Ouvir a música, enquanto se lê, ajuda a entrar no ambiente da história. Depois do 4, do 3, do 2 e do 1, este é o 5. Como se vê, ainda sei contar a quantas ando.
Cipriano investiu todo o dinheiro que trouxe de França. Além do bar, da sala de petiscos e do salão, fez também uma piscina, uma pista de motocross, uma loja de instrumentos musicais, uma pequena empresa de construção civil, pintura e decoração. Na designação actual chamar-se-ia o “Grupo Cipriano”.
Os putos dos Quentes, em cuja formação base eu, com 16 anos, era o mais velho, começaram a ter sucesso e contratos para todos os sábados e domingos. Fazíamos quilómetros e viajávamos horas na Peugeot J7 de matrícula francesa. Cipriano não legalizava a carrinha e mantinha a banda registada em França para poder atravessar a fronteira com a J7 carregada de aparelhagens sem pagar direitos alfandegários – era o conjunto que vinha actuar a Portugal. Esta actividade de contrabando permitia-nos estar sempre a tocar com bons equipamentos e das melhores marcas, que eram aquelas que proporcionavam melhores negócios e que, simultaneamente, nos davam algum prestígio. Durante as longas viagens que fazíamos o nosso empresário ditava recomendações de maestro e outras instruções:
- Se a polícia nos mandar parar “nós vivemos em Neuilly Plaisance – Champinhy e viemos actuar a Portugal!...”
E assim aconteceu. Durante a inspecção da autoridade, Cipriano e o filho Nini não pararam de falar francês. Os restantes passageiros, limitados ao português, fizeram o melhor e mantiveram-se calados. Num remate de desconfiança, e dando prova de arranhar francês, o polícia dirigiu-se ao Tarolas:
- Comment tu t’appelles?!
- Neuilly Plaisance.
- Tu as bu quelque chose?
- Champinhy.
O Tarolas foi brilhante, o polícia mandou-nos seguir e lá continuámos “sur la route” a tocar e a cantar.
12 comentários:
" La vie é belle, mais le famme dan cab delle", n'est ce pas???
Saudades de noites mal dormidas e de estrelas quadradas.
Olá Majestade
Que vida rica - não rica vida - teve Sua Majestade! E que bem que no-la sabe contar!
Alberto Cardoso
No tempo em que Sua Majestade era un petit cochon, já passada a fase de cochon de lait (leito?)... sem desrespeito, claro!
As minhas homenagens parce que o texto está for me d'able, como diria o Aznavour de todos os tempos.
Um abraço
São as contas de uma vida experenciada.Fico curiosa pela possibilidade de um dia ser feito um balanço.
Abraço
O franciu do Tarolas afinal até deu jeito, ao contrário do ami do Miterran que deu no que deu.
Cumps
Esta está de génio! Quase me convenceste de que finalmente nos contas uma história verídica!
quem é o bimbalhão que está a cantar aí em cima?
abraço
Olá Pata Negra!
Uma pessoa quando vem aqui tem de se rir! Primeiro porque escreve deliciosamente, depois usa de umas expressões muito a propósito, tal como quando escreveu: "...limitados ao português, fizeram o melhor e mantiveram-se calados." Na realidade, esta é sempre a melhor atitude na maior parte das circunstâncias. Mas ainda me rio com os comentários dos visitantes, como por exemplo o do opolidor, quando pergunta quem é o bimbalhão que canta no vídeo! :)))
Ontem vi o vídeo e também tive o mesmo choque, é bimbo e feio que se farta!
caro pata:
as peripécias de cipriano e sua banda infernal seguem muito bem. aguardemos a próxima semana e o próximo passo.
divirto-me muito.
abraços.
pata negra:
agradeço o seu comentário sobre o meu poema na "recalcitrante".
um abraço.
romério
Fónix, agora com esta fizeste-me arreganhar a taxa! Tá boa!
A propósito, não foi esse tal Cipriano que abriu o primeiro salão do reino das testemunhas do Jeová em Portugal?
Saudações do Marreta.
E mais, essa porcaria aí do lado, dos feeds, ou lá como se chama, não funciona! Já publiquei mais de 10 posts desde há 6 dias!
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