Quando deixei de trabalhar por ter enlouquecido não avisei a entidade patronal. Por muito que aparente estar curado, um tipo nunca mais fica bom dos cornos. Não prestigia a empresa ter colaboradores que vão para o trabalho em bicicletas com fitas coloridas nos punhos do guiador.
- Estás despedido!
Respondi-lhe que aceitava que um patrão, como dono do trabalho, deve poder despedir e admitir como lhe apetece. Acrescentei que concordava com todas as recentes alterações às leis do trabalho que visam aumentar a criação da riqueza. Expliquei que compreendia a generalização da flexibilidade laboral como forma de melhorar a produtividade. Agradecia-lhe até, a oportunidade que me dava de poder dar o meu contributo para ultrapassar a crise em que o país se encontra já que, pelo que ouvia na televisão, os despedimentos e o desemprego são necessários à salvação do país. Indemnizar-me?! Nem pensar! Eu apenas me sentia no direito de receber a troco de trabalho efectivo e não estava na disposição de usufruir de regalias que trouxeram as coisas a este estado.
- Não pode é ter entre os seus argumentos o facto da minha bicicleta ter fitas coloridas nos punhos do guiador!
- Tu ainda não estás bom dos cornos! Tu devias voltar para o asilo! Pelo menos lá não passas fome!
- O meu médico disse que eu devia procurar a Normalidade. Ora que eu saiba a sua mulher chama-se Saudade de Outros Tempos - que raio de nome para uma mulher! - e o senhor, dada a sua espécie, nunca pode ter dois cornos e a minha bicicleta tem duas rodas!
E dito isto, esfreguei-lhe os coentros que trazia comigo na orelha direita, comi um pedaço e fugi, sem fome, em cima das duas rodas da minha bicicleta.
Agora quem quer uma indemnização é ele, e não faz por menos: trinta mil euros! Com trinta mil carvalhos! O bocado de orelha não tinha o tamanho de uma moeda de um euro!
Não sou inimputável, mas se um bocado de orelha pode valer trinta mil euros, quanto é que vale o saco de coentros que anda sempre comigo?! É que se não fosse o caso de eu ser um homem de princípios, eu podia antes ter comido a dona Saudade e, pelo menos, não teria sentido a falta do azeite!
14 comentários:
Hoje fui o primeiro a para aqui e a comentar, mas vou ser breve: PORREIRO, PÁ! Sem conotações sacanas como as dos autores da frase por mim plagiada.
Abraço do Zé apreciador de orelha
Os coentros são imprescindíveis
mas este texto merecia mais que uma orelha - talvez o corpinho inteiro.
não vá ir para os coelhos
que já foram herbívoros
Abraço
Vais ver que ganhas a causa, bem vistas as coisa só comeste parte de uma orelha quando tinhas direito às duas, se bem que não estás isento totalmente da culpa, faltou-te pregar-lhe o par de bandarilhas com a dona Saudade, mas ainda vais a tempo. Só espero que ela não cheire a reco como o marido, se não ficas sem forças para espetares a bandarilha.
Deixa-me ir embora que eu até sou contra as toiradas.
Abraço com cheiro a desodorizante, longe de mim os coentros.
Fico quase sempre sem jeito depois de te ler. Sorrio e passo ao blogue seguinte. Mas hoje o títulos do post foi por demais cheiroso e aguçou-me as papilas gustativas. Pensei logo em... pezinhos de coentrada...
:)))
Majestade, o que são coentros ?
Não me leve a mal a singeleza da minha questão, mas desde já aviso que o seu médico também me poderia bem mandar a essa parte que o mandou...
E quem não anda neste País por essa parte, anda seguramente por perto, do jeito que vão as coisas.
Eu penso no sentido poético literário dos coentros e avilto :
co- entro - s
A decomposição do termo inspira-me , parece-me que co entramos em alguma coisa. Diga-me Majestade, estou errada ?
O problema é co entramos aonde eles querem e nunca mais entramos num campo verde de cheiros aromados a esperança ... :) :)
Um beijinho amigo
Maria
A lucidez deste texto, desta ecrita, deste pesonagem impressiona-me. Já emigraste e escreves isto de um outro país? Precisamos que nos devolvam a nossa sanidade mental.
Com um saco de coentros, sempre!
Um abraço.
Ola!
Sou estudante de Psicologia, estou no último ano e a fazer estágio.Vi um comentário seu no Blog Silencio Culpado, e como estou a realizar um projecto de investigação com doentes bipolares pensei que me pudesse ajudar na investigação. Estou a estudar a forma como é que é encarada a conjugalidade por parte de alguém que tem o diagnóstico de perturbação bipolar. Li que conhecia uma pessoa bipolar, não sei se essa pessoa é casada ou se vive em uniao de facto com alguém (mesmo que há menos de 2 anos). Será que me pode ajudar a que essa pessoa ,se estiver nestas condições preenchesse um questionário que lhe enviaria por e-mail ou correio? Sou estudante do 5º ano de Psicologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, chamo-me Cristiana Duarte. E ficaria imensamente grata se o Nuno aceitasse participar nesta minha investigação. A forma de participar é preencher um questionário anónimo que lhe posso enviar digitalizado via internet, ou por correio.
Tenho muitas coisas estudadas nesta área da Bipolaridade e posso disponibilizar-me para a ajudar no que pretender deste lado, enquanto futura psicóloga, ou mesmo, enquanto uma pessoa normal que se interessa pelo estudo desta doença.
Obrigada pela disponibilidade.
O meu e-mail é duarte.cristiana@gmail.com
Com os melhores cumprimentos,
Cristiana Duarte
HEHEHEHEHEHEHE.
Basta ler um comentário seu num qualquer blogue para topar a sua bipolaridade. No caso, parece-me, polipolaridade.
HEHEHEHEHEHEHE.
Não sei que "personalidade" irá responder à Cristina. Espero que, nessa altura, caro Nuno, já tenha tomado os medicamentos todinhos.
HEHEHEHEHEHEHE.
JFrade
Foi o aroma que me fez aqui chegar e fiquei a saber que sua majestade já é objecto de estudo. Um caso sério pelos vistos, eheheheh
Cumps
'Tás mesmo marado. Agora orelha com coentros. 'Inda se fosse com feijão branco. Agora coentros... Depois queres concertação social!
Vai-te curar.
Odeio coentros. Se vim, apesar do cheiro, foi pela orelha.
Uma abraço!
Foi a primeira vez que aqui estive
e logo eu que gosto de leitão...
seja orelha ou lá o que for.
Mas tenho que pensar mais seriamente
no conteúdo deste blogue.
Saudações
Irene
Majestade, experimente a reler o seu texto como se não o tivesse escrito e pressupondo que o autor é bipolar.
Eu já o tinha lido, agora voltei cá e reli nesta outra perspectiva,ri como há muito não acontecia.mfm
Bom fim de semana.
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