domingo, 3 de maio de 2015

Sou um grande filho duma grande mãe!

"Meu caro". "Meu amigo". "Meu caro amigo".
Tudo junto ainda gosto menos. Não gosto destes tratamentos onde entram em choque a pretensa proximidade com a evidente distância.
Também não gosto daqueles tratamentos de rua tipo: "ó chefe, sabe-me dizer onde é que fica a repartição de finanças?"; "ó patrão, olhe que lhe caiu a carteira!".
Gosto do "tu" quando ele me convence de que ainda sou novo. Não gosto de "tu" quando ele transporta um ar de abuso de confiança  ou um desejo implícito de me trepar.
No trabalho não gosto do "você" porque me faz velho, não gosto do "colega" porque colegas são as putas, dizia-se na tropa. "Camarada"? Ai isso sim! Sempre! E aí não pode entrar "você", nem "senhor", nem "meu sargento"! É o "tu cá, tu lá", a cumplicidade é sempre um prazer.
Aqui então, no Rei dos Leittões, onde eu só procuro cumplicidades, onde os amigos não têm rosto, nem morada, nem idade, fico irritado quando um comentário começa por "meu caro amigo".
Meus caros amigos, aqui o trato certo é a devida "Majestade" ou então, por falta do reconhecimento da coroa, venha o "ó pá", gosto do "ó pá", o "ó pá" serve para tudo, "porreiro, pá", diziam os outros um para o outro.
Lembrei-me agora duma cantilena que me ensinou a minha mãe:
"Olá pá! Já casaste pá?
Eu não pá! E tu pá?
Eu já pá!
Com quem pá?
Com a filha do Zé, pá!
Eina pá tanto pá!..."
Gosto do "pá". Dizem que são questões culturais mas ninguém gosta de ser tratado de qualquer forma, a não ser se for por uma amigo. A esses tudo se permite: "ó meu cabrão por onde é que tens andado?", "olha-me o filho da puta que aqui vem!...
Pois bem! Mas o que eu gosto mesmo é de ir à terrinha e sentir que ali sou sempre tratado como em nenhum outro lado. Pode ser carinhosamente por "cabrão", "filho da puta" mas o mais corrente é ser referido ou tratado por "João da Emília. Para quem não sabe, "João" é o meu nome próprio, "Emília" é nome de mãe aqui na ficção, porque não quero misturar a Idália com estas coisas.

7 comentários:

Mar Arável disse...

Com 90 anos
a minha mãe

não admite ser discriminada

José Lopes disse...

Majestade assenta-lhe bem, e o respeito não fica mal aos súbditos que não se vergam perante qualquer poder...
Cumps

Manuel Veiga disse...

confesso que o "tu cá, tu lá, bardamerda e segue..." também me chateia!...

mas o que me irrita mesmo é o "sim, senhor" - como se eu fora penico!

Anónimo disse...

Faltou comentar..... Seu Rei ...

Anónimo disse...

Excelente texto

Je disse...

Não há a côr do horto gráfico que resista...

Redassão

O mano

Cu ando meu mano nas ser,
vai chamarce Herrar, porque o pai dis que Herrar é o mano.

Moi disse...

"O Pavilhão Municipal de Barcouço, concelho da Mealhada, é palco, de sexta-feira a domingo, da segunda edição da Feira do Bolo de Cornos, uma iniciativa iniciada, com sucesso, há um ano pelo actual executivo."

"com sucesso", tal a abundância. Eu dispenso mas deixo aqui a notícia para eventuais interessados.

Repassem para os vossos amigos - ou inimigos.