domingo, 19 de maio de 2013

A cultura da crise


Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos em tempo de crise.

Na boca dos abastados senhores do poder, não se ouve outro pretexto para a situação que não seja a crise. 
A crise justifica a própria crise.
A crise é o melhor remédio para a crise.
Crise atrás de crise.
Crise após crise.
Sempre crise.
Sempre vivi em crise. 
Queria viver ao menos um dia da minha vida em que não houvesse crise.

Crise! Crise! Crise!
A crise é filha de uma puta que é a conjuntura!
A crise serve todos os interesses:
conforma os pobres - incha os ricos;
contém os que protestam - alivia os que mandam;
açaima os que trabalham - solta os que exploram;
justifica a miséria - tolera o enriquecimento;
dá mote aos poetas - torna brilhantes os comentadores.

Crise! Crise! Crise!
Palavra banal quando é dita, palavra que irrita, palavra que justifica.
Está instalada a cultura da crise!
Em nome de todas as razões, em nome de todos os interesses, a crise serve e a crise castiga.
Não há nada mais fácil nem mais lucrativo do que gerir em estado de crise,
serve o governo, serve os que mandam, serve os que podem,
em suma, é a bolota da selva capitalista.

Pois então que a crise exploda de uma vez por todas!
Estou farto de ser cidadão pacífico!
Que rebentem os locais de trabalho, os locais de férias e as ruas!
Que rebentem as escolas, os hospitais e os tribunais!
Que rebente o povo e que eu dele rebente!

Crise!... Crise!... Crise!...
A culpa é filha de uma puta, a conjuntura!...
Os intelectuais  falam baixinho entre eles, num canal de televisão que ninguém vê! Falam de metas e finalidades. Para eles as metas são como o horizonte onde nunca se chega e as finalidades são os fins. Está tudo em fins, acabaram as ideologias, os povos, os direitos, acabou a História !

Nas veias dos governates corre o sangue sólido de actores que trocam de papéis e de adereços, que lançam vozes na sala para ouvirem os seus ecos, que lambem os seus espelhos, que abrem e fecham o pano ao ritmos dos seus discursos, que representam personagens e fantasmas provocando a sonolência dos espectadores. Mas um espectador, mesmo entre sonos, bate sempre palmas! E, se os ratos do velho teatro lhe roerem os pés, julgará sempre que é comichão dos sapatos! Nem que esteja descalço!

E depois, nos camarotes, entre cenas de interesse, de prazer e coscuvilho, estão jornalistas, banqueiros, empresários, proprietários, juízes e generais e outros mais a sombrearem, com gestos e acenos, a pequenez da plateia submissa, reverente e admiradora, sempre disposta a sonhar com um lugar nos camarotes!...

Ai! Onde é que eu ia!? Falava da cultura da crise!...Então a crise cultiva-se?!
O estado da crise já compete com o estado do tempo quando falamos para alguém sem tema de conversa. Em todas as conversas, pressente-se, que a última coisa que queremos saber é a a verdade.
- Crise? Qual crise? A financeira, a económica, a social, a política, a democrática, a do petróleo, a sectorial, a nacional, a do euro, a da europa, a mundial ou a da justiça?

Eu quero que se lixe a crise, eu vou mas é ver o Benfica!

5 comentários:

Zé das Fisgas disse...

O Benfica?!
Para esquecer a crise?!
Não terá sido boa solução.
Eu fui ver o Arouca.

fora-de-jogo disse...

A crise é um veneno que nos vai matando aos poucos.

Anónimo disse...



Frase do Dia:



Frase do dia.
O salário é como os resultados do Benfica.
Vai-se tudo nos descontos!

Isto é que vai uma crise!!!





do Zambujal disse...

Qu'aragem de ar fresco! No teu texto e nos comentários.
Não sinto nenhuma crise depois de vos ler. Porque para a crise, para esta crise larvar (!) há uma resposta: a luta!
E esta, a luta conta a filha da puta da conjuntura desconjuntada, também deve ser feita assim: fazendo rir, com alegria. Triste... mas a rir, cheia de alegria.
(Isto da dialéctica... da Tia Léctica)

Um abraço

maceta disse...

Pata, foste ver o Benfica e ficaste mal disposto.

abraço