sexta-feira, 29 de março de 2013

Crucifiquem-me mas não me aleijem

Não gosto de ver ninguém crucificado,  sinto os meus próprios pulsos a pulsar de dor. O menino e o burrinho, um jovem a aprender de carpinteiro com o padrasto de nome Zé, um homem novo de barbas louras a subir para o céu, isso eu gosto! Mas faz-me arrepios que, perante a figura de um crucificado, se ore, se implore, se dê culto, se coleccionem crucifixos e que essa cruz, tenha substituído o peixe, como símbolo da minha religião. Ao menos o peixe sempre podia aguçar o apetite!

Eu, que culturalmente sou cristão, gostava que os adoradores da dor do bom Homem e do bom Crucificado que foi Jesus, em vez do culto da imagem, lhes desse para o cumprimento da palavra que nos deu e começassem a dar, a dar, a dar, a dar tudo o que têm: aquele ex-ministro das finanças que costuma falar do aborto, aquele ex-gestor do bcp que se abotoou, o outro, o do "aguenta, aguenta", que também invocou a sua fé, aquele que fala aos domingos na tv e sabe tudo e diz que dá, o outro que é presidente da república e que também vai à missa, isto só para citar uns poucos de que nem sei o nome mas sei que muito têm.

Imaginem que esta gente, em vez de beijar os pés descalços das imagens de barro, começava a ouvir a palavra do Senhor e começava a dar, a dar, a dar... a dar tudo o que têm até ficar sem nada, isto é que ia ser uma revolução!

Mas isto vai lá! Para já o novo papa renunciou aos sapatos vermelhos e não sou daqueles que dizem que foi porque lhe davam um ar gay. Toda a gente sabe que os sapatos pretos são mais baratos que os vermelhos!

Não quero ver ninguém crucificado! Quero apenas que me dêem a minha parte, que repartam! Dizem: não se pode repartir porque não há! Vamos lá! Um cristão não engana outro! Digam-me lá onde é que foram comer ontem à noite?!

11 comentários:

jrd disse...

Eles preferem aleijar-te sem te crucificar.

Maria disse...

Valha-me este blog para me fazer gargalhar em dias tão cinzentos e cheios de água...

Abraço sorridente.

O Puma disse...

Com tantas taxas

mesmo assim não poupam nos pregos
mas isto não vai ficar assim

já cheira

Rogério G.V. Pereira disse...

Dor? Como bom cristão deviasaber a canção que alivia a dor da crucificação

Olinda disse...


Se aqueles que eu gostaria de ver crucificados,o fossem,a Selva Amazonica,seria extinta.

Maria disse...

Conhece a história do cobrador de impostos que queria porque queria à força toda dar-se de amigo com Jesus ?...
Os apóstolos diziam - Senhor, enlouqueceste, este homem é um ladrão, ele leva os impostos e tudo o que o povo tem, por imposição, por causa dele o povo sofre, o povo sofre fome ...
E Jesus voltou-se para o dito e disse-lhe : vai devolve tudo o que tiraste e depois segue-me. É preciso nascer de novo ...

Ora um Cristo que diz estas coisas só podia ser cruxificado todos os anos e grande sorte ser só pela páscoa .... Abraço !

Compadre Vicente leu no DN e disse...

A única justificação plausível para a longa entrevista do eng. Sócrates à RTP passaria pela apresentação formal de um pedido de desculpas pelos erros cometidos em seis anos de desmiolada governação. Passou-se exactamente o contrário: o homem continua impermeável à realidade, não admitiu um só erro e distribuiu culpas por tudo o que se movia e move em seu redor. Portugal está como está graças à crise internacional, à Lehmann Brothers, a Cavaco Silva, ao actual Governo, ao "Correio da Manhã" e aos biltres sortidos que teimam em difundir "narrativas" (sic) mentirosas sobre a excelsa competência e personalidade do ex-primeiro-ministro. Ele acerta sempre, logo, por definição, os que dele discordam falham sempre.

Convém reconhecer que, apesar de intrinsecamente tontas, na prática estas alucinações funcionam. Não obstante a brutal inépcia de que já deu provas, o eng. Sócrates continua a dispor de um número considerável de seguidores fervorosos. Pior: mesmo entre os adversários há quem lhe atribua o tipo de características que constituem o chamado "carisma", virtude exaltada em sociedades primitivas e que quando não suscita veneração suscita uma espécie de asco respeitoso. Ou medo. Donde as expectativas de índole diversa fomentadas pelo regresso da criatura e o sucesso de audiências do regresso propriamente dito.

