Todos nós temos o nosso rio de criança,
um rio grande, uma ribeira, uma levada,
um rio seco, um rio de cheia, um rio com peixes
ou mesmo um rio que atravessa a cidade emparedado.
Até pode ser o rio de uma imagem, dum filme, duma história
mas todos nós temos um rio de criança.
No meu caso, o meu rio deixou-me sempre insatisfeito,
era ali, na minha aldeia, que ele se formava de dois ou três riachos.
No inverno levava água se Deus a dava
mas no verão toda a água era para o milho,
ele esquecia-se que era rio e eu também.
Na aldeia a jusante já a ribeira corria todo o ano,
as mães lavavam a roupa aos filhos
e os filhos apanhavam peixes com uma cesta.
Eu molhava-me lá com os outros meninos e acontecia-me pensar
no destino daquela água, por que terras passaria
e quanto tempo demoraria até chegar ao mar.
Penso que os outros meninos também pensavam nisso
e que todos eles, como eu, sonhavam um dia ver o mar.
Agora que somos grandes já não sentimos os rios.
O que importa é que o governo cuide dos rios,
sejam eles de água ou de povo.
Que os deixe correr e desaguar,
que os contenha, que os regule, que os aproveite.
Ah! E que nunca se esqueça de tratar do saneamento!
Intervalo de pensamento:
O povo no tempo é como um rio no espaço.
Alguém já deve ter dito isto!...
Mas isto não:
Rio de rir
Rio das águas
Rio das ruas
e levo-as com o rio ao mar.
Continuação de pensamento:
Mas o importante é que o rio nos continue a correr na memória
e o povo fluvie e vença as margens que o comprimem.
Um poeta já deve ter falado disto!...
Mas ninguém, senão eu ou os meus primos,
retém a imagem da minha mãe e das minhas tias
a lavar no rio da minha aldeia
as tripas do porco que matámos em dezembro.
Fim de pensamento:
Não tarda aí dezembro,
o porco está vivo,
o povo está no rio,
o rio vai cheio,
a greve é em novembro,
o povo está vivo,
o porco está cheio,
há que matar o porco,
senão ele bebe o rio.
Rio! Não sei se de rir se de ser também rio!
E de quem é o nosso mar???
Isto sou eu a pensar!
12 comentários:
Não me digas que estás a ver a convenção do BE na tv...
É que eu já fui rio, agora seco...
Beijo.
(o mar é de quem o sabe amar!)
Não vamos deixar que este rio seja um vale de lágrimas.
Texto tão especialmente belo ...
Muito obrigado.
http://youtu.be/eA1A18Xfzgc
Um Rio de amizade, Maria
parabens. com a necessária autorização á posteriori utilizei em cris-sheandbobbymcgee.blogspotcom
Cris
obrigado pela referência e um abraço
(aqui não há essa coisa de propriedade intelectual)
Poeta:O rio farâ o seu percurso,livre e confiante,rumo ao mar.E, nao haverâ margem que o oprima.
O rio das nossas mágoas e descontentamento corre abundante nesta ocasião.
Cumps
Não há poeta
ou candidato a poemar
que não tenha já vindo falar
de um rio e de um mar
suponho que nunca
desta forma
há que matar o porco
senão ele bebe o rio
há rios assim ( e risos )
que são Mar, antes de correrem!
grande poema, carago!
forte abraço, Majestade!
por tua causa/culpa,
rio, logo existo
Obrigado!
Fabuloso, gostei de ver e ler.
Cá voltarei ao Rio do Rei.
É isso: Grande Poema Carago!
Enviar um comentário