Xésus Agrelo nunca se perdoará de, na condição de primeiro a encontrar os cadáveres de Marie France e Pierre Patapouf e de, no mesmo momento ter confirmado, pela falta de seus pertences, a partida inesperada de Sete Pés, ter sido o primeiro a apontá-lo como alegado homicida, acusação essa que fez de imediato no telefonema em que participou as mortes à polícia de Cee.
Quando, como resultado da autópsia, ficou provado que as vítimas teriam morrido por ingestão de cogumelos venenosos, já era tarde para dar o braço a torcer, arriscado ter de encontrar novos culpados e embaraçoso ficar-se por causa acidental. Assim sendo, não por conspiração inconsciente, mas por má consciência de que seria mais fácil culpar um forasteiro sem raízes, possesso de ciúmes, do que um merceeiro querido da terra, criou-se a tese de que o homicida havia colhido cogumelos venenosos no campo e os misturara com os comprados para consumar o crime. Ao proceder assim, o esperto, fazia também pender a suspeita sobre a casa de comércio onde tinha um calote considerável.
A justiça aceitou também, como argumento, o facto dos cogumelos serem petisco tradicional daquelas bandas, vendidos desde sempre naquele estabelecimento e de não existir relato de alguma vez terem provocado a indigestão a alguém quanto mais a morte. Estava atestada, portanto, a impossibilidade da experiência dos naturais poder falhar na colheita das espécies comestíveis.
O crime, o criminoso e as vítimas, com o passar do tempo, foram caindo no esquecimento de toda a gente menos na pesada consciência de Xésus Agrelo. A memória dos factos e a amizade com Sete Pés, avivados pelas várias visitas que fizera ao cárcere, estavam-lhe a dar cabo do sono e mais lhe deram na noite em que eu fui seu hóspede. Não admira pois que, na manhã seguinte, a pretexto de me oferecer pequeno almoço, me tenha dado lugar na sua mesa, me tenha inquirido acerca das leituras que me proporcionou, tenha desabafado sobre mim a sua inquietação e me tenha proposto um plano de acção para que a justiça fosse feita.
E, porque fartos de histórias contadas estamos todos e de abaixo assinados estamos cheios, depois de eu ter entrado, convido-o a si leitor, também a entrar na história que, a partir daqui, deixará de ser escrita para ser vivida.
O nosso plano consiste em reunir um grupo de activistas capaz de ir, daqui até à Corunha, percorrendo os Caminhos de Santiago, reclamar a libertação de Sete Pés. Sabemos como os meios de comunicação social são atraídos por este tipo de iniciativas e é quase certo que o seu impacto pode despoletar a reabertura dum processo mal contado.
Preparem a mochila e ponham-se ao Caminho. É só seguir as vieiras até encontrar esta que o filme documenta. Nas imediações da mesma existe um albergue onde estou alojado à vossa espera. Conhecer-me-eis pelas botas. Quando formos sete, partiremos. Libertai-vos!!!
25 comentários:
Pata
acho que esta proposta trás água no bico...
abraço
Bem me parecia que o Sete Pés não tinha sido o causador das mortes dos francius...
Abraço do Zé
Por estes dias não poderei por-me a caminho, que o médico não deixa, mas irei acompanhando o relato.
Abraço (de baixa) do Zé
BOA MALHA!
POR ESTA É QUE NINGUÉM ESPERAVA.
(Gostei do fim da introdução).
Com vídeo e tudo!
Boa.
Mas tudo isto traz água no bico...
Ando desconfiado. Isto é, atento e vigilante.
Abraços
Majestade,
Eu deliro com os seus textos, sinceramente,acredite que o digo por ser de facto verdade.
Além de muito bem escritos, sempre muito bem escritos, são narrativas tão bem contadas, uma capacidade humorística e provocatória única, como já tenho dito, eu tenho por Fernando Pessoa por umas razões e por Eça de Queirós , por outras, uma admiração que nada pode macular ou diminuir e o seu modo de escrever em prosa , recorda-me imenso o estilo de Eça, vai ver que ainda se vendem livros seus e lhe vão anotar a ideia ao perfil. É espantoso : a solução inositada , a que ninguém espera, mesmo os muito atentos ao seu raciocínio. Gostei muito. O vídeo está muito imaginativo, eu seguirei com o olhar até o fim da terra as suas botas. Esteja certo disso.
