentimentos, assim é que é! mas, ponho as minhas dúvidas que não lhe saltasses para a espinha caso o canastro estivesse mais bem estimado... de qualquer modo prevejo que vai mmarchar.
abç
Já agora que voltei por aqui, lembrei-me de referir : é claro que Vª Majestade quando viu Adalberta ajoelhar sob a mesa lhe disse - minha filha, chamam-me Rei, não só diante Deus se ajoelha !
Foi, não foi ????...
E se acaso ela lhe disse que para ela era Deus, diga-nos que respondeu que Deus não brinca em serviço, tendo por permanente tarefa cuidar das almas deste e doutro Mundo :-))))))))))))
rsrsrss
Bjs
Ah, e as mulheres nunca dizem isso - só Deus é Deus e acabou !!
:-)
Tadinha da Adalberta ...
Vossa Majestade tem uma sorte com as mulheres que tenho para mim que começasse Vª Majestade a frequentar os salões da Europa tudo em prol do desenvolvimento nacional até a Alemanha Vª Majestade colocaria de joelhos diantes de nós, ou seja de Vós, nós, oooh dóss pronto, acho que me compreendeu :)
Tão bom relê-lo...
Um beijinho amigo
Maria
Em tempo :
:)
... desenvolvimento nacional ,
e
diante , diante , não diantes ...
:)
Um beijinho, isto é o desgosto, por não ver a Alemanha por um canudo tal qual Braga :)
Um beijinho amigo
Maria
Fugiu para baixo da mesa para esconder o seu corpo rotundo, mas não desistiu por isso de tentar compensar o desvelo no tratamento da menina.
Cumps
Um outro registo.
Um quarto diferente... até ao último parágrafo.
Cheio de humanidade, de ternura, de compreensão pelo outro/a.
Gostei. Muito.
Um grande abraço
Numa situação dessas o que resta a um homem é simular...
Um abraço.
Gostei! Virei ler os outros 16 que perdi.
Bjs
Enviar um comentário