sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Maus tempos


É o Outono...
tombam as folhas, os bêbados, os soldados...
e o caruncho rompe impiedoso nos lábios da poesia

funerais parados na beira da estrada
palavras doentes perecem no leito

um carro chegando com as primeiras chuvas
à quinta do Tio do Vale das Promessas...
os sinos dobrando os lençóis assinados
a um canto da alma
pela último período que a avó experimentou...
e o cão desapareceu...

nova estação... mau tempo
não haverá sol
porque haverá ausência
não haverá voz
porque o canto no silêncio é desrespeito
e se os mortos permanecem vivos na nossa memória
não haverá mortos nem vivos
haverá Outono

(depois, as varredeiras apanham as folhas secas
para as esquecer)

10 comentários:

Anónimo disse...

Olha. Acordou! Deve ter sido da minha gaguês no último comentário.

Benvindo Pata Negra. Venha de lá um abraço, homem. Caramba, tem andado fugido ou quê? Quê? Ainda bem. E ainda bem que voltou que a blogosfera sem si não vale nem metade.
Agora vou ler o poste. Depois, se achar que tenho alguma coisa a dizer, ponho aqui outro comentário.

Anónimo disse...

Bem vindo, claro. Raios me partam que logo fui escrever o nome do meu compadre.

cid simoes disse...

Faz-nos sentir a melancolia do outono mas sem esquecer o trabalho que nos espera para impor Abril.

samuel disse...

Tudo é passageiro...

Abraço.

Olinda disse...

ê o Outono do nosso descontentamento e,dizem p'raî,que veio para se instalar,atê que o dêfice deixe entrar o sol.

Maria disse...

Normalmente, parece-me mesmo seguro, que a seguir a maus tempos, quanto mais, seguem-se tempos melhores.

Havemos de vivê-los todos e sobreviver, apesar das troikas e das tropas inimigas :-), quer apostar ?!...

Maria disse...

Um beijinho amigo, como sempre.

Crisantemo Ciclomotor disse...

Outra vez uma "coisa" que nem é prosa nem poesia.
Arre macho que esta gente não aprende.
Ora vejamos: se isto é prosa por que raio o texto está escrito aos repelões, com linhas com cinco ou seis palavras e outras com apenas duas ou três?
Se é poesia, onde está a métrica e a rima? Sim, a métrica e a rima!?
Já não falo no Camões nem no Bocage, que eram inteligentes e tinham estudos, mas falo no António Aleixo, que também era inteligente mas não tinha estudos. Algum deles escreveu algum poema, um só, sem métrica ou sem rima? Claro que não. Para não mencionar as letras das cantigas do Quim Barreiros que dá gosto ouvir, tudo certinho, sem falhas, ali, para quem as quiser ouvir.
Claro que agora vão aparecer os “lambe-botas” de serviço a elogiar o escrito. Uns ignorantes! São estes que vão ver uma exposição de arte moderna e se lá encontrarem o escadote esquecido pelo tipo que pendurou aquelas aberrações, passam um tempo danado a elogiar a arte e genialidade do autor da exposição por expor um escadote velho e sujo e tirarem daí as conclusões mais mirabolantes. Em suma,
uns ignorantes.
Crisântemo Ciclomotor
(Primo da Rosa Mota)


M A R I A disse...

Tão bonito e tão profundo este texto . Realço :
"não haverá sol
porque haverá ausência
não haverá voz
porque o canto no silêncio é desrespeito"-
Só para quem conhece o verbo respeitar ...
"
se os mortos permanecem vivos na nossa memória
não haverá mortos nem vivos
haverá Outono "

-Mas que mortos ? Nós somos daquela raça de vivos que não se deixa matar !

E passará o Outono e haveremos de cá estar, pode apostar !...


Um beijinho amigo, meu amigo Rei.
Este fim de semana fará sol. E as folhas do outono são pétalas de oiro rebrilhando os pingos de água em si guardada, sempre que o Sol estendendo-lhe seus raios, as aquece. Tem uma cor tão bonita a natureza nessa época do ano. É também a época em que a Terra de humus se tonifica para regressar a ser a alegria da Primavera mais à frente. Por isso vejo beleza no Outono.

Como vejo neste esplendido texto.



maceta disse...

Pata

quando queres tu puxas da veia... muito bom e diz muito...

abraço