sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Sentido proibido


Quando eu comecei a andar na estrada o único sinal que havia era o STOP. A gente nem sabia que aquilo era inglês, a gente acreditava naquilo que se dizia, que eram as iniciais de Se Tens Olhos Pára. Era uma placa de cimento, com forma de árvore a duas dimensões, que assinalava a nossa entrada na estrada principal da vila. E assim a gente dizia, "ali ao STOP", "espero-te no STOP", "apanhei um susto no STOP", e até "dei-lhe um beijo atrás do STOP".

Mas depois, veio o 25 de abril, a malta começou só a pensar em carros e estradas, em poder local e em desenvolvimento, e o sinal de trânsito tornou-se até um indicador de democracia.

- Ó Presidente, ali à minha porta devia  haver um sinal de 40!

- Então ali ao STOP não há nenhuma placa a indicar Carvalhos?

- Aquela rua devia ter Sentido Proibido!

- Aquela rua devia ter o nome do Doutor Tal e Coisa!

E a malta candidata começou a perceber que a sinalética e a  toponímica tinham uma importância enorme no bem estar e na satisfação das populações. E vai daí, as placas de cimento, deram lugar às de chaparia, bem mais fáceis de fabricar e colocar e, tal como os humanos encheram a terra, os sinais encheram a paisagem como transeuntes numa rua de Bombaim.

- Chegaram hoje 50 sinais de perigo de peões e 10 de caça grossa! Amanhã pegam na carrinha e espalhem-nos por aí!

- Ó senhor presidente mas isto é assim!?

- O meu futuro genro trabalha nas autoestradas e também faz assim! Mas agora também é preciso algum projeto para pôr um sinal?

Desafio aqueles que esperam dentro dum carro por um pendura atrasado, numa praça, cruzamento ou arruamento, a fazerem o exercício de entretenimento de contar os sinais de trânsito presentes no seu campo visual. Vão ficar surpreendidos! É de mais!

Tornou-se num problema de poluição da paisagem, de não acrescentar nada, de  ninguém ligar, reparar ou simplesmente ler! 

Aqui mesmo, onde vivo, à entrada duma cidade de província, a política local, como em todo o lado, gosta de brilhar em brilhantes obras e prefere obrar vistosamente três quilómetros de estrada do que arranjar minimamente, a preços mais em conta, uma ligação mais longa que nos últimos destinos geográficos vai para Roma. A obra foi inaugurada agora, a comitiva percorreu-a, orgulhosa, nos seus cilindrados carros, 86 sinais de trânsito, só num sentido! Foi meu o trabalho de os contar! Há mais sinais que mães!

A contraproducência dos sinais em excesso, as coimas que se rebocam em alguns, o ridículo, muito mais ridículo do que eu escrever sobre o assunto, já chegou à consciencialização de alguns políticos: na europeia Bélgica, alguém propôs a retirada de 60% da sinalização rodoviária! O argumento é que distrai os condutores!

Enquanto candidato a presidente de junta eu fui mais longe: 

- Sinais? Só de STOP! E arrancar todo o alcatrão das estradas onde caminham crianças, cabras e reformados!

- Não! Não me queixo de não ser eleito!

  

3 comentários:

Janita disse...

Quando eu parar de rir e conseguir ver alguma coisa virei comentar...Pronto! Já me acalmei.
Vou só respirar ali ao terraço o ar frio da noite a ver se consigo respirar melhor.
Não posso é voltar atrás e reler. Sobretudo, às placas de cimento iniciais com o STOP, que davam para tudo até para dar beijos por detrás da dita. Eheheheheh

Outra coisa que não posso nem devo ir ver é a chegada dos 50 sinais de perigo de peões e 10 de caça grossa! Bolas! Os peões nessa sua santa terrinha correm mais perigo do que a caça grossa.

E mais não digo; se não o quanto admiro esta facilidade de fazer humor de uma forma única, e tão sui géneris. Ainda que uma coisa seja o mesmo da outra, soa-me bem...

Boa noite, caro Pata Negra. :)))

Tintinaine disse...

Um grande SYOP para gozar o fim de semana!

Portuguesinha disse...

Lol.
Interessante perspectiva e percepção do passado