Uns tremoços?! Não! Uma refeição num restaurante de estrada perto de Porriño.. Chegados à cidade averiguaram que, contrariamente ao esperado, não havia albergue. Até Redondela ainda era uma distância do caraças, trinta e oito quilómetros para um primeiro dia era obra! A mochila já pesava muito mais do que inicialmente. Discutiram. Nem será preciso revelar os pés que queriam pernoita por ali e os que votavam pela segunda etapa. Carimbou-se a credencial na Casa Consistorial de Porriño e “à Caminho para que te quero!”
O traçado começava a oferecer ambiente para receber a energia do Caminho, para pensar na existência, no além, para olhar as coisas e os seres, para sentir o corpo, a força, a dor, para caminhar, cheirar a Galiza e até o odor de Marie France que de certeza por ali teria passado há algumas horas. Dito de outra forma, a Galiza deixava-se comer.
O pior foi quando a montanha se apresentou aos pés do rio, primeiro a aldeia com a rua íngreme, depois subir, subir, depois o planalto e lá em baixo as rias e Redondela, descer a custar tanto como subir, o fim da tarde a anunciar o anoitecer e todos os pés a rebentar pelas costuras.
O melhor foram as sandes de "xamón" e o vinho galego, o chegar e o saber que existia outro ser solitário pelo caminho.
Albergue de Redondela - fonte da foto
A chegada a Redondela aconteceu era já noite. O cansaço era já tanto que todos os Pés se ignoravam entre si, descomandados. A cidade festejava o Sábado de Aleluia. O abrigo para peregrinos ficava no centro, num edifício histórico recuperado para o efeito. Sentada no chão, à porta e com a mochila ao lado, com o perfil definido pela luz amarela da iluminação pública, uma mulher dos seus sessenta anos, cabelo curto e encanecido, estatura mediana, corpo consistente e atlético, roupagem de caminhante experiente, boca de crustáceo, sorriso sólido, bochecha rósea, claro: Marie France.
Já estava ali há horas, já alguém responsável por ali tinha passado - foram buscar as chaves. Três senhoras de fato festivo e bem parecidas apareceram na esquina, apresentaram com excepcional simpatia as instalações quase a estrear, falaram da festa, de onde se comia bem e entregaram as chaves bem como a indicação de onde, no dia seguinte, as deveriam deixar.
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E dito isto, nisto, neste cenário, nesta circunstância, os sete pés, cada um deles, olharam-se a si próprios do artelho ao fim das unhas e pensaram, cada um deles, para si próprios, que a história deste dia sabia a pouco... assim, como os tremoços, tantas cascas e a fome sempre viva, por matar...
Isto é já só o narrador a justificar a falta de enredo... a falta de tremoços... a falta de cerveja... pois... escrevendo melhor: Até para a semana! Pode(s) ler toda a história em O Caminho do Fim da Terra
8 comentários:
Enfim, nunca foi fácil ir em peregrinação a Santiago... A Fátima deve ser ainda pior, morrem sempre uns quantos pelo caminho...
Fico então à espera...
Abraço.
Que mais irá acontecer ao Sete Pés?...
Abraço
Compadre Alentejano
Um diva de sessenta anos. Sempre foste um depravado (desde o quarto que nunca mais me enganaste).
Mas olha, estou curioso, tens aí material de primeira, força!
Essa dos sessenta anos é que me baralhou... Tinha ficado com outra ideia! Só surpresas. Tantas quantos os pés.
"Isto" merece edição.
Venha o próximo.
Um abraço
Olá Majestade.
Como já é costume estou a gostar da história principalmente dos pormenores dos caminhos, das descrições dos Albergues e das referências ao "xamón" e ao vinho galego. Se Vossa Alteza Real não fosse Rei até diria que, já uma vez, em peregrinação, foi a pé a Santiago de Compostela. Também gosto da generalidade das fotografias dos lugares por onde os Sete Pés passaram. Só a última me desiludiu porque em vez da "fonte da foto" esperava encontrar a "foto da fonte" onde, presumivelmente, os peregrinos matam a sua sede.
Alberto Cardoso
Que tal lavar e massajar os pés depois desta etapa, e aproveitar a pausa para a bejeca e os tremoços. São merecidos!
Cumps
Pata
uma leitura que tem o condão de prender a atenção e o gosto pela leitura; sem dúvida.
abraço
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