quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Uma história sem piada


No jardim do Cardal existe um lago circular com uma estátua ao meio, não me lembro se com um peixe a deitar água pela boca, se com um menino a mijar. O lago é rodeado por um passeio com várias ramificações e limitado por um conjunto de colunas de pedra que formam uma pérgula que dá caminho às trepadeiras.

Nós passávamos ali todos os dias a caminho de outros cantos do jardim, com os livros de filosofia e química debaixo do braço e, todos os dias, estava um velho sentado no mesmo banco. Tive intenções de um dia falar com aquele velho mas nunca o cheguei a fazer. Não me lembro se o velho olhava para nós, para o jornal ou para a estátua.

Passou um grupo de jovens de mochila às costas e telemóvel na mão, um deles sorriu-me. 
A esta distância não consigo ver se está um peixe a deitar água pela boca ou um menino a mijar, quanto mais ler um jornal! 

Porra! Mijei-me todo! Provavelmente achei piada a alguma coisa que me passou pela cabeça! O pior é que já não me lembro da piada nem se algum dia passei por este lago e tive intenções de falar com um velho que estava aqui sentado! Não importa! Se não falei então, falo agora! Isto de um tipo falar sozinho dá nestas histórias.

3 comentários:

Manuel Veiga disse...

andas de "monco caído", pá?
com a biqueira dos sapatos molhada?

acontece aos melhores...

abraço, Majestade!

Rogério G.V. Pereira disse...

O velho?
Era eu!

Maria disse...

Delicioso, como sempre, o seu texto.