sábado, 28 de fevereiro de 2015

A nora do meu pai



É sempre assim, um tipo anda há dias para pôr a escrita em dia mas há sempre um empecilho, uma indisposição, uma preocupação, que lhe tira a  cadeira quando se vai sentar.  É a patroa que anda com os azeites, é o dente do ciso do mais velho, é a nota de francês da irmã dele, é o clio que não passa na inspeção, é o raio do autoclismo que não para, é a vida do homem que tem de pensar em tudo.

E o carvalho do mundo em alvoroço, as notícias inquinadas por forças ocultas, as forças do mal contra as forças do bem, as guerras, e a força do povo a esmorecer… Portugal e a crise… ai pátria minha! ai madre Espanha! mãe Rússia! ox Alá! ó Babilónia! Deus queira! querida Europa! tirem as mãos da Venezuela! ai o corno de África! os norte-americanos são os maiores! e os alemães?!... ! alma Grega!  ai telha lusa! que não vales nada! como é que eu vou mudar o telhado sem dinheiro?!...
Falaria nestas coisas, se penso nelas!  Seria meu dever seguir a minha vocação revolucionária, nem que ela apenas se expressasse na dimensão menor dumas linhas escritas à altura do pescoço, entre o coração e a cabeça, entre o sangue dos guerreiros e o pensamento dos seus líderes.

Mas não! Não falarei no meio da algazarra dos meios de comunicação, das colunas de opinião e dos cafés! Sim! É novidade! A Grécia já chegou à conversa dos cafés! Além do Sócrates e do Cristiano, claro!...

Talvez noutra temática eu seja ouvido:
- Porque é que os alcatruzes têm um buraco no fundo?!

Descobri, por mim próprio, a resposta, quando ainda não tinha idade para dar passo à vaca que rodava a nora,  e dessa descoberta conjugada com o funcionamento das engrenagens do engenho, criei, julgo, a vontade de em grande ser engenheiro. É claro que também o cultivo da terra, a rega, os regos de água, a água, me ajudaram a criar e a fazer-me, filho do campo, homem do povo, filho da história e homem de máquinas.

E aqui estou eu a escrever como um menino que quer ser revolucionário, como homem atento ao mundo, como um funcionário de expressão limitada, a perguntar, como um lunático ingénuo, a deixar uma questão:

- Alguém mais, além de mim, ainda se lembra da razão pela qual os alcatruzes, tem um buraco no fundo?!....
...
Provérbio: Os homens são como os alcatruzes da nora: para uns ficarem cheios, ficam outros vazios.
...
Os alcatruzes da nora
Os alcatruzes da nora
Andam sempre a dar e dar.
É para dentro e p’ra fora
E não sabem acabar.
Fernando Pessoa

13 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Hoje venho dar os parabéns! Que contes muitos !

Abraço.

maceta disse...


Rei
a riqueza de alguns mostra a pobreza de muitos, muitos...

abraço

Manuel Veiga disse...

o buraco no fundo é para os alcatruzes da nora "desabafarem" - é que se não desabafam ... rebentam!

por mais que a roda ande, ou desande é o pequeno "pormenor" que tudo decide.

(digo eu que não sou dado a engenhocas)

água límpida - a da tua nora.

gostei. de verdade!

jrd disse...

É óbvio que o buraco no fundo se destina a encher o alcatruz de baixo.
:)))

Manuel Veiga disse...

o JRD é te topa - andas à nora!

O Puma disse...



Pessoa ainda foi a tempo
mas tu nada tens para te arrepender


Zé Povinho disse...

Para ficar mais leve e permitir que a nora rode com mais facilidade?

Feliz Aniversário

Abraço do Zé

Pata Negra disse...

Mas vocemecês estão a mangar comigo ou não sabem mesmo?!

Alberto Cardoso escreveu mas não disse...