Agora para ir libertar 7 pés aonde ele se encontra, a coisa está meia preta. Andamos milhares a tentar libertar-nos de umas patadas que deixaram o país de tanga e a usar roupas emprestadas de merkel, quer dizer, sem marca, parece-me que será muito difícil. Mas faça saber aos súbditos do reino os seus planos e deixe visíveis as botas , verá que ao lado delas, outras caminharão consigo pelos caminhos indicados. :)
Um beijinho amigo
Maria ( como é que vai descalçar essa bota ?... a da esquerda Majestade, essa do lado do coração :)
Vamos lá ver se conseguem libertar o inocente, pelo menos do crime que o levou à choça. Vou acompanhando o relato deste novo caminho.
Cumps
Ainda bem que a sua excelente escrita
não sugere pepinos espanhois
Abraço amigo
Olá Majestade.
Até eu, que conheço Vossa Senhoria desde que era príncipe herdeiro, fiquei surpreendido com a volta (digo: reviravolta), que a história do Sete Pés levou esta semana. Eu sabia que a sua ida a Padris ia dar merkel, isto é, nada seria como dantes (quartel general em Abrantes). O que não sabia nem sonhava é que um Rei, para mais O Rei Dos Leitões, necessitasse dos humildes préstimos dos seus humildes súbditos para libertar um pobre português das galegas masmorras onde jaz inocente. Mas, vamos a isto! Já tenho a sacola, o cajado e as botas. Só estou à espera que o «chauffer» traga o carro para seguirmos para aí.
Alberto Cardoso
Quando formos sete partiremos. Brilhante.
Mas convites contigo não resultam e depois tinhas de prometer que manteríamos os cogumelos afastados desta história.
Polidor,
não é uma proposta com água no bico, nunca ofereço água sem primeiro perguntar se se quer vinho!
Conto contigo para o Caminho.
Um abraço contínuo
Zé Povinho
Queres que arranje uma cadeira de rodas? Ninguém deixará de caminhar por falta de pernas e, muito menos, por conselho médico.
Um abraço do povo
Anónimo, diz-me o teu nome e eu farei de ti um caminheiro.
Um abraço com nome
doZambujal
também tu?! água no bico?! as Silveiras dão outras coisas!
Um abraço do nosso tinto
Maria, muito obrigado pelos comentários sempre elogiosos! Também não é preciso exagerar! (enfim! modéstias!)
Ninguém como tu caminhou ao longo destas 40 semanas! Serás sempre, de direito, a ama mais ama desta corte!
Um abreijo nobre, peregrino, caminhante, Amigo e contínuo.
Guardião
o relato acabou, agora cabe-te entrar na história.
Um abraço e vai comprar as botas
Puma
quais pepinos, quais tomates, gato selvagem! Cá te espero!
Um abraço de saltos de puma
Alberto Cardoso
Eu sabia que não me falharias! Traz isso tudo e mais vontades! E olha, não te esqueças de trazer também os pés!
Um abraço de rei
António,
posso falhar quando me convidam mas nunca falho quando convido!
Encontra a vieira e logo te digo quem é Pata Negra.
Um abraço com encontro marcado
Humm!!!... Então vamos lá ficar à coca.
Abraço.
Não digo o nome. Olhe, trate-me por Tiago
"... todos os caminhos são mágicos se nos levam aos nossos sonhos".
Amigo Pata Negra, já tenho a sacola e o cajado só me faltam as botas.
Enfim, temos o Sete Pés inocente.
Abraço
Compadre Alentejano
http://i853.photobucket.com/albums/ab97/narrador_01/MyPhoto21-1.jpg - Eu , na quinta das Vieiras, absolutamente perdida dos passos das botas de Vª Exª...
Ainda que mal lhe pergunte Majestade, mas por que raios descalça as botas da comunicação ?!... :)
E agora, e depois, não será melhor mudar de estratégia e tomar a masmorra aonde aprisionados injustamente já estão 7, à força, pode ser força da imaginação :)
Beijinho amigo
Maria
Lá diz a Heróica; «o caminho é pedregoso e duro/mas o sonho que nos guia é puro»...
Um abraço.
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