Quando os meus pais juntaram os seus destinos fizeram o lar numa casa duns tios que tinham ido para o Brasil. Era ainda tempo de noivado quando montaram o indispensável curral para a porca: quatro por seis, meia parte coberta a uma só água em telha de canudo, paredes em costados de tábuas, uma pia em pedra, e mato, sempre mato, no chão para fazer esterco.
À medida que fui crescendo foram evoluindo as ordens de minha mãe: João vai ver se a porca já pariu; João vai levar esta lavagem à porca; João vai pôr uma macheia de mato no curral; João, vamos os dois com a porca ao porco; João vai tirar o esterco à porca; João vai preparar a banca para a matança. Até que um dia o meu pai me reparou no buço e sugeriu:
- João, hoje não te calha ajudar a segurar, és tu que vais pôr o anel na porca!
E entre cuinhos e safanões lá furei o nariz do animal e lhe enfiei o piercing em arame.
- Fossa agora! Fossa agora, porca do caralho!
Eu era agora um homem feito e, pela primeira vez, o meu pai não me repreendeu pelo palavrão.
Com o tempo tornei-me um especialista, a matança, a minha mãe durante o desmancho sempre a chamar-me pra ver e a dizer sempre:
- Se queres conhecer o teu corpo, mata um porco!
Bárbaro! Eu?! Sei lá! Nasci assim, mas evoluí, de tal modo que por muitos já sou reconhecido como o Rei dos Leittões, com dois tês porque é mais…
Porca de vida, já me esqueci aonde é que queria chegar com esta história! Também já não vou apagar o que está escrito nem a noiva da ilustração.
À medida que fui crescendo foram evoluindo as ordens de minha mãe: João vai ver se a porca já pariu; João vai levar esta lavagem à porca; João vai pôr uma macheia de mato no curral; João, vamos os dois com a porca ao porco; João vai tirar o esterco à porca; João vai preparar a banca para a matança. Até que um dia o meu pai me reparou no buço e sugeriu:
- João, hoje não te calha ajudar a segurar, és tu que vais pôr o anel na porca!
E entre cuinhos e safanões lá furei o nariz do animal e lhe enfiei o piercing em arame.
- Fossa agora! Fossa agora, porca do caralho!
Eu era agora um homem feito e, pela primeira vez, o meu pai não me repreendeu pelo palavrão.
Com o tempo tornei-me um especialista, a matança, a minha mãe durante o desmancho sempre a chamar-me pra ver e a dizer sempre:
- Se queres conhecer o teu corpo, mata um porco!
Bárbaro! Eu?! Sei lá! Nasci assim, mas evoluí, de tal modo que por muitos já sou reconhecido como o Rei dos Leittões, com dois tês porque é mais…
Porca de vida, já me esqueci aonde é que queria chegar com esta história! Também já não vou apagar o que está escrito nem a noiva da ilustração.
16 comentários:
Quando é a próxima matança?
:)
Tão engraçado. As coisas que conhece sobre esse modo de vida é de uma ternura...
Onde aprendeu essas coisas todas sobre a vida no campo ?
Mas, e depois ?
Conte mais da história...
Gostei muito das imagens : quer a dele quer a dela. São uma ternura mesmo.
Um bj
Maria
Para uma história feliz só falta um final regado com "Porca de Murça" tinto.
Este texto até é muito engraçado mas por baixo dele está uma história profunda. A história autêntica de uma vida autêntica.
E isso é o que importa.
Eu entendo o que me contas porque fui casada com um homem que participava destes rituais na terra, que eu respeito mas que me fazem alguma confusão. Tem mais a ver com as raízes e as minhas não foram essas. Uma vez, no Sintra ANIMA, encontrei uma exposição de animais em que havia uns porcos vietnamitas que pertenciam a uma quinta próxima. Estes animais percebiam muitas coisas e faziam muitas gracinhas como qualquer animal doméstico. Achei que nunca mais ia queres comer porco.
Eu entendo o que me contas porque fui casada com um homem que participava destes rituais na terra, que eu respeito mas que me fazem alguma confusão. Tem mais a ver com as raízes e as minhas não foram essas. Uma vez, no Sintra ANIMA, encontrei uma exposição de animais em que havia uns porcos vietnamitas que pertenciam a uma quinta próxima. Estes animais percebiam muitas coisas e faziam muitas gracinhas como qualquer animal doméstico. Achei que nunca mais ia queres comer porco.
Com um copito, sou homem para pôr a noiva a marchar... com umas batatinhas e salada...
Caro quintatantino:
Quanta discriminação ...
Porque é que há-de marchar ela em vez dele ?
Ela nem uniforme tem.
Está toda bonita, seguramente aperaltada para outras lides que não a marcha...
Ah, parabéns, fica-lhe melhor este visual do que o que habitualmente vestia o seu perfil fotográfico.
Saudações.
A sua Majestade, vénias e um bj
Maria
Wathcdog
a próxima matança é será quando a porca torcer o rabo.
Um abraço com cuinho.
Maria
Ora eu sou um vulto da província, não mais que isso, um vulto!
Não me faltarão histórias destas - estarei a ficar velho?!
Um abraço sempre novo.
Marreta
Neste ambiente, a marca raramente é bem recebida, turvo ou com um doce, é sempre o da casa.
Um abraço da casa.
Ninho de cuco
Talvez nem seja uma história, nem seja assim tão autêntica, uma vida entre tantas...
Um abraço com vida
Silêncio Culpado
A resposta pode estar no sabor dum bom enchido. Alguém tem que espetar o ferro, fica mal, a quem tem o prazer de comer, chamar nomes a quem lhe o prepara!
Um abraço com culpa
Quintarantino
Com que então é solteiro?!
(Para esta noiva tenho promessas de padrinho)
Um abraço e até á boda
mas, que existe uma atracção pelas porcas...
LOL! (Desculpa o termo mas realmente é o que melhor expressa a gargalhada que sinto ao ler os teus posts [alguns deles porque nem sempre é para rir]).
Bom, detesto a coisa de se matarem animais assim como o tipo de alimentação portuguesa, e não só, claro. Mas a história é encantadora e o remate, perfeito. Se fosse outro, seria fantástico na mesma, acredito :)
Dá ideia de curvas o que escrevi, deve ser por causa da noiva eheheh
bjinho respeitoso amigo J.R.!
A porquinha está bem gira. Eu prefiro a carne de porco à de vaca e de enchidos nem se fala.
Também já tive de matar uns quantos porcos, e também o fiz como "ritual de emancipação" assim mesmo entre aspas.
Cumps
A tradição já não é o que era e quem acabou com ela foram os burocratas de Bruxelas: acabaram com as criações caseiras, com os fumeiros e com as queijarias. Agora tudo é acético com corantes, conservantes e intensificadores de sabor.
Martelo
ele pode-se chamar muita coisa a uma mulher, mas a ternura que retribuem ao ouvir "oh minha porca!" é incomparável.
Um abraço asseado
Moriae
Já que os porcos não podem rir, "rimemo-nos" nós por eles!
(rimemo-nos existe?)
Um abraço a rir
Guardião
E no entanto, nunca me emancipei, vivo amancebado!
Um abraço mancebo
Metralhinha
Essa é das coisas melhores que nos estão a tirar. Ladrões!
Um abraço enchido
passou a existir!
bjinho amigo
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