quarta-feira, 27 de junho de 2012

Arrenda-se quarto

(dedico aos que também não pensam)

Não gosto dos móveis do meu quarto porque me tortura e aborrece a sua quietude, o seu silêncio.
Não é porque me respeitem, é vingança para que eu inveje a sua condição de matéria inerte!
Ah!!! Mas eu sou Vivo!...
Ó vaca de cama onde se deitam toda a espécie de sonhos e pensamentos!...
Ó secretária frustrada e untada com caracteres que nem sequer são de palavra e que tentas convencer-me que vou passar a vida olhos nos nós da tua madeira serrada!...
Ó guarda-roupa que tens a mania que me assustas com o teu espelho cego e mal sabes tu que fui criado à imagem e semelhança de Deus!...
Sou Vivo!...
Ó estante imunda, que nem sequer existes aquém da minha imaginação, que me chamas pobre e desconheces, por natureza, a riqueza do meu conhecimento!...
Ó cadeira emproada de orgulho por me tocares as costas e o traseiro e nem sequer te foi reservado o direito de experimentares os prazeres do corpo!...
Sou um ser Vivo!...
Ó candeeiro que nunca viste o sol nem sabes as causas físicas da electricidade e julgas dar-me luz!...
E tu, que te sentes viril por estares de cabeça e ao corrente dos sexos adúlteros cá do bairro e não passas de mesinha sem penico e com gaveta de trocos!...
Só tu, meu rádio querido, me dás sinais de vida! 
Música! Música!
És tu que fazes do meu quarto meio.

(hoje, mais uma vez, vou dormir dentro do meu rádio que está dentro do meu quarto…)

10 comentários:

cid simoes disse...

Boa soneca.

Zé Povinho disse...

Bom embalo musical para um sono reparador.
Abraço do Zé

Anónimo disse...

Bonitas palavras! Muito bem pensadas e escritas...excelente poder de imaginação.Bom soninho acompanhado de boa música. Votos de um despertar tranquilo. Deixo um xi-<3

JFrade disse...

Devo estar muito doente. Não é que estou convencido que já vi este poste neste blogue há uma semana atrás? Mas não está, que acabei de conferir. E se não está é porque nunca esteve. Resta-me concluir que ando a ver coisas. Mas parece que não sou só eu que não está bem: ainda há dias li que o Cavaco ouve passos. Palavra de honra.
JFrade

Ao Crisântemo não engano eu. Leiam o que ele me disse...

Cá está o Pata Negra a gozar com a malta: escreve uma data de coisas sem nexo e lá aparecem os “intelectuais de serviço” a gabar a originalidade e a “profundidade” do texto e outros disparates afins. Não há pachorra…
Crisântemo Ciclomotor (Primo da Rosa Mota)

salvoconduto disse...

O teu rádio tem pilhas?

do Zambujal disse...

Intelectual de serviço? Vai dar uma volta... de mota ou de ciclomotor, vai apanhar rosas ou crisântemos (conheces a do Brel de chrysanthème en chrysanthème do j'arrive?... eu, que sou um intelectual, conheço....ora toma!).

Passando à porçaria... grande texto, dos que dá gosto ler e saborear. A gente há-de conversar!

Um abraço

O Crisântemo Ciclomotor, respondeu ao Zambujal e disse...

Francamente, Ó Zambujal! O que é que o Brel tem a ver com a "porcaria" (eu não fui tão longe, mas concordo) que o Pata Negra escreveu? E, logo a seguir teces loas ao "grande texto". Grande texto? Eu não o acho assim tão comprido embora reconheça que tive dificuldade em chegar ao fim.

"Ó vaca de cama onde se deitam toda a espécie de sonhos e pensamentos!...
Ó secretária frustrada e untada com caracteres que nem sequer são de palavra e que tentas convencer-me que vou passar a vida olhos nos nós da tua madeira serrada!..."

Mas que raio é isto? Literatura?! Poesia?!
Não há pachorra...
Crisântemo Ciclomotor (Primo da Rosa Mota.

Pata Negra disse...

O senhor Crisântemo Mor é masoquista?
Porque não lê a bola! Aqui não se escreve bem nem mal, nem prosa nem poesia, aqui escreve-se o que vai na real gana do rei!
Um abraço do quarto de estudante

maceta disse...

Pata

a mobília é de madeira a sério ou daquela que esfarela?

abraço