terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Tratem-lhes da saúde

Este fim-de-semana, fui à Festa da Nossa Senhora da Conceição lá na terrinha. Prospectos afixados por tudo o que é sítio, sinalização do arraial pichada por tudo o que é cruzamento, bilhetes de sorteio não autorizado a preço de uma “santa” (entenda-se moeda de um euro), corte de estrada para corrida de sacos sem a presença da autoridade, Missa a céu aberto em altar que, à noite, vai servir de palco a um “Fernando Rocha” da região, vinho de origem incerta, eu sei lá!...
Os copos passados por água num alguidar, a cozinha e o comes e bebes em chão de fetos!... Os borregos e os porcos mortos em bárbara matança da véspera, ali mesmo. A corrida de frangos com frangos sem etiqueta, a garraiada assegurando a legalidade com uma placa manuscrita em português: “A cumição não se responsabilisa por qualquer assidente provucado pelo nuvelho”.
E depois, foguetes a estalar lançados por não encartados, balões de ar quente em voos não autorizados, divulgação em alto som de música de autor, a instalação eléctrica com ligações a fita isoladora. Para completar o quadro, homens a mijar à frente dos pinheiros, mulheres agachadas por detrás dos silvados, gente a cantar mal da vida e do governo, enfim a Festa!

Denuncio aqui o acontecimento a bem desta gente que tanto amo. Na terra muita gente tem morrido e todos eles participavam na festa da Nossa Senhora da Conceição. É coincidência a mais. Peço a intervenção protectora da ASAE.
Esta gente tem de perceber que o mundo evoluiu, uma festa a sério tem de ter condições de higiene, saúde e segurança! Por favor acabem com a festa da minha terra senão aquela gente morre toda!

Tenho medo deles, são rudes, porcos e bárbaros! Não vou dizer exactamente onde é! Sei lá se o filho de algum vai à Internet, à procura de leitões pró pai comprar e me encontra a bufaria que aqui vai! Dou apenas uma pista, é uma aldeia que esteve representada no apoio à vitória de António Costa em Lisboa. Talvez este facto contribua para que as autoridades tenham um pequeno gesto de atenção para com o interior esquecido. Esta pobre gente que não tem água ao domicílio, nem saneamento básico, nem serviços médicos, nem escola, nem transportes públicos, nem nada, que tenha ao menos um sinal de que não está só.
Eles já ouviram falar da ASAE, chamam-lhe Pide da CEE.
Esta gente é resistente e fina: disseram já que, se for preciso, fazem o arraial secretamente! Acabem-lhes com a festa, tratem-lhes da saúde! E um conselho de quem conhece o terreno: vão bem armados.

20 comentários:

Pata Negra disse...

Como devem perceber a pista é errada. Parece que já os estou a ver em Cabeceiras de Basto, no Teixoso ou no Alandroal à procura da Nossa Senhora da Conceição!!!
Ah!Ah!Ah! A Terrinha eles não descobrem onde é!

carlos filipe disse...

Pata Negra, Pata Negra,
já perdi o teu roncar
nessa aldeia distante
tão difícil de encontrar.

Pata Negra, Pata Negra,
não sei onde a ir buscar!.

ARTUR MATEUS disse...

Oh Pata Negra! Ninguém como tu para me dares desgostos. Então neste país cheio de merda já nem se pode cagar ecologicamente?
Uma boa denúncia Pata Negra. O teu humor porcino é imbatível.

7 disse...

Majestade...foi salve-se quem puder!! E a Asae ainda não descobriu?? Não...impossível...ou será que são todos de lá e não se querem mostrar? Já investigaste? É sempre mau denunciar a terra natal, isto se for o caso, de eles serem de lá. Se ainda não descobriram esse arraial, é porque eles andam distraidos...Abraços pecadores.

Zé Povinho disse...

A ASAE só serve mesmo para chatear a malta. Estou mesmo a ver esses fulanos a deslocar-se a uma vila ou aldeia do interior com um cortejo de jornalistas e de polícias do corpo de intervenção, para multar o Ti Manel por matar o porquito para fazer os enchidos para no Natal presentear os filhos que vêm de Lisboa e da estranja.
Será que foram passar a pente fino a comida que fizeram para o senhor Kadafi, para verificar as condições de higiene?
Abraço do Zé

Abrenúncio disse...

Conheço bem a realidade. Também já frequentei muitas festas desse calibre ou pior (ou melhor, conforme a perspectiva...). Cuidado Pata Negra. Com a onda de violência que por aí anda, ainda são capazes de lá ir despejar rajadas de metralhadora e acabar com a festa e com a gentinha toda.
Não lhes dês ideias!
Saudações do Marreta!

