quarta-feira, 21 de junho de 2017

Todos os professores deviam ser bombeiros

Os alunos que frequentam as escolas dos concelhos atingidos pela tragédia dos incêndios irão realizar os exames nacionais em datas posteriores e o governo adianta que não serão de forma alguma prejudicados por essa alteração. Decisão esperada e acertada mas que põe por terra um dos principais argumentos que levaram à requisição de serviços mínimos para a greve de professores marcada para um dia em que decorreram exames nacionais: a mudança de data destes exames prejudicaria gravemente os alunos.

Para essa requisição o governo socorreu-se dum colégio arbitral, constituído por três doutores que votaram dois contra um,  cuja decisão se refugia, no essencial, na falta de objetividade do termo "impreterível" utilizado no texto da Constituição.

Das razões do governo podem ler-se estes dois excertos:
   
"Defende o ME que a realização dos identificados exames e prova de aferição é uma necessidade social impreterível...
... que os alunos têm o direito a verem realizadas as suas provas e exames em condições de igualdade, e que poderão ocorrer repercussões negativas na alteração do planeamento e organização dos tempos de férias de milhares de familias"

Ora deixe-mo-los ficar com o endeusamento nacional e o cerimonial em que se converteram, ano após ano, as provas de exames nacionais e admitamos que adiar um exame é tão grave como adiar um casamento e concentre-mo-nos nas contradições que põem a nu o verdadeiro caráter das suas intenções de limitar o direito à greve:
- As provas de aferição visam avaliar o sistema e não os alunos. Ao sabor dos ministros, podem existir ou não existir, podem ser em qualquer altura do ano e têm tido formas distintas de aplicação pelo que considerá-las uma necessidade social impreterível só pode ter sido lembrança do diabo anunciado.
- Se o exame fosse adiado para um dia em que os jovens dos concelhos atingidos pelos incêndios também pudessem fazê-los, aí sim poderiam existir condições de igualdade, assim não.
- Sobre a organização dos tempos de férias de milhares de famílias mais vale não dizer nada. 

Se todos os professores fossem bombeiros provavelmente, hoje, o impreterível teria mudado o seu significado. Assim, esta greve, foi só fumaça!

1 comentário:

Sérgio Ribeiro disse...

Quando o sens(act)o impera sobre outras coisas e diz o que é impreterível dizer.
Abraço