sexta-feira, 25 de março de 2016

Crucifiquem-me mas não me aleijem!


Não gosto de ver ninguém crucificado,  sinto os meus próprios pulsos a pulsar de dor. O menino e o burrinho, um jovem a aprender de carpinteiro com o padrasto de nome Zé, um homem novo de barbas louras a subir para o céu, isso eu gosto! Mas faz-me arrepios que, perante a figura de um crucificado, se ore, se implore, se dê culto, se coleccionem crucifixos e que essa cruz, tenha substituído o peixe, como símbolo da minha religião. Ao menos o peixe sempre podia aguçar o apetite!

Eu, que culturalmente sou cristão, gostava que os adoradores da dor do bom Homem e do bom Crucificado que foi Jesus, em vez do culto da imagem, lhes desse para o cumprimento da palavra que nos deu e começassem a dar, a dar, a dar, a dar tudo o que têm: aquele ex-ministro das finanças que costuma falar do aborto, aquele ex-gestor do bcp que se abotoou, o outro, o do "aguenta, aguenta", que também invocou a sua fé, aquele que fala aos domingos na tv e sabe tudo e diz que dá, o outro que é presidente da república e que também vai à missa, isto só para citar uns poucos de que nem sei o nome mas sei que muito têm.

Imaginem que esta gente, em vez de beijar os pés descalços das imagens de barro, começava a ouvir a palavra do Senhor e começava a dar, a dar, a dar... a dar tudo o que têm até ficar sem nada, isto é que ia ser uma revolução!

Mas isto vai lá! Para já o novo papa renunciou aos sapatos vermelhos e não sou daqueles que dizem que foi porque lhe davam um ar gay. Toda a gente sabe que os sapatos pretos são mais baratos que os vermelhos!

Não quero ver ninguém crucificado! Quero apenas que me dêem a minha parte, que repartam! Dizem: não se pode repartir porque não há! Vamos lá! Um cristão não engana outro! Digam-me lá onde é que foram comer ontem à noite?!


6 comentários:

Zé Povinho disse...

Porque as religiões podem ser corrompidas pelos homens, sejam os que se vergam às imagens feitas de barro, sejam os que endeusam o dinheiro e o sucesso, traduzido nos dízimos que enriquecem uns e esbulham outros. A religião nada tem de mal, os homens é que a conspurcam, e depois os fiéis seguem quem não devem e desviam-se da pureza que julgam respeitar...
Abraço do Zé

O Puma disse...

O povo é santo

no pau e na cenoura
"oremos"

Rogério G.V. Pereira disse...

Eu? eu ontem jantei no "Barbas"
Peixe
Hoje fiz questão de juntar às dividas da bula
mais uma
pois amandei-me a uma valente salada
de orelha de coentrada

não era orelha tua
(no crucifixo deve-se morrer inteiro)

Mar Arável disse...

Como eu te compreendo

meu irmão
Que nunca te doam os pés
para a canelada.

Manuel Veiga disse...

os vendilhões do Templo de outrora vende agora também os casebres...

do Zambujal disse...

Excelente. Uma prosa muito séria, seríissima, que me fez rir às lágrimas (e não foram as cataratas!).
Boa Páscoa sem crucificação e só com ressurreição.