Tenho um telemóvel mas ninguém me liga e eu também não ligo a ninguém, tenho-o apenas para dar música e tirar fotografias.
Depois de ter enlouquecido e de ter perdido o emprego, dirigi-me, como é normal nestas coisas, ao Centro de Emprego. Como é normal nestas coisas, atendeu-me uma funcionária altiva. A sua altivez podia ser medida como a soma da altivez daqueles que se cruzam comigo tratando-me como um ser com problemas mentais, subtraída da pena daqueles que me olham como um homem desempregado.
- De acordo com a nova lei, ainda que despedido por injusta causa, não tem direito ao subsídio!
Rasguei um ângulo panorâmico sobre a sala de espera e observei:
- Estas pessoas não querem é trabalhar, querem viver à custa dos impostos dos outros! Ainda bem que, finalmente, temos um governo que vai acabar com isto!
Expliquei-lhe tão bem que concordava com as recentes cortes na caridade legislativa como forma de obrigar as pessoas a aceitar incondicionalmente qualquer proposta de trabalho! Mas ela, altiva como estava, não percebeu nada! Rien!
- A senhora não está a compreender! Eu aceito ter de viver sem trabalho, só quero que as fitas do guiador da minha bicicleta atestem a minha incapacidade para trabalhar e, dessa incapacidade, resulte o meu direito ao menos a duzentos euros por mês para mim e para o carro da vizinha!
- O seu caso é igual aos outros! O senhor está mal ?! Ou está a dar-me música?!
-Oh não, estou muito bem!
Subi o som da música do Quim Barreiros que tinha em fundo no telemóvel e acompanhei:
"Ponho o carro, tiro o carro, à hora que eu quiser
Que garagem apertadinha, que doçura de mulher
Tiro cedo e ponho à noite, e às vezes à tardinha
Estou até mudando o óleo na garagem da vizinha!"
Em fim de quadra, apontei-lhe a objectiva do telemóvel e fotografei-a. Saí em passo apressado e montei a minha bicicleta de duas rodas caminhando para a casa que fica junto à da minha vizinha.
Ela deve ter ficado a pensar que eu lhe tirei a fotografia por ser tarado ou para denunciar publicamente a sua altivez. Mas não foi nada disso, eu tirei-lhe a fotografia apenas para a poder rasgar! O problema agora é que não sei como é que se podem rasgar fotografias digitais.
Parece impossível, com um processo do ex-patrão, sem emprego e sem dinheiro e sinto-me melhor! Só quem me vai lendo poderá avaliar se estou a melhorar! Eu acho que sim!
- Ó Pistola pára lá com o autoclismo!
12 comentários:
Já me levantaste um problema do camandro, eu também andava aqui dia sim dia não par ragar umas fotos que não gostaria nada que fossem conhecidas e que guardo aqui com uma password e vens tu dizer-me que não sabes como se rasgam. Não sabes tu e não sei eu e escusavas de criar esse problema a uma hora destas. Espera lá, just in case, se não souberes também como se rasgam as notas, traz cá que eu trato disso, garantido.
Majestade, minha estimável Majestade...sempre a dizer coisas de tanta seriedade como quem brinca aos dados ...
Não são comuns as pessoas que na plenitude o compreendem, como não é comum , é maior, a sua percepção do mundo que o rodeia ...
SEM DÚVIDA ...
À loucura é ao que nos determina este estado de coisas em que dificilmente um Homem de honra vive do desempenho remunerado do trabalho para o qual está habilitado...
A fotografia ...
A fotografia mostra que este Estado fica mal no retrato e porquê : é que as pessoas não cobrem os rostos no dia a dia com a preocupação de "esconder a careca "... não , as pessoas mostram o rosto, o seu rosto. Apenas a visão do rosto que mostram a todos , todos os dias num retrato as perturba ...Porquê : porque no retrato até elas próprias se olham e tal qual essa funcinária, como ficam mal certas pessoas ao visionarem a sua própria imagem...
Adoro essa loucura que rasga o hediondo do que mal anda, sem sequer se auto observar no Estado desta nação em tanto decadente ...
Um beijinho amigo
da sua amiga
Maria
Estás a melhorar e muito!
Um abraço.
Diria mesmo mais: estás cada vez melhor!
Um abraço
É uma realidade : o (des)emprego em Portugal está a dar com o Pais na loucura.
Digna de registo fotográfico e porque não : se nos dá a imagem de uma realidade a que não fugimos, porque fugir da respectiva imagem ? Naturalmente, em casos desses é de fugir, quer da fotografada, quer do serviço prestado em tais termos :)
Falando de fotografias, uma musiquinha de lembrança amiga
http://youtu.be/W2DedNJZ2AE
Maria
E a senhora fotografada era boa? Se sim em vez de rasgar o melhor é partilhar!
Agora vai deixar de haver desemprego, porque ficamos todos a gozar pontes dadas pelo patronato, que já está mais compreensivo do que há dias...
Abraço do Zé
Daí ao Rei o que é do Rei, e à plebe que quer partilha de emprego, uma fila condigna a registar neste dilecto local aonde se Centra de Emprego...
Além do mais se o Rei rasgou a imagem, a mulher metia medo ...
:)
:)
:)
Ou damos em loucos ou em poetas, com um pouco de sorte ficaremos loucos.
Na verdade cada vez mais luto
pelo leitão ao poder
obviamente vivo
mas receio que a malta não mereça
este excelente texto
onde me babo com aplausos
olhos fixos na Bairrada
património cultural
BOA.........
Tu tens a pata negra... é preciso saber dar as patadas certas...
abraço
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