Ébria pose, ébria postura, olhar ébrio, gestos ébrios, frases ébrias, palavras que se atropelam entre si, ideias sentidas sem sentido, uma irrequietude quieta de quem soletra sílabas que se arrastam nos olhos de quem nos vê e não nos ouve. Versos ébrios? Ah isso não existe! Ah, nenhum tratamento, nenhum vento, nenhuma marcha, nenhuma frente ativa nos poderá trazer a sobriedade com que entrámos na escola com uma sacola de pano, com um caderno e uma pedra de ardósia. Querer conhecer o código dos símbolos do alfabeto, aprender a ler e a escrever, numa ânsia de, vindos à luz, tudo querer saber.
Saber ler, falar corretamente, citar poetas e escrituras, escrever cartas e discutir filosofias de caserna ou academia; interpretar o mundo, as razões dos homens e das mulheres, a história, as religiões, as revoluções, as utopias e dar por ela, ao fim duns longos anos, que em poucos dias a última garrafa está vazia. E, por incrível que pareça, não é a nossa cabeça que anda à roda, é o mundo que roda à nossa volta, não são os nossos olhos que veem tudo enevoado, é a realidade que é nebulosa. Não, não foi o álcool, nem o fumo da erva dormideira que nos afastou da realidade, o que nos intoxicou foram os fumos dos automóveis que nos guiam, das ondas eletromagnéticas dos telemóveis que nos socializam, da worl wide web que nos ensina tudo em código binário, 101000011100011100010010.
Impossível voltar à realidade. Tanto que eu gostava de voltar à realidade, reaprender a lucidez, pousar os pés na terra, cheirar o alecrim, ser como o meu avô, embora não dispensando o último livro que li, o banho de água quente, o frigorífico e um blogue de que gosto muito mas que não me lembro agora o nome - esqueço-me muito! - e um bom tinto!
Ébrio! Ou apenas um bocado arrebatado! Sem paciência para a televisão nem para os telespetadores, para os comentadores e para os comentados, para o governo e para os eleitores, para os reformados e para os empregados, para os alunos e para os professores, para os filhos e para os pais, para as crianças e para os anciãos, para os brigadeiros e para os soldados, para os juízes e para os julgados, para os exploradores e para os explorados, para os polícias e para os os ladrões, para os patrões e para os sindicatos, para os médicos e para os doentes, para os lúcidos e para os dementes, para os bêbados e para os que só bebem água.
- Eu, são e lúcido? Seria o homem ideal!
Assim, sou só um proco.. pcorco.. porco - consegui, apesar da cabra... da ciática!...
Gostava de ficar conhecido como o porco que inventou o termo "ebrionário".
5 comentários:
...e pode-se d´zer
é aqui que a cabra torce o rabo...
Cabras?Porcos?
Nunca te arrependas
Já estou tonto, ou melhor, ebrionário...
Cumps
https://jornaldascaldas.com/A_carroca_o_rapaz_e_o_burro
:-)
Não pode escrever ebrionariamente , Majestade. Porque a caneta é um veículo que nos transporta e PC também . E pese o facto de uma não ter motor e o outro ter, cá para a confraria das amizades é tudo iguazes :-).
Não ligue. Há quem seja ébrio a vida toda por motivos reservados e deve ser o meu caso.
Abraço.
Quem diria?, quem diria que a mediatização de uma ébrio-ciática tinha efeitos benéficos?
Só num reino com Vossa Majestade como mon'arca!
Obrigado pela excelência do textículo. Continue VM a ebrionar que bem precisamos,
Forte abraço
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