No jardim do Cardal existe um lago circular com uma estátua ao meio, não me lembro se com um peixe a deitar água pela boca, se com um menino a mijar. O lago é rodeado por um passeio com várias ramificações e limitado por um conjunto de colunas de pedra que formam uma pérgula que dá caminho às trepadeiras.
Nós passávamos ali todos os dias a caminho de outros cantos do jardim, com os livros de filosofia e química debaixo do braço e, todos os dias, estava um velho sentado no mesmo banco. Tive intenções de um dia falar com aquele velho mas nunca o cheguei a fazer. Não me lembro se o velho olhava para nós, para o jornal ou para a estátua.
Passou um grupo de jovens de mochila às costas e telemóvel na mão, um deles sorriu-me.
A esta distância não consigo ver se está um peixe a deitar água pela boca ou um menino a mijar, quanto mais ler um jornal!
Porra! Mijei-me todo! Provavelmente achei piada a alguma coisa que me passou pela cabeça! O pior é que já não me lembro da piada nem se algum dia passei por este lago e tive intenções de falar com um velho que estava aqui sentado! Não importa! Se não falei então, falo agora! Isto de um tipo falar sozinho dá nestas histórias.
3 comentários:
andas de "monco caído", pá?
com a biqueira dos sapatos molhada?
acontece aos melhores...
abraço, Majestade!
O velho?
Era eu!
Delicioso, como sempre, o seu texto.
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