Olá Majestade
Começo por desejar que Sua Alteza Real, sua realíssima Esposa, os Infantes e o real caniche estejam felizes e de boa saúde.
Há quase dois anos que não tinha o prazer de dar uma olhadela ao Rei dos Leittões e estava cheio de saudades. Foram dois anos “à sombra” por causa dum “amigo” que chibou e fui dentro mais uma vez. Vamos lá ver quanto tempo me aguento desta vez.
Já reparei que Sua Majestade já não posta todas as semanas. Os seus escritos podem ser menos mas a qualidade não se perdeu.
Na verdade dos que já li alguns nem sei do que tratam porque devem ser de coisas que aconteceram e que eu não soube. Mas lá dentro toda a gente soube que o Sócrates estava à sombra e foi um gozo geral. Sobre os gregos já me contaram mas o resto passo-me ao lado.
Mas sobre o buraco dos alcatruzes sei. O meu avô tinha no cimo do quintal um tanque que aparava a água da chuva e também a escorria duma regadia que passava ali ao lado. Quando as hortaliças ou o milho estavam com sede e lá se amarrava o macho à nora.
E os alcatruzes traziam a água do tanque e largavam-na na calha para ser encaminhada para a rega. E os alcatruzes tinham (tinham que ter!) um buraco no fundo.
Li os comentários dos seus seguidores e reparei que são todos urbanos, que das lides do campo pouco sabem e que algumas respostas são anedóticas.
Como sabem há um princípio básico da física que diz que um mesmo espaço não pode ser ocupado, ao mesmo tempo, por duas substâncias diferentes. Ora, se o alcatruz quando mergulha vai CHEIO de ar este tem de sair para poder entrar a ÁGUA. E por onde sai o ar?, perguntam os colegas comentadores. Não, não perguntam porque já sabem a resposta: PLO SACANA DO BURACO DO FUNDO, RAIOS MA PARTAM QUE NÃO MÓCORREU!
Pois…
P.S. Li nalguns comentários a alusão (ou será ilusão?) que Sua Alteza Real está de parabéns por ter resistido mais um ano, isto é, fez anos recentemente. Se assim foi, parabéns Majestade, e faço votos para que conte muitos com Saúde na companhia dos que ama.

Pata Negra disse...

Sr Alberto
Registo com o agrado o seu dedicado comentário e,antes que me esqueça, eu não fiz, não faço nem nunca farei anos.
Folgo em saber que está cá fora, espero que por alguns meses.
Quanto à resposta, devo dizer, que embora com notável esforço técnico, não me satisfaz inteiramente porque não está completa. Contudo devo reconhecer humildemente, que dessa não me tinha lembrado - também só tinha 5 ou 6 anos quando encontrei a minha.
Um abraço sem chibos por perto

Amigo da onça disse...

Na minha terra, antigamente, diziam que 'meninos bem' eram os que iam aos anus (assim mesmo, em latim) uns dos outros.

Alberto Cardoso pensou, pensou e disse...

Olá Majestade
Devo confessar que fiquei triste quando li que Sua Alteza Real afirma que o meu comentário, acerca dos furos dos alcatruzes, não o satisfaz por incompleto. Na verdade está incompleto porque me socorri de princípios básicos da Física. Diferente seria se invocasse conhecimentos de Hidráulica e de Física Quântica, que não fiz por achar descabidos, tal a sua complexidade, acessível apenas a um reduzido número de pessoas.
Mas no comentário que Vossa Majestade fez ao meu comentário, algo me diz que a teoria que Sua Alteza Real tem acerca dos mencionados furos dos alcatruzes nada tem de científico mas, apenas, fruto de um saber empírico, que valorizo, ou o resultado da observação de uma criança de 5 ou 6 anos, que reputo de falível
P.S. Obrigado pelo estímulo mas, Majestade, espero estar em liberdade, não meses mas anos (com ‘o’ que não aprecio ordinarices).

Zambujal disse...

Dado que Vossa Alteza não aceita parabéns, porque não faz anos nem acha que os seus "posts" o mereçam (com o que me permito não concordar!) peço-lhe que, na oportunidade deste texto, transmita a seu real pai os parabéns pela nora que Vossa Alteza lhe deu.

Os meus respeitos