quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

É sempre bom trazer um saco com coentros

Quando deixei de trabalhar por ter enlouquecido não avisei a entidade patronal. Por muito que aparente estar curado, um tipo nunca mais fica bom dos cornos. Não prestigia a empresa ter colaboradores que vão para o trabalho em bicicletas com fitas coloridas nos punhos do guiador.
- Estás despedido!
Respondi-lhe que aceitava que um patrão, como dono do trabalho, deve poder despedir e admitir como lhe apetece. Acrescentei que concordava com todas as recentes alterações às leis do trabalho que visam aumentar a criação da riqueza. Expliquei que compreendia a generalização da flexibilidade laboral como  forma de melhorar a produtividade. Agradecia-lhe até, a oportunidade que me dava de poder dar o meu contributo para ultrapassar a crise em que o país se encontra já que, pelo que ouvia na televisão, os despedimentos e o desemprego são necessários à salvação do país. Indemnizar-me?! Nem pensar! Eu apenas me sentia no direito de receber a troco de trabalho efectivo e não estava na disposição de usufruir de regalias que trouxeram as coisas a este estado.
- Não pode é ter entre os seus argumentos o facto da minha bicicleta ter fitas coloridas nos punhos do guiador!
- Tu ainda não estás bom dos cornos! Tu devias voltar para o asilo! Pelo menos lá não passas fome!
- O meu médico disse que eu devia procurar a Normalidade. Ora que eu saiba a sua mulher chama-se Saudade de Outros Tempos - que raio de nome para uma mulher! - e o senhor, dada a sua espécie, nunca pode ter dois cornos e a minha bicicleta tem duas rodas!
E dito isto, esfreguei-lhe  os coentros que trazia comigo na orelha direita, comi um pedaço e fugi, sem fome, em cima das duas rodas da minha bicicleta.
Agora quem quer uma indemnização é ele, e não faz por menos: trinta mil euros! Com trinta mil carvalhos! O bocado de orelha não tinha o tamanho de uma moeda de um euro!
Não sou inimputável, mas se um bocado de orelha pode valer trinta mil euros, quanto é que vale o saco de coentros que anda sempre comigo?! É que se não fosse o caso de eu ser um homem de princípios, eu podia antes ter comido a dona Saudade e, pelo menos, não teria sentido a falta do azeite!

14 comentários:

Zé Povinho disse...

Hoje fui o primeiro a para aqui e a comentar, mas vou ser breve: PORREIRO, PÁ! Sem conotações sacanas como as dos autores da frase por mim plagiada.
Abraço do Zé apreciador de orelha

O Puma disse...

Os coentros são imprescindíveis

mas este texto merecia mais que uma orelha - talvez o corpinho inteiro.

não vá ir para os coelhos
que já foram herbívoros

Abraço

salvoconduto disse...

Vais ver que ganhas a causa, bem vistas as coisa só comeste parte de uma orelha quando tinhas direito às duas, se bem que não estás isento totalmente da culpa, faltou-te pregar-lhe o par de bandarilhas com a dona Saudade, mas ainda vais a tempo. Só espero que ela não cheire a reco como o marido, se não ficas sem forças para espetares a bandarilha.

Deixa-me ir embora que eu até sou contra as toiradas.

Abraço com cheiro a desodorizante, longe de mim os coentros.

Maria disse...

Fico quase sempre sem jeito depois de te ler. Sorrio e passo ao blogue seguinte. Mas hoje o títulos do post foi por demais cheiroso e aguçou-me as papilas gustativas. Pensei logo em... pezinhos de coentrada...

:)))

MARIA disse...

Majestade, o que são coentros ?
Não me leve a mal a singeleza da minha questão, mas desde já aviso que o seu médico também me poderia bem mandar a essa parte que o mandou...
E quem não anda neste País por essa parte, anda seguramente por perto, do jeito que vão as coisas.
Eu penso no sentido poético literário dos coentros e avilto :
co- entro - s
A decomposição do termo inspira-me , parece-me que co entramos em alguma coisa. Diga-me Majestade, estou errada ?
O problema é co entramos aonde eles querem e nunca mais entramos num campo verde de cheiros aromados a esperança ... :) :)


Um beijinho amigo

Maria

antónio ganhão disse...

A lucidez deste texto, desta ecrita, deste pesonagem impressiona-me. Já emigraste e escreves isto de um outro país? Precisamos que nos devolvam a nossa sanidade mental.

Fernando Samuel disse...

Com um saco de coentros, sempre!


Um abraço.

Cristiana Duarte disse...

Ola!
Sou estudante de Psicologia, estou no último ano e a fazer estágio.Vi um comentário seu no Blog Silencio Culpado, e como estou a realizar um projecto de investigação com doentes bipolares pensei que me pudesse ajudar na investigação. Estou a estudar a forma como é que é encarada a conjugalidade por parte de alguém que tem o diagnóstico de perturbação bipolar. Li que conhecia uma pessoa bipolar, não sei se essa pessoa é casada ou se vive em uniao de facto com alguém (mesmo que há menos de 2 anos). Será que me pode ajudar a que essa pessoa ,se estiver nestas condições preenchesse um questionário que lhe enviaria por e-mail ou correio? Sou estudante do 5º ano de Psicologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, chamo-me Cristiana Duarte. E ficaria imensamente grata se o Nuno aceitasse participar nesta minha investigação. A forma de participar é preencher um questionário anónimo que lhe posso enviar digitalizado via internet, ou por correio.
Tenho muitas coisas estudadas nesta área da Bipolaridade e posso disponibilizar-me para a ajudar no que pretender deste lado, enquanto futura psicóloga, ou mesmo, enquanto uma pessoa normal que se interessa pelo estudo desta doença.
Obrigada pela disponibilidade.
O meu e-mail é duarte.cristiana@gmail.com
Com os melhores cumprimentos,
Cristiana Duarte

JFrade disse...

HEHEHEHEHEHEHE.
Basta ler um comentário seu num qualquer blogue para topar a sua bipolaridade. No caso, parece-me, polipolaridade.
HEHEHEHEHEHEHE.
Não sei que "personalidade" irá responder à Cristina. Espero que, nessa altura, caro Nuno, já tenha tomado os medicamentos todinhos.
HEHEHEHEHEHEHE.
JFrade

José Lopes disse...

Foi o aroma que me fez aqui chegar e fiquei a saber que sua majestade já é objecto de estudo. Um caso sério pelos vistos, eheheheh
Cumps

do Zambujal disse...

'Tás mesmo marado. Agora orelha com coentros. 'Inda se fosse com feijão branco. Agora coentros... Depois queres concertação social!

Vai-te curar.

Unknown disse...

Odeio coentros. Se vim, apesar do cheiro, foi pela orelha.

Uma abraço!

Irene Alves disse...

Foi a primeira vez que aqui estive
e logo eu que gosto de leitão...
seja orelha ou lá o que for.
Mas tenho que pensar mais seriamente
no conteúdo deste blogue.
Saudações
Irene

Anónimo disse...

Majestade, experimente a reler o seu texto como se não o tivesse escrito e pressupondo que o autor é bipolar.
Eu já o tinha lido, agora voltei cá e reli nesta outra perspectiva,ri como há muito não acontecia.mfm
Bom fim de semana.