Ouviu um carro parar na rua. Ouviu conversa de saudações. Seria Xésus Agrelo a cumprimentar a neta? Não seria de boa educação ir espreitar à janela. Bateram à porta.
- Eh lá! Já?! Queres ver que tenho de ir conhecer, beijar já a moçoila e atirar-lhe à vista o brilho sedutor dos meus lindos olhos?! - pensou, caminhando determinado em direcção à porta de entrada.
Puxou o trinco. Abriu. Surpresa!!!...
Os olhos embaciaram-se, engasgou, embranqueceu, apoiou-se na porta, tremeu e abanou todo ele, traído pelos pés que se enfiaram os sete, como um rabinho, entre as pernas.
Era Marie acompanhada por um homem. Outro?! Não, o “mari”!
Um a um, escorregaram das massas musculadas das pernas másculas e ocuparam o seu lugar em fila indiana para dar cumprimento aos devidos cumprimentos. Pé de Atleta à frente, em segundo Água Pé, a seguir o Descalço e o de Meia, Pé de Vento sem ordem e, por fim, Pé Ante Pé cauteloso e o Pé Chato a resmungar.
Um a um, Marie sentiu-os perante o olhar desconfiado do marido que sentiu demasiadas expressões para um cumprimento só.
Claro que era para entrar! Para comer, seria mais difícil – o frigorífico não estava muito satisfeito! Pernoitar?! É pá! Calma aí! Vamos pensar:
- Situação estranha! Situação complexa! Ela a cumprimentar sete! Os sete cumprimentando o marido! O marido a cumprimentar um! Que estranha visita esta! Que complexo encontro! Que situação embaraçosa! Que pretenderá Marie?! Uma cama com onze pés?!...
Marie disse que comprara peixe em Finisterra e que trataria do jantar! Sete Pés iria mostrar a praia a Pierre Patapouf e os vestígios do derrame do Prestige, seria uma oportunidade de se conhecerem. Enquanto isso, ela preparava as coisas e iria conversar um pouco com os Agrelos. Já agora – continuava Marie a comandar - que passassem pela mercearia e comprassem isto e aquilo e cogumelos do campo, se os houvesse! Isto porque prometera a Patapouf fazer-lhe prova do petisco que aprendera com os galegos e que só com cogumelos da Galiza se pode fazer! Seria o aperitivo ideal para o grande jantar que se advinhava. O facto de ser sabido que Sete Pés não apreciava, não importava!
- Que estranho jantar!... O casal de franceses com os cantos dos lábios a escorrer o azeite dos cogumelos! O terceiro, o séptulo, a pão com azeitonas. Ela falava para ele. Ele falando para o marido! O marido a falar para ele! Falavam os três, diga-se os nove, como se se tratasse de uma relação natural!…
Que raio de história Marie teria contado, da sua história do Caminho, ao seu marido? A verdadeira? Será que o velho é daqueles destesoados que gozam a ver a esposa chap-chap com outros? Será essa a proposta do fim do vinho?
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Todas as segundas feiras.
Pode(s) ler toda a história em O Caminho do Fim da Terra.
Todas as segundas feiras.
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10 comentários:
Olá Majestade.
Ó diabo, com esta é que o Sete Pés não contava. E tem razão para estar de "pé atrás" quanto à evolução da situação. Qual dos 7 pés é que recuará?
Eu estava certo quando, na passada semana, previ que a história mal começara. Espero impaciente pelos próximos capítulos.
Alberto Cardoso
Toda esta história tem sido uma proposta de fim do vinho, servida com a mestria de um escanção.
Uma M à 3? O gajo deve estar mesmo à nora pois não é nenhum modernaço, coitado. Vamos ver como é que isto se desembrulha.
Abraço do Zé
A troika está a mexer nos cálices
Que se fundam
Majestade...
Surpreendente a posição da Marie, regressando até 7 Pés.
Há relações que não têm quaisquer pés para andar. Essa parece ter vários, mas úteis são apenas os que nos levam a bom porto.
O verdadeiro afecto é o que acerta o pé na impossibilidade. Contudo, nesse caso, pelo ânimo com que acorreu à possibilidade de conhecer a neta de Xésus Agrelo , parece-me que 7 Pés está um pouco como a canção " em cada esquina um amigo", no seu caso, para cada pé uma amiga :)
Mas também nos surpreendeu. Já contava a Marie como uma memória do caderninho de memórias afectivas que um dia há-de guardar dos percursos dos pés do seu 7 Pés.
Um beijinho amigo, Maria.
Visite meu blog.
Se gostar, me siga.
Felicidades!
Abraços,
João
www.ludugero.blogspot.com
Pata
como todos os pés sabem as mulheres são muito mais manhosas e às vezes atiram-nos os tomates ao charco...
abraço
Golpe teatral inesperado! Que mais irá acontecer?! :-)
Abraço.
Patapouf?! Não era o nome do cãozinho das lições do ciclo preparatório? De qualquer maneira, bem escolhido.
Pois isto parece uma ménage à trois, ou à sept, ou à onze, sei lá. A pergunta é se o nosso amigo tem disposição para uma coisa dessas.
"daqueles destesoados que gozam a ver a esposa chap-chap com outros" - também pode ser. Mas a pergunta mantém-se.
Oh meus deus, não estarão já na Terra Nova?
Saudações do Zé Marreta.
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