Pata Negra disse...

Boris, Boris, Borizinho
poder-me-ás encontrar
se tu fizeres ao caminho
simplesmente a caminhar

Caminhante, Caminhante
moro daí para levante

Pata Negra disse...

Alex
Pûs-me a cagar ao relento
Como me ensinou meu pai
Um cheiro veio com o vento
Fugi logo, era a ASAE!

Pata Negra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A. João Soares disse...

Boa disposição e um texto bem estruturado a pintar uma situação que ainda abunda pelo interior que agora querem reabilitar, evitando a desertificação.
Abraço
(o blog Do Miradouro tem novos posts todos os dias)

Pata Negra disse...

7 pecados mortais
Eu bem os tento atrair
Para ver se eles lá caem
Se eles nos descobrirem
Garanto, não de lá saem

(não saem de lá? sei lá como é que se escreve!)

Um abraço asae

Pata Negra disse...

Zé Povinho
Uma nova forma de colonização!
Valha em Kadafi a excepção!

Um abraço doutro Zé

Pata Negra disse...

Marreta
Sim, não acredito que eles levem as metralhadoras descarregadas! Vão prontos a atirar a quem lhes faça frente. A nossa técnica será ir por trás!
Um abraço do arraial

Compadre Alentejano disse...

Oh, Pata Negra, não querendo ofender os porcos sou de opinião que os da ASAE ainda são mais porcos que eles!...
Deixa a malta se divertir, pois lá diz o povo: o que não mata engorda...
Um abraço
Compadre Alentejano

carlos filipe disse...

Nessa aldeia da verdade
em que as pessoas que moram
vivem iguais a si próprias
tudo é de boa vontade.

Cagam quando há necessidade
e apenas com a verdade
nadinha de falsidade.

Pata Negra, meu amigo,
contigo irei caminhar
longe da mediocridade

Anónimo disse...

A descrição da Festa na tua aldeia podia ser a da Festa da minha aldeia. Basta tirar o porco e pôr o borrego. E, é verdade, juntar as procissões. Na Festa da minha aldeia há três procissões. Uma de 3.ª outra de 2.ª e outra de primeiríssima categoria. Com "anjihos", que tanto podem ser as várias nossas senhoras como os santos mais diversos cada um com os apetrechos adequados às suas profissões ou milagres. São crianças que, por promessas dos parentes próximos, desempenham estas tarefas. Coitadinhas, não fazem a mínima ideia por que as obrigam a estar assim vestidas e a transportar aqueles adereços. Daí resulta que o martelo ou a serra de S. José ou as flores da Raínha Santa ou a áurea de um outro qualquer santo seja levada por um familiar próximo que, ali ao lado vai vigiando, repreendendo e ajudando o "anjinho".
Mas depois da procissão (eh pessoal) há a chanfana, o vinho, as farturas, o carrocel, as barracas de tiro, a cassete pirata e a música. Sim, a música! O Quim Barreiros é imprescindível...E outros do género.
E à meia noite os esperados "foguetes de lágrimas" nome a que na minha aldeia dão ao que noutras terras chamam "fogo de artíficio".
Depois, bem depois, toda a gente se arrasta até casa com a sensação de que, afinal, a festa não prestou para nada. Mas no ano seguinte, todos estão desejosos, impacientes para que a festa volte com a esperança que, sim, desta vez é que vai ser, este ano, sim, é que me vou divertir até fartar, este ano vou gozar até mais não.

quintarantino disse...

Então, já zurziram aqueles costados ou ainda não?

Watchdog disse...

Já assinei a petição no post acima.

1 Abraço!

Belzebu disse...

Eles estiveram representados na festa do António Costa, a mais de 300kms? Pois então bem podes esperar sentado porque nada os irá incomodar! A Senhora da Conceição ainda pode ser intimada para prestar declarações, mas esse povo fiel ao poder rosa, não vai ser incomodado!

ehehe!! Aquele abraço infernal!

Anónimo disse...

É pá, a procissão aqui, graças a deus, são
duas dezenas de beatas e beatos, e está finita em meia hora. Mesmo assim tento evitá-los não seja o caso de me quererem batizar; o que vale é que eles não gostam muito muito de passar pela minha rua.
;)
Quanto à AZAE, eles já por aqui perto andaram a passar multas por morte de porcos, e a queimar tudo; e pode ser um mito urbano(rural) mas houvi dizer que um homem se suicidou por causa disso.