A cena da despedida não exibiu emoções mas certamente que nos cumprimentos cruzados, nos desejos de saúde, nas promessas de novos encontros e no “até qualquer dia” final, cada um pressentiu a hipótese mais certa de nunca mais nos voltarmos a ver.
Os abraços de despedida de Laurindo foram como se ele tivesse aprendido a abraçar com os abraços que lhe havíamos dado à chegada. O tempo curto da visita parecia que se tinha transformado em anos de vivência em conjunto.
Pelo retrovisor gravei a imagem de mãe e filho manuseando adeuses enquanto o Cossa, com o pescoço esticado para fora da janela e falando cada vez mais alto para vencer o crescendo da distância, deixava a sua marca com bocas desmedidas:
- Oh Laurindo, ainda hei-de ser pai dum meio-irmão teu!...
Só quando se perderam as vistas, o desbocado se acomodou ao banco e pôs o cinto.
- Ela ainda estragava meias solas!...
- Cala-te! Laurinda tem idade suficiente para saber que cão que ladra não morde!
Não viste que se despediram de nós como se fôssemos os únicos amigos, a única família que têm?!....
- Realmente parece que não vive aqui mais ninguém! Lá por causa disso não quer dizer que vás fora-de-mão!...
- Cala-te! Deixa-me arrumar os pensamentos e os sentimentos!
- Quais sentimentos, quais caralho! Por acaso morreu alguém?! Além disso, para teres pensamentos não podias ter essa cabeça de leitão! Paramos mas é na primeira tasca que eu vou com sede!
Esta excitação do Cossa, o seu exibicionismo palavroso e a fuga do assunto incomodavam-me mas eram um sinal de que ele também pensava e sentia.
Pelo caminho ligou à patroa:
- Oh querida, ao jantar quero sopa de carne de porco e arranja para mais um!
Depois de desligar virou-se para mim:
- Percebeste esta?! Mais um!... Mais um porco!.... Ah!Ah!
Boa sopa, bom serão, tudo bem temperado pela hospitalidade da boa companhia.
- Oh homem, estás sempre a pôr picante na conversa! Oh João, faço ideia, isso é que foi um dia a ouvir falar português!
- Acabei por ficar com os ouvidos rotos! Fiquei com a sensação que me entrou uma varejeira no carro e que, por demais que abrisse os vidros, nunca a consegui calar!
- Pois é, as varejeiras andam sempre por perto dos montes de merda!
- Cala-te homem dum cabrão! Sabes lá João, o que é viver a vida inteira com este raio!?
- Não adianta esticar a conversa! Já chega de asneiras! São horas! Agora já só cá volto quando a fábrica fechar!
- Raios te abrasassem!
Os abraços de despedida de Laurindo foram como se ele tivesse aprendido a abraçar com os abraços que lhe havíamos dado à chegada. O tempo curto da visita parecia que se tinha transformado em anos de vivência em conjunto.
Pelo retrovisor gravei a imagem de mãe e filho manuseando adeuses enquanto o Cossa, com o pescoço esticado para fora da janela e falando cada vez mais alto para vencer o crescendo da distância, deixava a sua marca com bocas desmedidas:
- Oh Laurindo, ainda hei-de ser pai dum meio-irmão teu!...
Só quando se perderam as vistas, o desbocado se acomodou ao banco e pôs o cinto.
- Ela ainda estragava meias solas!...
- Cala-te! Laurinda tem idade suficiente para saber que cão que ladra não morde!
Não viste que se despediram de nós como se fôssemos os únicos amigos, a única família que têm?!....
- Realmente parece que não vive aqui mais ninguém! Lá por causa disso não quer dizer que vás fora-de-mão!...
- Cala-te! Deixa-me arrumar os pensamentos e os sentimentos!
- Quais sentimentos, quais caralho! Por acaso morreu alguém?! Além disso, para teres pensamentos não podias ter essa cabeça de leitão! Paramos mas é na primeira tasca que eu vou com sede!
Esta excitação do Cossa, o seu exibicionismo palavroso e a fuga do assunto incomodavam-me mas eram um sinal de que ele também pensava e sentia.
Pelo caminho ligou à patroa:
- Oh querida, ao jantar quero sopa de carne de porco e arranja para mais um!
Depois de desligar virou-se para mim:
- Percebeste esta?! Mais um!... Mais um porco!.... Ah!Ah!
Boa sopa, bom serão, tudo bem temperado pela hospitalidade da boa companhia.
- Oh homem, estás sempre a pôr picante na conversa! Oh João, faço ideia, isso é que foi um dia a ouvir falar português!
- Acabei por ficar com os ouvidos rotos! Fiquei com a sensação que me entrou uma varejeira no carro e que, por demais que abrisse os vidros, nunca a consegui calar!
- Pois é, as varejeiras andam sempre por perto dos montes de merda!
- Cala-te homem dum cabrão! Sabes lá João, o que é viver a vida inteira com este raio!?
- Não adianta esticar a conversa! Já chega de asneiras! São horas! Agora já só cá volto quando a fábrica fechar!
- Raios te abrasassem!
11 comentários:
Decididamente o Cossa e tu não estavam nada bem, primeiro não se abrasa um porco com um raio, é com palha, e segundo, despojaste, gosto desta palavra, des-po-jas-te, a fábrica de qualquer título, que raio de mau feitio.
Não se devem nomear as despedidas, todas as despedidas são iguais e sem títulos, de todas elas esperamos que não sejam definitivas...
Então Majestade ?
Nós estamos a ficar entusiasmados com a vossa viagem e queremos mais histórias destes personagens, que têm tanto a ver com algumas histórias das nossas famílias, e afinal vocês vêm de viagem com um humor tão ácido ?
Jantem lá, e comam bem e deixem-se dessa ideia «ideia de jerico» de fechar a fábrica.
Conto consigo, para esta missão.
Um grande abraço
Nocturna
Quando o leio sou perfeitamente capaz de imaginar e por isso quase vivenciar estas cenas. Quando se está com determinadas pessoas que nos são queridas e em perfeita comunhão, dizem-se muitas destas coisas, não existe travão para os impulsos nem para os sentimentos! Lê-lo é sempre, para mim, um momento hilariante e de boa disposição!
Um abraço.
boa conversa animada repleta de boas carne.
abraço
Não há como as amizades de antigamente, perduráveis no tempo e...no espaço...
Um abraço aos dois
Compadre Alentejano
O Cossa aproveitou para recordar a vossa majestade que o português vernáculo ainda se usa e só por vergonha de certas almas púdicas é que não teve a devida influência no Acordo Ortográfico, eheheh
Abraço do Zé
Grande......muito bom!!! Abraço
Majestade ficamos todos a compreender que quando Vª Majestade alinha os pensamentos, qualquer coisa lhe sai de mão.
O importante é que não perdeu o trilho ao seu percurso, seguiu a estrada certa de volta à Fábrica.
E se essa era a sua vontade, nada poderia sobrepor-se a ela.
Um beijinho amigo
Maria
Bem,a despedida provocou um certo mau humor,a sua Magestade.Talvez,porque preveja,ser esta a ûltima visita aos Laurindos.Ou,porque as despedidas,entre amigos,sao sempre depressivas.
Um abraco
Quantas vezes os palavrões servem para esconder o que se sente...
Abraço do Zé
Enviar um comentário