segunda-feira, 14 de junho de 2010

A bola é redonda

nós que... acabávamos os trabalhos de casa à pressa para ir jogar à bola;
nós que... éramos obrigados ao "guarda redes avançado" ou a "quem tiver perto defende".
nós que... obrigados a "guarda redes avançado" perguntávamos "e passar de meio campo vale?";
nós que... quando se faziam as equipas se fossemos escolhidos em primeiro sentíamo-nos os maiores;
nós que... sendo escolhidos em último estávamos destinados a ir à baliza;

nós que... tínhamos sempre um apelido de um jogador importante para nos sentirmos mais fortes;
nós que... quem chegar primeiro aos 10 vence;
nós que... fingíamos não ouvir as nossas mães a chamar quando começava a ficar escuro e depois havia sempre alguém que dizia "quem marcar ganha!" mesmo que o resultado tivesse em 32-1;
nós que... vivemos o terror das botas caneleiras;
nós que... tínhamos ténis sem marca que faziam bolhas nos pés;
nós que... percebíamos o sentido das camisolas alternativas quando víamos TV a preto e branco;
nós que... tínhamos de deixar jogar o dono da bola mesmo que fosse uma nulidade e não quisesse ir à baliza;
nós que... "falta um, posso jogar?" ... "é pá não
 sei, a bola não é minha...";
nós que... "posso entrar?" ... "tens de encontrar um par porque se não ficamos com um a menos";
nós que... as balizas eram feitas com o que houvesse à mão;
nós que... mesmo vivendo um pouco longe uns dos outros, saímos sempre de casa com a esperança de encontrar os amigos com a bola debaixo do braço....
O essencial deste texto  circula pela web com diferentes adaptações sendo difícil identificar o autor. Pareceu-me honesta a referência que liga a sua origem à tradução de um e-mail em italiano. Eu também abusei mas deixo o mérito ao autor desconhecido que, se der por isto, que se acuse!


agora o futebol é outro, muito mais interessante e alienante,
agora praticamos o desporto, de média na mão, frente à TV,
agora é muito importante saber quanto ganha o jogador, 
- é também muito importante que o puto tenha como referência o Cristiano Ronaldo!
- o puto não dá na escola mas ia ser um grande jogador se não fosse uma lesão!

há violência?! paciência!
há corrupção?! onde é que não?!
é ópio do povo?! é ócio e distracção!
é só para homens!? também o sacerdócio! 

nos próximos tempos estamos todos a olhar na direcção do Cabo das Tormentas a pensar em Portugal, como se Portugal se reduzisse a uma equipa de futebol, como se fosse possível cumprirmos aí nosso sucesso pessoal e colectivo.
Não confundam futebol com patriotismo! Estou-me nas tintas para o lugar de Portugal no festival da canção!
Estou-me nas tintas para o futebol! Serei pouco homem?!

7 comentários:

antonio ganhão disse...

Com essa do sacerdócio me convenceste!

Ferroadas disse...

Para este futebol corrupto, também me estou a cagar. E não me venham dizer que é o nome de Portugal e essas tretas. Não gosto deste futebol, como não gosto do Sócrates, do Cavaco ou de outros f. da p. congéneres, não gosto, pronto.

Na tua peça (digo post) faltaram os gajos, que tal como eu, tinham de jogar descalços, pois os sapatos eram só para o domingo e era quando era.

Abraço

José Lopes disse...

Nunca fui um craque, mas à defesa cortava tudo, até umas quantas "canelas" porque a pouca habilidade tinha que ser compensada. Jogava sobretudo na praia e o banho era alimesmo ao lado. Desporto puro, com que se passava o tempo e convivia-se com os amigos.
Sempre preferi o basquete e o volei, mas fazia-se uma perninha em todos os jogos e brincava-se sempre que se podia, ainda que depois em casa...
Cumps

Marreta disse...

Epá, eu sou do tempo do "futebol urbano", as balizas eram os carros (na altura não havia muitos, ou melhor, havia poucos e era necessário esperar que existissem pelo menos 2 carros estacionados na rua para fazer 2 balizas), o esférico era muitas vezes uma garrafa de lixivia vazia, ténis?, eram capaz de ter esse nome, e depois era tudo à molhada e sarrafada de 1/2 noite. Quando chegava a casa tinha sempre uma garrafa de álcool de prevenção. Quanto ao jeitinho, eu até era dos melhorzinhos, motivo pelo qual jogava sempre à avançada, a ralé era sempre para a defesa e os abaixo de ralé para a baliza, e depois ainda existiam os outros que não cabiam nas categorias referidas e que serviam de apanha bolas, ou apanha garrafas, ou mesmo apanha porrada!
Eu também me estou a cagar para o Festival da Canção (a da Eurovisão), mas de futebol gosto, aliás adoro, independentemente doss ordenados milionários, do dinheiro em jogo, de toda a podridão que gira em seu torno, do espirito que originou a sua criação estar completamente deturpado. Mas, não há nada a fazer, gosto de desporto, de futebol, de râguebi, de atletismo, de natação, de bilhar, de ténis de mesa, de matraquilhos, de flippers, de carica, de guelas, de minis, de caracóis, de caracoleta, de tremoços, de tinto, de cozido, de feijoada, de..., mas não me conseguem alienar!

Saudações do Marreta.

salvoconduto disse...

O sacana do Feijoeiro jogava sempre, era o que tinha a melhor bola do bairro, ainda por cima jogava a "arrebenta canelas".

Caracóis não digo, muito menos caracoletas, mas umas moelas bem condimentadas ou uma punheta de bacalhau à maneira, desde que as bejecas não faltem, ou então um maduro tinto, e garanto-te que sou capaz de ver os golos quando dá a repetição, que até eles gritarem golo, estou com mais atenção no conduto e nas bocas...

Ferroadas disse...

Começamos bem, pelo menos não perdemos.

Abraço

MARIA disse...

Nas tintas de que cores, Majestade ?
:)
O cenário é negro, mas com a escuridão criada é difícil saber por onde caminhar...

Um beijinho amigo