Perante isto, impõe-se uma questão: as pessoas andarão maluquinhas? Bem espremido, o eng. Sócrates merece tanta consideração quanto o título que precede o nome. Em matéria de ridículo, demonizá-lo equivale a beatificá-lo, no sentido de se lhe dar a importância que ele evidentemente não possui. O mito do "animal feroz", que o próprio mitómano inventou a ver se colava, colou de facto e tornou-se um dado adquirido a fiéis e a inimigos, os quais deveriam parar para pensar no exagero em que incorrem.

Descontado o folclore alusivo, a que se resume afinal o eng. Sócrates? A pouquito, uma mediocridade arrogante e uma calamidade política que subiu na carreira à custa de manha, sorte e atraso de vida. Foi justamente o atraso de vida que proporcionou o típico encanto de alguns face à prestação televisiva da passada quarta-feira.

Não importa que o eng. Sócrates tenha passado a entrevista a exprimir-se em língua-de-trapos (repetiu em 57 ocasiões a palavra "narrativa", nenhuma no contexto adequado), a contar mentirolas cabeludas, a desfilar desfaçatez e a exibir impertinência perante jornalistas aliás meigos. Não importa que compare uma dívida pública agravada em prol da propaganda eleitoral com os empréstimos necessários para atenuar os efeitos da bancarrota que a propaganda provocou. Não importa que explique o luxo de Paris com uma dívida privada e hilariante. Não importa que, com a discutível excepção do ataque às trapalhadas do PR, a prestação do eng. Sócrates roçasse o patético. Importa insistir que o "animal feroz" se mostrou preparadíssimo e mantém uma relação privilegiada com as câmaras. Mário Soares considerou a entrevista "brilhante" e, notoriamente excitado, um antigo funcionário do portento proclamou: "Sócrates ama a televisão e a televisão ama Sócrates."

Seria cruel interromper o idílio, que de resto prosseguirá em doses semanais a partir de Abril. Os fiéis do eng. Sócrates aproveitarão para se deliciar com o exercício e os que vêem no sujeito a origem do Mal poderão entreter-se a exorcizá-lo. Pelo meio, é possível que, programa após programa, laracha após laracha, uns tantos ganhem bom senso e comecem a reduzir aquela lamentável figura à sua verdadeira dimensão, a de um vendedor de patranhas que, orientado pela vaidade, fundamentado na inépcia e sustentado por pasmados e oportunistas, ajudou mais do que qualquer outro a arruinar o país. Sendo certo que os estudos em Paris não ensinaram nada ao eng. Sócrates, talvez os portugueses que por cá pagam a factura do seu intelecto aprendam uma ou duas coisinhas.

Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"~

Compadre Vicente

Alberto Cardoso disse...

Tenho saudades da M A R I A! Ninguém consegue substituir a verdadeira M A R I A. Tentativas de imitação por alegada procuração, não convencem. Se desistiu é uma pena, uma profunda pena; se está doente que os deuses olhem por ela, a curem e a tragam de novo. Os comentários oportunos, inteligentes e com uma graça fina, reveladores de uma sensibilidade ímpar, eram uma mais valia deste blogue.
Por isso lhe chamei doce Maria.
Que a doce Maria regresse é um profundo desejo que aqui deixo expresso.
Alberto Cardoso

José Gonçalves Cravinho disse...

A propósito cito aqui um poema de Guerra Junqueiro com o título de PARASITAS

No meio duma feira,uns poucos de palhaços/andavam a mostrar em cima dum jumento/um aborto infeliz,sem mãos,sem pés,sem braços/aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões,hipócritas, devassos/exploravam assim a flor do sentimento/e o monstro arregalava os grandes olhos baços/uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos/deram esmola até mendigos quase nus/e eu ao ver este quadro, apóstolos romanos/eu lembrei-me de vós,funâmbulos da Cruz/que andais pelo universo há mil e tantos anos/ exibindo,explorando o corpo de Jesus.

do Zambujal disse...

Eh, pá!... não se faz.
Estava eu, todo em gozo e desfrute de nada fazer, a ler o teu texto, eis senão quando tropeço naquela dos sapatinhos vermelhos! Eh, pá!... não se faz.
'Inda estou engasgado e com as lágrimas nos olhos.
Não se faz...

Um grande abraço

francisco disse...

Simplesmente fantástico. Estou sem palavras.